O Estado de São Paulo, n. 45190, 09/07/2017. Política, p. A8. 

 

‘Estou tranquilíssimo’, afirma Temer

Célia Froufe

09/07/2017

 

 

Presidente faz sinal de positivo ao deixar o encontro do G-20 em Hamburgo, na Alemanha, mas antecipa volta ao País por causa da crise política

 

 

Apesar da perda de apoio entre integrantes da base aliada no Congresso durante viagem oficial à Alemanha, o presidente Michel Temer afirmou ontem que estava “tranquilíssimo” para voltar ao País. Ele deu a declaração a jornalistas quando saía do hotel em que se hospedou, em Hamburgo, durante os eventos oficiais da cúpula de líderes do G-20, grupo das 20 economias mais ricas do globo. Ao falar que estava “tranquilíssimo”, o presidente fez sinal de positivo com as duas mãos.

No entanto, a passagem de Temer no evento da Alemanha foi meteórica. O presidente ficou apenas 30 horas na cidade e antecipou sua volta ao Brasil por causa da crise política. Temer decolou ontem às 12h25 no horário local (7h25 de Brasília).

 

‘Paz’. Ao deixar o hotel Le Meridien, o presidente foi questionado sobre sua estratégia de atuação quando retornasse da viagem. Ele voltou a relacionar o governo à pauta econômica. “Vou continuar trabalhando pelo País, fazendo a economia crescer, como está crescendo, sem nenhum problema, e fazendo com que todos fiquem em paz”, afirmou.

Na sexta-feira, Temer havia dito que confia na lealdade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se tornou uma aposta para substituir o peemedebista caso ele seja afastado do cargo.

Também durante agenda oficial fora do País, na sexta-feira, Maia, primeiro da linha sucessória da Presidência, afirmou na Argentina que será sempre correto com Temer.

 

Otimismo

“Vou continuar trabalhando pelo País, fazendo a economia crescer, sem nenhum problema, e fazendo com que todos fiquem em paz.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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A aliados, presidente diz que vai até o fim

Tânia Monteiro / Thiago Faria

09/07/2017 

 

 

Com a situação política se deteriorando, ameaças de debandada da base e até movimentações de aliados indicando apoio a Rodrigo Maia (DEM-RJ) em uma eventual substituição no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer disse a interlocutores que vai até o fim. Fez isso na quarta-feira passada, em reunião ministerial convocada de última hora, e reiterou na quintafeira, antes de embarcar para a reunião do G-20, na Alemanha.

Para manter o discurso, Temer tem se apoiado na agenda econômica e, principalmente, vai trabalhar uma pauta positiva no Senado nesta semana, que inclui a votação da reforma trabalhista.

A semana será decisiva para Temer. Assim que chegar da Alemanha, o presidente já avisou que pretende reunir ministros e líderes de bancadas. O objetivo será traçar estratégias para assegurar os votos dos deputados nas votações da denúncia contra ele na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário da Câmara. Temer é o primeiro presidente denunciado no exercício do cargo. Ele é acusado de corrupção passiva.

O presidente vai telefonar para os deputados, até mesmo os que já sinalizaram votar a favor da admissibilidade da denúncia.

O Planalto assegura que tem os votos para impedir o prosseguimento da ação proposta pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mas teme as tradicionais traições.

Enquanto a Câmara está parada à espera da votação sobre a denúncia, Temer pretende usar temas como a aprovação da reforma trabalhista e o anúncio do Plano Safra de 2018, previstos para terça-feira, para vender a ideia de normalidade.

 

12 DIAS DE TENSÃO

● Como a situação política do presidente, mesmo com alguns fatos positivos, se agravou no curto período

NEGATIVA

POSITIVA

NEUTRA

 

NEGATIVA

26/6

SEGUNDA-FEIRA

Presidente denunciado

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresenta a primeira das três denúncias que pretende fazer contra Michel Temer. Nela, o presidente é formalmente acusado de corrupção passiva

 

NEUTRA

A escolha da nova PGR

O presidente escolhe a subprocuradora Raquel Dodge para chefiar a Procuradoria-Geral da República. É criticado por optar pela segunda da lista tríplice, mas a escolha é bem aceita até mesmo pela oposição no Congresso. Vários parlamentares são investigados na Lava Jato.

Raquel é considerada opositora ao atual procurador Rodrigo Janot dentro da instituição

 

POSITIVA

Troca de líder

Crítico das reformas e do governo Temer, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deixa a liderança do PMDB no Senado.

Raimundo Lira (PMDB-PB), mais alinhado ao Planalto, assume o cargo

 

28/6

QUARTA-FEIRA

POSITIVA

Vitória no Senado

O governo consegue uma importante vitória no Senado ao aprovar a reforma trabalhista na CCJ. A medida é uma das bandeiras da gestão de Michel Temer

 

29/6

QUINTA-FEIRA

POSITIVA

Boa notícia na economia

Governo baixa a meta de inflação para 2019 e 2020. A medida é bem vista por setores do mercado, que, apesar da crise política, mantêm o apoio ao presidente

 

30/6

SEXTA-FEIRA

POSITIVA

Fiador do PSDB de volta

Aécio Neves é autorizado a retornar ao Senado. O tucano é o principal fiador da permanência do PSDB na base de sustenção do governo

 

 

POSITIVA

Aliado livre

O ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures tem a prisão revogada. A decisão é comemorada no Planalto, que via pressão para que ele se tornasse delator

 

NEGATIVA

Má noticia na área social

Com a piora nas contas, o governo suspendeu o reajuste previsto no Bolas Família a partir de julho. A decisão é usada por opositores para atacar Temer

 

NEGATIVA

PSDB ameaça desembarcar

A pressão para que o PSDB deixe a base de Temer cresce. O presidente interino da sigla, Tasso Jereissati, diz que a posição "é cada vez mais clara" pela saída do governo

 

5/7

QUARTA-FEIRA

POSITIVA

Agrado à base no Congresso

Ao mesmo tempo, Temer libera R$ 1,8 bilhão em emendas parlamentares no mês de junho, conforme revelou o Estado. O objetivo é agradar sua base aliada

 

4/7

TERÇA-FEIRA

NEGATIVA

'Independente'

Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) é escolhido relator da denúncia contra Temer na Câmara. Apesar de ser do mesmo partido do presidente, ele afirma que adotará postura independente

 

3/7

TERÇA-FEIRA

NEGATIVA

Ex-ministro preso

A Polícia Federal prende o ex-ministro Geddel Vieira Lima, amigo de longa data do presidente. A notícia enfraquece Temer, que vê o cerco se fechar sobre seus aliados

 

 

POSITIVA

Busca de agenda positiva

Pelo segundo dia consecutivo, Temer se reúne com uma série de parlamentares, a maioria deputados, para tentar barrar a denúncia na Câmara. À noite, convoca reunião ministerial de emergência antes de embarcar para a Alemanha

 

POSITIVA

Rito da denúncia

O presidente da CCJ da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), anuncia o rito da análise da denúncia. A previsão é de que a votação só ocorra em agosto. A dilatação do prazo incomoda o Planalto

 

6/7

QUINTA-FEIRA

NEGATIVA

‘Ingovernabilidade’

Tasso Jereissati diz que o País “caminha para a ingovernabilidade” e faz um aceno ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao dizer que ele poderia garantir a governabilidade até 20

 

7/7

POSITIVA

SEXTA-FEIRA

‘Inoportuna’ Tucanos como o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, avaliam ser melhor o PSDB continuar no governo e rebateram Tasso. Para Nunes, “não poderia haver ocasião mais inoportuna para os recentes ataques de dirigentes”

 

As dúvidas que pairam sobre o presidente

Temer consegue barrar a denúncia na Câmara?

Com base sólida nos primeiros meses de governo, o presidente já não tem a mesma segurança de tentar barrar a autorização para que o STF abra denúncia contra ele. O placar na CCJ, onde ele precisa de 34 dos 66 votos dos titulares, está apertado

 

Qual o papel de Rodrigo Maia?

Primeiro na linha sucessória, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem emitido sinais de afastamento do Planalto. Embora seja próximo ao ministro Moreira Franco, sua atuação em relação à denúncia ainda enseja dúvidas

 

Haverá novas delações?

Enquanto tenta se livrar do tsunami de suspeitas causadas pela delação da JBS, Temer ainda se preocupa com possíveis delações de ex-aliados presos, como Lúcio Funaro e Eduardo Cunha

 

Resistir ou renunciar?

Em meio à crise política, o presidente sofre pressões até de aliados, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para renunciar. Por ora, sua posição, reafirmada a cada declaração, é de que vai resistir