Apontado pela investigação como possível “laranja” do apartamento usado pelo ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo (SP), o empresário Glaucos da Costamarques disse ontem ao juiz Sergio Moro que José Carlos Bumlai, amigo do petista, era quem o ressarcia pelos impostos referentes aos aluguéis. Segundo a Lava-Jato, o imóvel foi adquirido por meio de pagamentos de propinas da Odebrecht em contratos da Petrobras. Com voz mansa e fala arrastada, Costamarques falou por pouco mais de meia hora. Ele reiterou a versão de que não recebia o aluguel e que apenas assinou recibos para dar lastro às declarações de imposto de renda. Para a Força Tarefa da LavaJato, os recibos são falsos.

O empresário confirmou que assinou todos os recibos de aluguéis de 2015 de uma só vez, enquanto estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Segundo ele, as assinaturas foram colhidas pelo contador João Muniz Leite, que faz as declarações de imposto de renda para a família de Lula e também trabalha para o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. — Ele (Bumlai) falou: eu vou ressarcir esse imposto para você porque eles vão declarar que pagaram o aluguel, e você vai ter que declarar que recebeu o aluguel — disse. Glaucos contou que via os aluguéis como uma forma de receber o valor que investiu no imóvel a pedido de Bumlai. No entanto, após não receber os dois primeiros pagamentos, foi conversar com seu primo. — Fui falar com o José Carlos que não me pagaram. Ele falou para eu esquecer o aluguel.

Moro questionou Costamarques sobre uma contradição em outro depoimento à Justiça em que o empresário citou uma visita de Roberto Teixeira no hospital, logo após a prisão de Bumlai, em dezembro de 2015. Moro pediu ao Sírio os registros de entrada e não há menções de visitas de Teixeira. Para Costamarques, o hospital falhou: — A manicure que entrou para fazer a unha da minha filha, (no registro consta que) ela entrou em um dia e saiu no outro. O senhor acha que ele ficou cinco dias no hospital? — disse Costamarques a Moro. Após a fala de Costamarques, depôs João Muniz Leite, o contador de Lula. Ele falou por cerca de uma hora e acabou caindo em contradição ao ser questionado por Moro sobre como tinha acesso aos recibos referentes ao aluguel. O contador havia declarado anteriormente que recebia os recibos das mãos de Costamarques entre 2011 e 2015. Desta vez mudou a versão e disse que que “na realidade” entre 2011 e 2013 não recebia os recibos de Costamarques, mas apenas a “informação” sobre aluguéis para preencher o Imposto de Renda de Lula. — Eu me equivoquei nesse ponto aí — disse a Moro. A defesa de Lula disse que os depoimentos comprovaram que os recibos são autênticos e foram emitidos por Glaucos com declaração de quitação em favor da ex-primeira dama Marisa Letícia.