Produção avança em maio e acumula alta de 0,5% no ano

Thais Carrança, Estevão Taiar, Robson Sales e Cristiane Bonfanti

05/07/2017

 

 

O crescimento de 0,8% da produção industrial em maio, na comparação com abril, na série com ajuste sazonal, reforçou a expectativa dos economistas de uma recuperação gradual para o setor no ano. No acumulado dos cinco primeiros meses de 2017, o resultado do setor está já em terreno positivo, com alta de 0,5%.

Na comparação com maio do ano passado, a expansão da produção foi mais forte, de 4%, o melhor resultado para o mês desde 2010. Embora alguns economistas acreditem que a crise política possa levar a uma retração na atividade industrial em junho, ainda assim, a contribuição do setor deverá ser positiva para o PIB do segundo trimestre.

Puxado pelos bens de capital e de consumo duráveis, com crescimentos de 3,5% e 6,7%, respectivamente, o avanço registrado na passagem mensal veio ligeiramente acima do esperado pelo mercado. A média das 26 projeções de instituições coletadas pelo Valor Data apontava para expansão de 0,7% na margem.

Essa é a segunda taxa mensal positiva seguida, o que resulta em crescimento de 1,9% entre abril e maio, o que elimina a queda de 1,6% observada em março, segundo o IBGE. O resultado de abril foi revisado de alta de 0,6% para 1,1%, na série dessazonalizada.

Por atividade, a principal influência positiva foi dos veículos, com avanço de 9%, devido à maior fabricação de automóveis e caminhões. Outras contribuições vieram de produtos alimentícios (2,7%) e produtos de limpeza e higiene pessoal (4%).

"É uma melhora de ritmo, e eu não poderia enxergar diferente à medida que tenho duas taxas positivas seguidas", disse o gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo. "Mas é importante relativizar, em função das perdas recentes do setor industrial, e mais do que isso, quando se observa o patamar de produção, ainda opera em patamares semelhantes aos de 2009."

Os dados de maio mostram que a indústria "tateia" o fundo do poço e deve continuar em recuperação gradual, na avaliação da Rosenberg Associados, para quem os números divulgados ontem pelo IBGE ratificam a expectativa de estabilidade do PIB no segundo trimestre do ano, ante o primeiro.

"A recuperação da produção industrial deverá ocorrer de forma ainda gradual, o que se traduzirá em maior erraticidade dos dados de alta frequência", escreveu a consultoria em relatório. "De todo modo, a sinalização é de que teremos novo avanço da indústria na margem no segundo trimestre do ano, em relação ao primeiro."

Para Patrícia Pereira, economista da Mongeral Aegon Investimentos, a instabilidade deverá ser percebida já em junho. "O resultado de maio foi muito positivo e bastante disseminado. Se não houvesse crise política, poderia ter uma tendência para os próximos meses bastante forte", avalia. "Mas esse bom momento foi abortado depois dos áudios envolvendo o presidente. Infelizmente, estamos olhando um dado pelo retrovisor."

A Mongeral estima para junho queda da produção industrial em proporção semelhante ao avanço de maio. Para o PIB, a empresa projeta um segundo trimestre negativo em 0,2%, em relação ao trimestre anterior e com ajuste sazonal, por causa do desempenho negativo do setor de serviços e de um desempenho agrícola mais fraco do que no primeiro trimestre.

Segundo Patrícia, é fundamental que as reformas trabalhista e da Previdência passem para que o empresariado volte a ficar confiante e a investir. "Mas, no cenário atual, não parece que haverá reforma da Previdência nem neste ano, nem no próximo. Deve ficar só para o próximo governante, que começaria a tocar alguma coisa em 2019", diz.

Para Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, nos próximos meses a indústria deve, "lenta, mas gradualmente", se beneficiar da estabilização da economia, queda das taxas de juros e virada no ciclo de estoques. "No entanto, o recente aumento das incertezas políticas pode mudar o cenário para a demanda final (principalmente investimentos) e para o setor industrial", disse Ramos, em relatório.

Além da incerteza política, a volatilidade da produção industrial no restante do ano deverá ser influenciada pelo real ainda elevado, crédito restritivo, demanda interna enfraquecida, fim do efeito pontual dos saques das contas inativas do FGTS e ociosidade industrial ainda elevada, segundo Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis Consultoria. "Isso demonstra que ainda não é possível afirmar que estamos numa trajetória de recuperação pujante, mas sim, muito lenta e gradual", afirma.

Apesar da cautela do mercado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse no Twitter que o "maior investimento em máquinas e equipamentos representa aposta de consumo mais forte no médio e longo prazos. "[A] recuperação do setor de bens de capital em maio mostra que o país está voltando a investir na ampliação de sua capacidade produtiva", escreveu o ministro.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4290, 05/07/2017. Brasil, p. A3.