UE não define data para fazer oferta e pode atrasar acordo com Mercosul

Assis Moreira

07/07/2017

 

 

A União Europeia (UE) deixou claro ao Mercosul - Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - que pelo momento não tem "conforto político" para dizer quando fará sua nova oferta de liberalização, na negociação do acordo de livre comércio birregional, conforme o Valor apurou.

O Mercosul chegou a Bruxelas, nesta semana, pedindo para a UE antecipar sua oferta, prometida para outubro, para permitir que haja tempo para a negociação ser concluída em dezembro, em Buenos Aires. No entanto, o problema é político dentro da UE, com a persistente resistência de alguns dos membros em fazer concessões na parte agrícola. Isso tudo apesar da estratégia da Comissão, o braço executivo da UE, de acelerar acordos para conseguir acesso preferencial, com tarifa menor, para os produtos europeus face a concorrentes americanos e chineses.

O Mercosul tem insistido com os europeus que precisaria saber a data de apresentação da oferta pela UE, para se organizar e cumprir o prazo com sua própria oferta aos europeus e fechar as barganhas.

"O Mercosul está muito engajado no prazo de dezembro [para fechar o acordo], mas o fundamental é o conteúdo do acordo", afirmou ao Valor o embaixador Ronaldo Costa, diretor de Negociações Internacionais do Itamaraty.

Na prática, o que o Mercosul diz é que mais importante é um bom acordo do que um acordo rápido. O bloco está fazendo tudo para fechar a negociação em dezembro mas, se demorar um pouco mais, não haverá problema. Só que precisa que Bruxelas diga quando colocará na mesa sua oferta.

Na rodada de negociações em Bruxelas, que termina hoje, alguns esperavam alguma tensão, logo diluída quando os grupos começaram a trabalhar. Os textos com regras para facilitação de comércio e cooperação aduaneira foram concluídos. O grande imponderável persiste sendo a nova oferta europeia, na qual o que impacta é a agricultura.

Ao mesmo tempo, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, insistiu ontem que a Europa está mais e mais engajada globalmente, citando negociações à frente com o Mercosul, México, Nova Zelândia, Austrália e outros.

Tusk não poupou entusiasmo em entrevista com o primeiro-ministro japonês no anúncio do acordo comercial Japão-UE. Lembrou que Bruxelas tinha prometido que faria tudo o que estivesse em seu poder para concluir as discussões políticas e comerciais com os japoneses antes do G-20, e isso ocorreu.

Enquanto isso, os grupos de interesse continuam ativos. O setor industrial quer rapidamente o acordo com o Mercosul. Já o setor agrícola, principalmente os produtores de carnes, açúcar e etanol, usa todos os argumentos possíveis para bloquear a negociação.

Uma delegação brasileira continuará em Bruxelas na semana que vem, em contatos com diferentes grupos europeus, para manter a conclusão do acordo em bom espaço na agenda europeia.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4292, 07/07/2017. Brasil, p. A2.