Geddel nega obstrução à Justiça, chora e é mantido preso

Luísa Martins

07/07/2017

 

 

O ex-ministro Geddel Vieira Lima, detido em caráter preventivo desde segunda-feira, foi mantido preso pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, após uma audiência de custódia realizada ontem. "Mantenho o que coloquei na decisão, de que há indícios de autoria e materialidade quanto ao custodiado, sob o pressuposto da ordem pública", afirmou o magistrado.

O juiz determinou, ainda, que a mulher de Lúcio Funaro, Raquel Pitta, preste depoimento sobre as supostas ligações recebidas de Geddel, entre maio e junho, buscando sondá-la sobre a intenção do doleiro em firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). Como Raquel entregou à Polícia Federal (PF) "prints" das telas com o registro dos telefonemas, o aparelho celular dela também será periciado.

Depois de concluídas essas diligências (o prazo estipulado foi de três dias úteis), a possibilidade de converter a prisão em outras medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica, poderá ser revista, segundo o juiz: "Por enquanto, não estou seguro sobre as eficácias das providências alternativas."

A defesa do pemedebista argumentou que os autos do processo "afastam a ocorrência da prática de fatos puníveis" e citou o benefício concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RJ), acusado de corrupção e solto sexta-feira por decisão do ministro Edson Fachin. O juiz, no entanto, respondeu que os telefonemas "parecem um indício grave" de que houve interferência de Geddel para prejudicar o resultado do processo.

Perante o juiz, Geddel chorou e disse que a prisão lhe causou "surpresa": "Nunca tive nenhum problema. Coopero com a Justiça, sempre cooperei. Tenho a crença inabalável de que não tomei nenhuma atitude que pudesse, de longe, ser interpretada como embaraço à Justiça. Tenho o desejo de colaborar como maior interessado."

Ex-titular da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer, de quem é amigo, Geddel foi preso em Salvador, suspeito de obstruir as investigações da Operação Cui Bono, da Polícia Federal (PF). As apurações indicam pagamento de propina de empresas, entre elas a JBS, em troca de facilidades para a liberação de recursos do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), da Caixa Econômica Federal. O pemedebista foi vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco, entre 2011 e 2013, durante o governo de Dilma Rousseff, e teria participado do esquema junto ao ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da instituição, Fábio Cleto, também delator.

O advogado Gamil Föppel, que representa o ex-ministro, diz que, ainda ontem, colocaria à disposição das autoridades a senha do celular do ex-ministro, para checagem de mensagens e ligações. O sigilo telefônico já foi quebrado pela Justiça. O defensor assegura que o cliente não irá fazer acordo de colaboração premiada, "porque não há o que delatar".

Para o MPF, autor do pedido de prisão junto à PF, Geddel é um "criminoso em série" e participa de um "quadro perturbador de corrupção sistêmica". O ex-ministro está preso no complexo da Papuda, em Brasília. O procurador da República Anselmo Lopes, presente à audiência, reiterou ao juiz a necessidade da detenção cautelar.

Geddel negou ter cometido irregularidades. "Em nenhum instante, em nenhuma circunstância, de nenhuma forma. Posso lhe assegurar", frisou ao juiz. Ele também afirmou não manter, há mais de um ano, contato com o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu no mesmo processo. Negou, ainda, ter tratado com o empresário Joesley Batista, da JBS, sobre qualquer assunto relacionado às investigações.

Sobre o contato feito com Raquel Pitta, o ex-ministro alegou que, com os telefonemas, buscava "saber como estava a família" e que, se sondou sobre eventual delação premiada de Funaro, foi por "curiosidade, não para fazer pressão". O doleiro estima ter pago a Geddel cerca de R$ 20 milhões de comissão por operações viabilizadas na Caixa.

 

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4292, 07/07/2017. Política, p. A5.