Transferência de Funaro aumenta probabilidade de acordo de delação

Murillo Camarotto e Luísa Martins

06/07/2017

 

 

O doleiro Lúcio Funaro foi transferido nesta quarta-feira para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. A mudança reforça a tese de que ele está perto de assinar um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Funaro estava há um ano na Penitenciária da Papuda, em Brasília. A transferência foi autorizada pelo juiz Vallisney de Souza, titular da 10ª Vara Federal de Brasília.

Em meados de junho, Funaro anunciou a troca de advogado, o que deixou mais clara sua intenção de delatar. Ele contratou o criminalista Antonio Figueiredo Basto, um dos maiores especialistas em delação do país.

Em depoimento recente, Funaro disse que sua família vinha sendo sondada pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, que estava preocupado com uma delação do doleiro. A ação de Geddel resultou em sua prisão, ocorrida na segunda-feira.

Funaro é considerado o principal operador do ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba. A expectativa é que a delação do doleiro complique ainda mais a situação do presidente Michel Temer.

Temer terá ainda de prestar depoimento à Justiça Federal do Distrito Federal em um processo que apura a suposta propina no Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal. A investigação tem como um dos réus o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que arrolou o presidente como testemunha de defesa.

Na terça-feira, o juiz Vallisney encaminhou a Temer uma lista contendo 22 questionamentos formulados pela defesa de Cunha. A Justiça estabeleceu dez dias para que o presidente envie suas respostas - o prazo é apenas uma sugestão "preferencial", isto é, Temer pode levar mais tempo se assim achar conveniente.

As irregularidades no FI-FGTS foram reveladas pela Operação Sépsis, da Polícia Federal, em julho do ano passado. O ponto de partida para as investigações foi a delação premiada do ex-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fábio Cleto. De acordo com ele, quando uma empresa solicitava financiamento com recursos do FGTS, a agilidade para a liberação do dinheiro dependia de pagamento de propina a ele, a Cunha e ao doleiro Lúcio Bolonha Funaro.

Réu no processo, Cunha questiona Temer sobre seu conhecimento acerca de oferecimento de propina ao seu atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, em troca de liberação de recursos do fundo. Pergunta, ainda, se foi o presidente o responsável por indicar Moreira à vice-presidência da Caixa, cargo que ocupou entre 2007 e 2010, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Temer também terá de responder se participou de algum encontro para tratar sobre os pedidos de financiamento, junto a Moreira e André de Souza, ex-integrante do conselho curador do FGTS. Outra reunião em que a presença de Temer é questionada é uma audiência com empresários da Odebrecht para tratar de doações eleitorais às campanhas de 2010, 2012 ou 2014. "Se a resposta for positiva, estava vinculada [a doação] a alguma liberação do FI-FGTS?", pergunta.

A lista foi elaborada em 2 de junho, mas só enviada esta semana. Cunha também indicou como testemunhas o próprio Moreira e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Os advogados do primeiro solicitaram que as respostas também fossem enviadas por escrito, mas o pedido foi negado.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4291, 06/07/2017. Política, p. A9.