Para Tasso, desembarque é 'tendência clara' no PSDB

Fabio Murakawa

06/07/2017

 

 

O PSDB deu ontem um sinal inequívoco de que está mais próximo de desembarcar do governo Michel Temer depois que o presidente interino do partido, Tasso Jereissati (CE), disse que essa tendência "está cada vez mais clara" dentro do partido. Tasso afirmou, entretanto, que isso não significa necessariamente que a legenda passará à oposição.

"O posicionamento é por um desembarque, não de oposição ao governo. Essa posição está ficando cada vez mais clara pelos fatos", afirmou o senador

Tasso está no comando do partido desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a suspensão do mandato de Aécio Neves (PSDB-MG), em 18 de maio. Aécio retornou ontem ao Senado, também por determinação do STF, mas segue afastado do da presidência da sigla.

Ambos têm posicionamentos opostos em relação ao governo. Enquanto Aécio sempre foi um defensor da aliança com Temer, Tasso tem há muito demonstrado preferir um afastamento.

Segundo Tasso, Aécio deu sinais anteontem, em seu discurso de retorno ao Senado, de que não quer deixar o governo. Mas, em sua opinião, nem mesmo uma eventual permanência de Aécio à frente do partido deve segurar o PSDB no governo Temer.

"Pelo discurso que ele [Aécio] fez, não [quer sair do governo], mas ele vai ter que orientar o partido", afirmou Tasso. "A posição do partido é cada vez mais clara. Não dá para controlar, as coisas vão acontecendo."

Aécio esteve ontem reunido em seu gabinete com um grupo de deputados tucanos. De volta após um afastamento que durou um mês e meio, constatou que, de fato, a tendência favorável a uma ruptura com o governo se fortaleceu muito dentro do PSDB. "Quem mudou de opinião, mudou favoravelmente ao desembarque", disse um deputado.

Outro parlamentar, que esteve no encontro com Aécio, afirmou que o senador "mais ouviu do que opinou" a esse respeito no encontro. "Eu tive a sensação de que ele está se convencendo de que o desembarque é inevitável", disse.

Segundo essa fonte, o partido deve dar uma demonstração clara nesse sentido na semana que vem, quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara votará a autorização prévia para o recebimento da denúncia contra Temer pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Dentro da bancada, espera-se que, dos sete tucanos membros do colegiado, pelo menos cinco votem contra o presidente. O placar mais esperado é 5 a 2 ou 6 a 1. Mas não se descarta nem mesmo um 7 a 0. "Se isso se confirmar, vai ser um vexame. Como é que um partido apoia um governo e vota tão fortemente pelo prosseguimento da denúncia?", diz a fonte que esteve com Aécio.

"Não dá para controlar como as coisas vão acontecendo", concordou Tasso. "Na CCJ, por exemplo, a gente não controla como as pessoas vão se posicionar. A grande maioria já está se posicionando."

Questionado sobre se o embate entre ele e Aécio a respeito de como se posicionar sobre o governo prejudicaria a unidade do partido, Tasso afirmou: "Unidade é uma coisa, unanimidade é outra".

Outro tema que o senador mineiro precisa resolver é a sua situação como presidente do partido. Ontem, Tasso disse que isso será definido até o fim da semana.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4291, 06/07/2017. Política, p. A10.