Aécio volta ao Senado após um mês e meio

Fabio Murakawa e Vandson Lima

04/07/2017

 

 

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) retorna nesta terça-feira ao Senado com sua situação indefinida à frente da presidência do partido, cargo que vem sendo exercido interinamente por Tasso Jereissati (CE). Ele estava afastado desde o dia 18 de maio por decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas teve a suspensão do mandato revogada na sexta-feira passada pelo ministro Marco Aurélio Mello, que também negou um pedido de prisão contra Aécio feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A decisão teve efeito imediato, mas na tarde de ontem, seu gabinete estava quase vazio.

Aécio deve fazer um discurso em plenário e, segundo colegas, ainda avaliava o tom do pronunciamento. Ontem à noite, receberia a visita em sua casa de alguns colegas de partido, como o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC).

Ao Valor, Bauer disse que a situação da presidência do partido pode começar a se definir no almoço semanal da bancada no gabinete de Tasso, que tradicionalmente ocorre às terças-feiras. O mandato de Aécio à frente da sigla só termina em maio do próximo ano. O senador mineiro preside o PSDB desde 2013.

O almoço pode não ocorrer por conta da morte de um cunhado de Tasso, Edson Queiroz, ontem em Fortaleza. Até ontem à tarde, no entanto, o almoço não havia sido cancelado.

Segundo um dirigente da sigla, espera-se que Aécio Neves faça o primeiro movimento sobre como ficará sua situação na presidência do PSDB. Há uma tensão visível entre os tucanos, conta, com a possibilidade de a situação de Aécio contaminar todo o partido.

Compartilham essa percepção os chamados "cabeças pretas" - deputados e a ala mais jovem da legenda - e figuras importantes, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria, ambos citados como presidenciáveis.

Tasso, por sua vez, gostaria continuar à frente do partido. Ele tem também, além disso, uma preocupação de outra ordem: uma vez efetivada a sua situação de presidente do PSDB, ele quer mudar os rumos e afastar a legenda do governo Temer.

A volta de Aécio, o maior defensor da aliança com o governo, coloca tal plano em xeque.

Em outra frente, Aécio terá que batalhar no Conselho de Ética para manter o mandato. Ontem, o presidente do colegiado, João Alberto (PMDB-MA) disse que se reunirá com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) para definir a data da sessão em que o órgão deliberará sobre o recurso da Rede e do PSOL contra o arquivamento do processo que pede a cassação de Aécio.

Há cerca de dez dias, João Alberto arquivou monocraticamente o processo contra o senador mineiro. À época, disse que o pedido "não me convenceu" e que "o que fizeram contra ele foi uma grande injustiça".

Ontem, ele disse que "foi um ponto positivo o Supremo reconhecer que o afastamento do mandato foi indevido por não ter previsão constitucional".

Líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ) promete ficar atento ao discurso de Aécio. Segundo ele, o senador deve "voltar pianinho". Ele lembrou do atitude de Aécio, logo depois de sua derrota para Dilma Rousseff nas eleições de 2014, afirmando que o PT era uma "quadrilha criminosa" e "se colocando como defensor da ética".

O petista prometeu fazer apartes ao discurso de Aécio "para relembrar sua atitude durante esse período".

 

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4289, 04/07/2017. Política, p. A7.