Preso, Geddel amplia lista de 'bombas' para Temer

Luísa Martins e Murillo Camarotto

04/07/2017

 

 

O ex-ministro Geddel Vieira Lima foi preso ontem à tarde pela Polícia Federal. Ele é acusado de atuar para obstruir investigações da Operação Cui Bono, que apura um esquema de pagamento de propina em contratos de financiamento da Caixa Econômica Federal. Realizada em Salvador, a prisão preventiva foi autorizada pelo juiz Vallisney de Souza, da 10ª Vara Federal de Brasília. O ex-ministro deverá ser transferido hoje para a capital federal.

Na decisão, Vallisney sustenta que prender Geddel é necessário para evitar a destruição de provas. "Solto, poderá escamotear/esconder esse dinheiro recebido em espécie ainda não localizado, pelas suas apontadas condutas indevidas, fazendo-se necessária também aqui a prisão cautelar para que a decisão não possa 'cair no vazio'", diz o juiz.

Também foi considerado "gravíssimo" o fato de Geddel ter procurado insistentemente a esposa do operador Lúcio Bolonha Funaro, que está preso, para obter informações sobre as tratativas dele para um acordo de delação. "Não é a primeira vez que Geddel Vieira tenta persuadir", diz a decisão, ao mencionar relato feito pela PF. Nas mensagens trocadas entre Geddel e a mulher de Funaro, o ex-ministro era identificado como "carainho".

De acordo com o Ministério Público, Geddel tentava evitar que tanto Funaro quanto o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também está preso, firmassem acordo de colaboração. "Para isso, tem atuado no sentido de assegurar que ambos recebam vantagens indevidas, além de monitorar o comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o acordo".

O juiz Vallisney não autorizou buscas nos endereços de Geddel, alegando que isso já foi feito no passado. Mas determinou a apreensão dos celulares do ex-ministro, "pela necessidade de se buscar elementos quanto à sua atuação no que pertine a contatos com a esposa de Lúcio Funaro".

Ciente de que sua situação vinha se complicando rapidamente nas últimas semanas, Geddel movimentava-se para evitar a cadeia. Há três semanas, entregou o passaporte e colocou o sigilo bancário à disposição das autoridades. Também passou a monitorar os familiares de potenciais delatores, estratégia que acabou sendo decisiva para sua prisão.

Atrás das grades, ele se torna mais um candidato a "homem-bomba" para o governo do presidente Michel Temer, ao lado dos ex-deputados Eduardo Cunha e Rodrigo Rocha Loures.

Afastado do governo Temer sob acusação de tráfico de influência, Geddel é suspeito de receber propina para direcionar empréstimos da Caixa a grupos empresariais na época em que era vice-presidente de pessoa jurídica do banco, entre março de 2011 e dezembro de 2013.

Segundo as acusações, Geddel atuava em sociedade com o ex-deputado Eduardo Cunha e o operador Lúcio Funaro, ambos presos, além do ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto. Entre os beneficiados pela quadrilha estão cinco frigoríficos (JBS, Seara, Bertin, Big Frango e Marfrig), além do Grupo Constantino, dos donos da companhia aérea Gol.

Cleto, que ocupou por indicação de Cunha a vice-presidência de fundos de governo e loterias da Caixa, foi quem forneceu as primeiras informações aos investigadores. Em meados do ano passado, ele fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.

Além desses relatos, laudos periciais feitos em aparelhos telefônicos evidenciaram trocas de mensagens nas quais Geddel e Cunha tratavam da propina. As conversas, identificadas a partir de 2012, tinham como tema a liberação dos empréstimos para as empresas mencionadas e o acerto das vantagens indevidas.

Outras evidências contra Geddel vieram do depoimento de Funaro, que diz ter pago ao ex-ministro cerca de R$ 20 milhões em dinheiro vivo. Funaro também disse que Geddel recebeu propina em quase todos os empréstimos liberados pela Caixa ao grupo J&F, informação confirmada por Joesley Batista.

Em nota, a defesa de Geddel informou não ter compreendido a decisão, classificou a medida de "absolutamente desnecessária" e disse que o ex-ministro agora deposita a sua integridade física nas mãos da autoridade policial. "Decerto, diante da ausência de relevantes informações para sua decisão, inexplicavelmente não relatadas na representação policial, a autoridade judiciária infelizmente laborou em erro", anotou o advogado Gamil Föppel, argumentando que Geddel já havia se colocado à disposição das autoridades e foi "injustamente enredado" na Operação Cui Bono.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4289, 04/07/2017. Política, p. A6.