Título: Enfim, sai o acordo grego
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Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2012, Economia, p. 14/15
Após muitos adiamentos, líderes políticos do país alcançam termo comum e abrem caminho ao empréstimo que evitará um calote
Os líderes políticos gregos alcançaram ontem um acordo sobre o programa de ajustes que o país terá de fazer para obter novo pacote de ajuda dos organismos financiadores. A reação dos sindicatos da Grécia foi imediata: chamaram a população a protestar contra os cortes orçamentários. As duas principais centrais — Adedy (empregados públicos) e GSEE (privados) — convocaram uma nova greve geral para hoje e amanhã, depois de já terem levado 20 mil pessoas às ruas de Atenas. A organização comunista Pame convocou os gregos a saírem às ruas já na noite de ontem.
O governo confirmou o sucesso das negociações, por meio de comunicado emitido pelos assessores do primeiro-ministro, Lucas Papademos. "Há um acordo geral sobre o conteúdo do novo programa", diz o texto, indicando que, com isso, abre-se a porta para o desbloqueio do segundo lote de resgate do país, de 130 bilhões de euros, que está pendente desde outubro. Atenas negocia com prazos apertados, pois no próximo 20 de março enfrenta vencimentos de obrigações de 14,5 bilhões de euros, cujo não pagamento implicará na declaração de um calote.
O documento informa que os três partidos de governo (socialista, conservador e de ultradireita) chegaram a um termo comum "sobre um ponto deixado em suspenso na reunião da noite anterior referente à amplitude e ao detalhamento dos cortes previstos nas aposentadorias. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, havia confirmado o acordo pouco antes, em uma coletiva de imprensa em Frankfurt.
Após o anúncio, o ministro grego de Finanças, Evangelos Venizelos, disse que "a Grécia chegou a um acordo também com seus credores privados sobre os principais parâmetros" do perdão da dívida do país. Venizelos pediu aos colegas da Zona do Euro que aprovem o acordo sobre as medidas de rigor exigidas por Bruxelas para que seja liberado o novo lote de ajuda ao país, considerado crucial para evitar sua quebra. "Após o acordo anunciado na Grécia, precisamos agora do aval do Eurogrupo para a etapa final", disse, em sua chegada a Bruxelas.
A Zona do Euro "estuda a possibilidade" de criar uma conta bloqueada, destinada ao reembolso da dívida grega, informou nesta quinta-feira o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn, ao final da reunião do grupo. Antes do encontro, o chefe do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, afirmou que ainda "há muito a ser esclarecido" antes da liberação do novo lote de ajuda à Grécia, após o anúncio do acordo grego sobre as medidas suplementares de rigor.
Desemprego Os sindicatos, assim como numerosos políticos e analistas, consideram que os ajustes só podem agravar a situação de um país que entra em seu quinto ano de recessão e que superou, em novembro, 1 milhão de desocupados (1,02 milhão), uma cifra em alta de 48,7% na comparação anual. Isso significa que, em novembro do ano passado, o desemprego afetava 20,9% da população economicamente ativa.
500 bi de euros para os bancos O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse ontem que a próxima operação de crédito aos bancos prevista para o fim do mês pode chegar a 500 bilhões de euros, valor próximo ao da vez anterior. Sobre essa segunda operação de empréstimos ilimitados a três anos, prevista para 29 de fevereiro, Draghi se apropriou dos prognósticos dos especialistas para dizer que o montante emprestado pelo BCE "pode estar em torno do volume anterior", de dezembro, quando o BCE emprestou 489 bilhões de euros aos bancos da Zona do Euro. Segundo Draghi, o objetivo da medida é favorecer a concessão de créditos. "Os resultados da primeira operação não alcançaram os objetivos", admitiu ele. "Contudo, precisamos aguardar um pouco antes de julgarmos a eficácia dessa medida excepcional", acrescentou. Ontem, o BCE manteve a taxa de juros básica em 1%, o nível mais baixo da história.