Desemprenho corrobora cenário do Banco Central de retomada gradual

Alex Ribeiro

05/07/2017

 

 

Dados como a alta de 0,8% na produção industrial em maio reforçam o diagnóstico do Banco Central de que a economia brasileira tenha se estabilizado desde o fim do ano passado, depois de uma queda acumulada de quase 7% no Produto Interno Bruto (PIB).

Apesar das incertezas políticas causadas pela delação dos irmãos Batista, da JBS, o cenário mais provável traçado pelo Banco Central continua sendo o de uma recuperação gradual nos próximos trimestres.

Em fins de 2016, o BC chegou a ter dúvidas sobre a sua leitura de que a economia havia parado de encolher. Mas os dados divulgados a partir de então confirmam que, no caso da indústria, o volume de produção achou um piso e flutua em torno dele, com dados positivos e negativos.

Nos serviços, houve sinais de fraqueza na virada do ano, mas informações mais recentes corroboram a tese de estabilização. A agricultura teve um comportamento muito bom, embora com efeito concentrado no primeiro trimestre.

Enquanto o mercado reviu para baixo a sua projeção de crescimento econômico para 2017 - que atualmente está em 0,39% - o Banco Central a manteve em 0,5% em seu Relatório de Inflação. Nesse documento, a autoridade monetária diz que, diante dos dados mais favoráveis, estava pronta para rever para cima os prognósticos. Mas decidiu aguardar, devido à maior incerteza criada pela delação dos irmãos Batista.

Para o BC, ainda é cedo para saber qual será o impacto da crise política nos indicadores de atividade, sobretudo para afirmar que haverá uma desaceleração. Mas as avaliações colhidas junto ao mercado financeiro sugerem que, depois de uma tendência natural de colocar o pé no freio nos primeiros dias depois da delação da JBS, as empresas retomaram os negócios no mesmo padrão de anteriormente.

Na entrevista de divulgação do Relatório de Inflação, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, citou uma série de fatores que devem sustentar a retomada gradual da economia: uma recuperação da renda real ao longo do tempo; a melhora do marcado de trabalho; a desalavancagem das famílias provocada pela liberação dos recursos do FGTS; e os efeitos da redução dos juros básicos. "Riscos sempre há", disse. "Mas estamos confortáveis com esse diagnóstico de que a economia se estabilizou e está em uma trajetória de recuperação gradual."

A leitura do BC sobre o impacto da crise política na inflação e, portanto, nos juros, também evoluiu desde 17 de maio, quando surgiram as primeiras notícias sobre a delação. Num primeiro momento, o BC afirmou não saber qual seria o efeito dominante, entre uma eventual aceleração de preços causada pela alta dos prêmios de risco e a força desinflacionária ligada à desaceleração na atividade. Nas últimas semanas, porém, o BC começou a trabalhar também com a hipótese de que essas duas forças se anulem.

Mesmo que se confirme o cenário mais benigno, de continuidade da retomada gradual da economia, não deverá haver repercussões sobre a estratégia de política monetária já sinalizada, que pelas projeções atuais de inflação permitiria levar a taxa Selic a 8,5% ao ano nos próximos meses. Nos seus documentos oficiais, o BC tem enfatizado que o grau de ociosidade da economia permanece bastante elevado - e que o nível da atividade econômica é mais importante para determinar a inflação do que pequenas variações nos dados econômicos.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4290, 05/07/2017. Brasil, p. A3.