Título: Pedido de tropas
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 13/02/2012, Mundo, p. 12
Liga Árabe toma decisão inédita e pede envio de missão de paz da ONU para interromper "massacre" dos rebeldes pelas forças de Bashar Al-Assad. A entidade também defende novas sanções econômicas. Só ontem foram registradas mais 35 mortes
A Liga Árabe decidiu ontem, em reunião extraordinária realizada no Cairo, capital do Egito, apelar ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para que mande tropas à Síria, com o objetivo de iniciar uma missão conjunta. A drástica medida marca o fim da tolerância do grupo — que historicamente luta contra interferências externas nos países-membros — ao derramamento de sangue no país. Os embaixadores dos sete países-membros da Liga também pretendem retirar seus embaixadores de Damasco, capital síria. Além disso, o grupo pede mais sanções econômicas contra o regime de Bashar Al-Assad. O presidente luta para manter-se no poder, apesar de a comunidade internacional e a população pedirem sua saída há 11 meses, em um cenário que se aproxima de uma guerra civil.
A Tunísia se comprometeu a abrigar a primeira reunião do grupo Amigos da Síria, formado por estados árabes e apoiado por potências ocidentais, para discutir soluções para a onda de violência no país. O encontro está marcado para 24 de fevereiro. "Até quando vamos apenas observar o que está acontecendo com o povo da Síria e conceder ao regime mais tempo para que possa cometer novos massacres contra o povo?" questionou o chanceler saudita, Saud al-Faisal, durante a sessão.
A Liga Árabe prometeu "abrir canais de comunicação com a oposição síria e facilitar todas as formas de apoio político e financeiro" aos rebeldes. A ONU deve discutir a situação hoje, mas ainda não há uma data definida para que o pedido árabe seja votado. Desde o início dos protestos contra Assad, em março do ano passado, pelo menos 5 mil pessoas já morreram vítimas das forças de segurança, segundo números da própria ONU. Somente ontem, outras 35 mortes foram anunciadas. O regime, entretanto, culpa "grupos terroristas" pelo aumento da violência no país. A situação é ainda mais complicada no país porque uma parte da população ainda apoia o regime e faz protestos pró-Assad — ontem, milhares se reuniram em Damasco. As cidades que mais têm sofrido com a onda de violência são Homs e Zabadani.
Na tentativa de pôr fim à crise, líderes da diplomacia árabe apresentaram um plano de paz no Conselho de Segurança da ONU, apoiado pelo Ocidente, no qual Assad cederia o poder ao vice e retiraria tropas das cidades. O processo iniciaria a transição para a democracia no país. A Rússia e a China, no entanto, votaram contra a iniciativa. A Rússia afirmou que a resolução era tendenciosa e promoveria "mudança de regime". A Síria é aliada de Moscou no Oriente Médio, abriga uma base naval russa e compra armas do país. O veto gerou revolta tanto em autoridades internacionais quanto na população síria, que foi às ruas para protestar contra a decisão dos dois países.
Diplomatas na ONU afirmaram que a Arábia Saudita divulgou uma nova proposta para apoiar o plano de paz da Liga. A tentativa de isolar a Síria é liderada por países do Golfo, principalmente Arábia Saudita e Catar. A Síria, onde a maioria da população é de orientação religiosa sunita, é governada há 40 anos pelo clã Assad. Potências ocidentais defenderam recentemente medidas isoladas para pressionar o regime. Os Estados Unidos e a União Europeia manifestaram a intenção de ampliar as sanções econômicas contra Damasco. As medidas atendem às demandas da oposição síria.
Renúncia
Em meio à crise na Síria e à pressão sobre a Liga Árabe, o chefe da missão de observadores do grupo no país, o general sudanês Mohammed Ahmed Al-Dabi, renunciou ontem ao seu cargo durante o encontro no Cairo. Segundo ele, o chanceler da Jordânia, Abdul-Illah al-Khatib, será nomeado para a função. A atuação de Al-Dabi na liderança do grupo tem sido repleta de controvérsia e críticas. Entidades internacionais de direitos humanos condenam suas ações em Darfur, oeste do Sudão, pelas quais chegou a ser acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional.
Papa quer "diálogo"
O papa Bento XVI fez um apelo ontem em favor das vítimas dos conflitos na Síria. "Chega de violência e de derramamento de sangue", pediu, após a oração dominical do Angelus. "Acompanho com muita apreensão os dramáticos e crescentes episódios de ataques no país." Ele acrescentou que sempre se lembra dos mortos e feridos na região em suas preces. O pontífice disse que espera a reconciliação pacífica e que "diálogo" seja estabelecido entre o presidente sírio, Bashar Al-Assad, e a oposição. "É urgente responder às legítimas aspirações dos diversos membros da nação, assim como da comunidade internacional, preocupada com o bem comum de toda a sociedade e da região."