Peso político e Lava-Jato são fatores de risco

Cristian Klein

07/07/2017

 

 

Um presidente muito jovem e "verde" (47 anos), de um partido pequeno que desidratou na última década e meia (DEM), e sobre quem recaem suspeitas perigosas pois foi citado na delação da Odebrecht. É assim que o cientista político Octavio Amorim, da FGV-Rio, avalia o perfil do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para traçar um prognóstico do que seria seu governo, caso Michel Temer caia: "A ilação mais fácil de se fazer é que será uma Presidência minimalista".

Ou seja, na melhor das hipóteses sob o ponto de vista da governabilidade, Maia conseguiria manter a agenda atual, mas sem capacidade para grande mudança. Faria a reforma trabalhista "possível" e o "mínimo do mínimo" da reforma da Previdência, ao aprovar apenas a idade mínima para a aposentadoria. Isso, do ponto de vista eleitoral para 2018, não seria garantia de que o crescimento da economia será retomado a ponto de dar popularidade aos partidos da base.

Logo, hipóteses piores não seriam menos prováveis. Para o PSDB, a chegada de Maia pode ser a senha para resolver sua "crise existencial" e ir de vez para a oposição, ainda que os tucanos deem apoio pontual às reformas. O dilema de hoje do dividido PSDB em relação a Temer continuará, caso Maia o substitua, afirma Amorim.

"Ele pode chegar muito cedo à Presidência. Ainda está muito 'verde'. A classe política e empresarial tem muitas dúvidas a respeito da estatura de Maia para enfrentar a crise", diz. Para o cientista político, a possível ascensão de Maia reacende o fator de instabilidade na crise política e econômica. "Estamos diante de uma incerteza radical, que cresceu mais ainda", aponta.

Isso porque, em primeiro lugar, não se sabem os compromissos que Maia terá - ou já está tendo - de assumir para ocupar a Presidência. Como não há uma eleição direta, com a transparência do programa de governo, os interesses defendidos se definem nos bastidores. Logo, o impacto sobre a política e a economia desses acordos é incerto.

De todo modo, e em segundo lugar, a substituição não se dará sem um estremecimento da base e, sobretudo, com Temer: "Vai haver um abalo no começo, é inevitável".

Amorim afirma que Rodrigo Maia, como o primeiro na linha sucessória, está numa situação muito semelhante a de Itamar Franco em relação a Fernando Collor, e de Temer diante de Dilma Rousseff, quando os ex-presidentes estavam às vésperas do impeachment e os vices não escondiam a ambição.

No primeiro momento, a alternativa é chamada para o meio do torvelinho, quando o inquilino do Planalto começa a se enfraquecer. Há uma relação de interdependência: quanto mais Temer se enfraquece diante da opinião pública e da classe política, mais Rodrigo Maia é levado e empurrado para ocupar o espaço previsto que seria o de um vice. "É uma lógica avassaladora da política. Quando há vácuo de poder, ele é preenchido", diz.

A fidelidade de Maia, demonstrada até agora, tem limites constitucionais, afirma. "Ele tem responsabilidade de se preparar. Ninguém organiza um ministério ou planeja diretrizes de governo do dia para a noite", diz.

No segundo momento do roteiro, aponta Amorim, haverá "a tensão entre o presidente que está caindo e o 'vice' que está subindo". Ou seja, tudo indica que Temer e Maia passarão pelo mesmo tipo de animosidade que houve entre Collor x Itamar e Dilma x Temer. "Haverá momentos de tensão e até de ódio muito grande", prevê, lembrando que Collor até bem pouco tempo ainda revelou o ressentimento em relação a Itamar Franco.

No caso de Maia, o conflito poderia ser minimizado pela presença do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, velho aliado de Temer e casado com a sogra do presidente da Câmara. Mesmo assim, Amorim duvida que o efeito das relações afetivas se sobreponham às constitucionais. "As segundas tendem a vencer", diz.

Em terceiro lugar, a instabilidade com Rodrigo Maia pode reviver o período recente, pelo avanço das investigações da Lava-Jato. O deputado teria recebido vantagens indevidas, de acordo com a delação de executivos da Odebrecht. "É uma bola que vai crescendo, como vimos com Dilma e Temer", afirma Amorim.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4292, 07/07/2017. Especial, p. A12.