O Estado de São Paulo, n. 45187, 06/07/2017. Política, p. A9

 

Lula diz que Maia está ‘se preparando para ser presidente’

Rafael Moraes Moura

06/07/2017

 

 

Em posse de Gleisi no PT, ex-presidente defende eleições diretas e afirma que chefe da Câmara vislumbra lugar de Michel Temer

Embora deseje o afastamento do presidente Michel Temer (PMDB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, ontem, que uma eventual substituição do peemedebista pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não é necessariamente uma boa notícia para a militância petista.

Segundo Lula, Rodrigo Maia “deve estar se preparando para ser o próximo presidente da República como seguidor do golpe, e não podemos achar que um golpista é melhor do que outro”.

“Golpista é golpista”, afirmou Lula, durante a posse da nova presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), em Brasília.

“A mudança que queremos é que o povo brasileiro volte a ter o direito de escolher o seu presidente.

Errando ou acertando, é o povo que tem o direito de tirar e colocar pessoas”, comentou o ex-presidente, numa cerimônia marcada por gritos de “Fora Temer”, “Liberdade pra Vaccari (em referência ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Lava Jato)” e “(José) Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro”.

“Ninguém quer mais o afastamento do Temer do que nós que estamos aqui. Queremos a saída do Temer e eleições diretas porque queremos fazer com que os trabalhadores continuem com seus direitos.” Ao comentar as investigações em curso no País, o petista afirmou não admitir que “alguém diga que o PT é contra o combate à corrupção”. “Somos contra que se faça pirotecnia, com meia dúzia de pessoas se achando donas da verdade”, disse, sem mencionar nomes.

Fraude. Nova presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) fez em seu discurso uma defesa enfática da candidatura de Lula ao Planalto em 2018. “Não pensem eles que a sentença de um juiz de primeiro grau vai inviabilizar o processo democrático deixando Lula fora das eleições. Uma eleição presidencial sem Lula não é eleição, é fraude à democracia”, afirmou Gleisi, ré perante o STF no âmbito da Lava Jato.

Antes da posse de Gleisi, Lula havia dito que “sonha” em construir um “bloco de esquerda progressista” para disputar as eleições em 2018.

Já a presidente cassada Dilma Rousseff, ao falar do processo que a levou ao impeachment, disse que a “história está sendo severa e implacável com os líderes do golpe” e todos seus apoiadores, citando Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). / COLABOROU DANIEL WETERMAN

Evento. Dilma e Lula participam da posse da senadora Gleisi Hoffman como presidente do PT

União

“Eu sonho em construir um bloco de esquerda progressista com PSB, PDT, PC do B e com outros partidos de esquerda e com personalidades dignas.”

Luiz Inácio Lula da Silva

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Justiça arquiva pedido de investigação contra FHC 

Fausto Macedo, Julia Affonso e Luiz Vassallo

06/07/2017

 

 

Delator Emílio Odebrecht havia relatado ‘indevidas vantagens’ a campanhas do tucano; segundo juiz, caso prescreveu

A Justiça arquivou o pedido de investigação envolvendo o expresidente Fernando Henrique Cardoso, com base no desmembramento da lista do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, a partir da delação do empreiteiro Emílio Odebrecht.

Em despacho assinado ontem, o juiz federal substituto da 8.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Márcio Assad Guardia, determinou o arquivamento do caso por reconhecer a prescrição da pretensão punitiva estatal – o Estado perdeu o direito de punir FHC porque o fato relatado é antigo.

“Decorridos mais de 10 anos das datas dos fatos, quais sejam, as campanhas eleitorais nos anos de 1993 e 1997 e não havendo causa interruptiva desse prazo até o presente momento, é de se reconhecer a prescrição”, decidiu o magistrado.

Segundo Flávia Rahal, advogada criminalista que defende o ex-presidente, além da prescrição, não há qualquer indício de que FHC tenha cometido algum crime ou recebido vantagens na campanha à Presidência da República em 1993 e 1997.

“O próprio Emílio Odebrecht inocenta na delação Fernando Henrique, ao declarar não ter constatado nada de ilícito”, afirmou a advogada. Segundo a petição enviada ao juiz pela defesa, isso fica evidenciado no depoimento do patriarca da empreiteira, que usa expressões como “não vi aí fato ilícito”.

Delação. O empreiteiro Emílio Odebrecht afirmou, em acordo de delação premiada, em abril deste ano, que pagou “vantagens indevidas não contabilizadas” às campanhas presidenciais de Fernando Henrique, de 1993 e 1997. Como ex-presidentes não têm foro privilegiado, o entendimento do ministro-relator da Lava Jato, Edson Fachin, foi de encaminhar a investigação para a primeira instância.