Título: Arrecadação avança 9% e surpreende
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2012, Economia, p. 13

Às vésperas de um novo arrocho, o governo vê alta inesperada das receitas com tributos em janeiro. Todos esperavam redução

O governo não quer fazer alarde, em um momento que discute um pesado corte no Orçamento deste ano. Mas dados preliminares elaborados pelo secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, e apresentados na última segunda-feira, na reunião da junta orçamentária, indicam aumento de 9% na receitas com impostos sobre os R$ 91 bilhões arrecadados no primeiro mês de 2011. Os dados oficiais só deverão ser divulgados depois do Carnaval, segundo a assessoria de Barreto.

As estimativas da Receita supera as do mercado financeiro, que alerta para que o governo tenha cautela nos gastos públicos neste ano, quando a economia deverá crescer bem abaixo dos 4,5% previstos pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Essas projeções estão otimistas, mas, como sempre, a arrecadação surpreende. A gente nunca sabe", comentou o economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências. Ele prevê aumento de 7%, na comparação anual, na arrecadação de janeiro, chegando a R$ 97,5 bilhões.

Atividade Para todo o ano, Salto estima elevação nominal de 8,3% e real de 2,7% no total de tributos federais recolhidos aos cofres do Tesouro Nacional, chegando a R$ 1,05 trilhão. No entanto, ele fez um alerta: "Em 2012, as receitas não serão tão surpreendentes. Tudo dependerá do comportamento da economia", completou. A seu ver, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá avançar algo com 3%, aquém do desejado pelo governo.

A junta orçamentária, composta pela Casa Civil e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento, vem se reunindo para apresentar, até o próximo dia 17, o valor do corte no Orçamento deste ano. A previsão inicial era de que a tesoura atingiria R$ 60 bilhões, mas o aperto poderá ser menor, ficando mais próximo dos R$ 50 bilhões do ano passado. Uma arrecadação maior ajudaria o governo a fazer um contingenciamento menor do que o do ano passado. "Mas precisará de um corte de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões para conseguir atingir a meta cheia do superavit primário, de 3,1% do PIB", comentou Salto.

O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, também recomendou parcimônia nos gastos públicos, mesmo que a arrecadação fique acima do previsto. "As receitas com tributos ainda são um ponto de interrogação, pois não se sabe o tamanho da parcela considerada extraordinária", assinalou. Ele estimou que, caso a atividade se recupere, a arrecadação tenderá a reagir.