O Estado de São Paulo, n. 45201, 20/01/2017. Política, p. A8.

 

Sala do Planalto ganha ‘misturador de voz’

Tânia Monteiro

20/07/2017

 

 

PRESIDENTE ACUSADO / Após episódio com Joesley Batista, GSI instala equipamento para distorcer gravações feitas no gabinete presidencial sem autorização

 

 

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) instalou um equipamento no gabinete presidencial, no terceiro andar do Palácio do Planalto, para evitar que Michel Temer seja grampeado em sua sala de trabalho. O aparelho estimado em US$ 7 mil está em fase de teste. O “misturador de voz”, que pode ser ligado e desligado manualmente, provoca ruídos que impedem que seja entendido o que se fala em gravações sem autorização.

No fim do ano passado, o presidente foi gravado pelo então ministro da Cultura, Marcelo Calero, em seu gabinete, quando veio à tona o escândalo com o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, que exigia a liberação de um empreendimento em área tombada em Salvador. Temer foi grampeado também, no Palácio do Jaburu, pelo empresário Joesley Batista, do Grupo JBS.

O aparelho poderá ser instalado em outros ambientes de autoridades do governo federal. Primeiramente, o equipamento foi testado no gabinete do ministro-chefe do GSI, general Sérgio Etchegoyen, durante um mês. Depois, foi providenciada a sua instalação na sala de Temer e também na do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy. Etchegoyen não comenta a decisão de segurança, mas o Estado apurou que o testo foi considerado um “sucesso”.

O sistema de misturador de voz não emite sinal sonoro capaz de ser captado pelas pessoas. Na gravação, no entanto, ela se sobrepõe as vozes das conversas, dificultando a compreensão do que está sendo falado. O equipamento em teste está verificando se funciona com gravações comuns, gravações de celulares ou de algum tipo mais sofisticado.

O misturador de voz também será instalado no Palácio do Jaburu, onde o presidente Temer foi grampeado por Joesley, abrindo a maior crise de seu governo e levou à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva. No Jaburu, o equipamento deverá ser distribuído por mais de um ambiente, a ser definido pelo presidente. Na sequência, o

Palácio do Alvorada também deverá receber a proteção. No caso da proteção que será instalada no Jaburu, por exemplo, o presidente terá de levar o convidado para o ambiente com o equipamento já que ele não funcionará em todos os ambientes.

 

‘Eficiência’. O misturador de voz é apenas um dos itens que estão sendo instalados no Planalto como parte do Programa de Proteção de Instalações da Presidência da República. Paralelamente ao equipamento, começarão a ser fixadas as câmeras de vigilância em todos os palácios. No Planalto, todos os corredores terão vigilância, até mesmo no terceiro andar, que dá acesso ao gabinete presidencial.

Este pacote de proteção não existia durante os governos petistas. Depois de fazer a reforma nos palácios, todas as câmeras foram retiradas e nunca mais foram recolocadas. Os equipamentos, que poderão começar a funcionar ainda no mês que vem, serão de vários tipos, até mesmo com visão noturna e inteligente, capaz de acompanhar os alvos em movimentos. Uma câmera deste tipo custa em torno de R$ 22 mil. Todos esse sistema de proteção está estimado em R$ 15 milhões.

Além das câmeras, o programa de proteção dos palácios inclui ainda a instalação de cancelas, pórticos, raio X, bloqueadores de gravação, os chamados “telefones seguros”, com criptografia. O sistema é integrado entre todos os palácios e o controle é feito por um único setor, com um banco de dados, um video-wall, que já estava em funcionamento.

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Para Maia, ‘tem gente’ de Temer ‘falando demais’

Isadora Peron

20/07/2017

 

 

Deputado, porém, nega crise com presidente por causa de movimentação para atrair deputados dissidentes do PSB

 

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que “tem muita gente no entorno do presidente falando demais”. Maia foi questionado sobre o mal-estar entre ele e Michel Temer por causa da movimentação do peemedebista para atrair parlamentares dissidentes do PSB para seu partido. O presidente da Câmara negou haver uma crise entre os dois.

Em menos de 24 horas, Temer e Maia se encontraram em três ocasiões. Ambos participaram de jantar anteontem e ontem e se reuniram em audiência no Palácio do Planalto, quando o presidente recebeu o secretário da Saúde do Rio, Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, e o médico Paulo Niemeyer Filho. Além disso, eles voltam a se encontrar hoje, quando Temer viaja para Mendoza e Maia assume o Planalto até sexta-feira.

“Tem muita gente no entorno do presidente falando demais e falando em off (reservadamente), o que é ruim. Então acaba gerando crise aonde a crise não existe. Então da minha parte nunca teve problema”, disse Maia, em entrevista à GloboNews. Segundo Maia, o próprio presidente já sabia que ele estava “há muito meses” articulando a filiação no DEM de parlamentares descontentes no PSB. “Esse problema dos deputados do PSB não foi um problema que foi criado aqui, eu já tenho conversado com os deputados do PSB há muitos meses, o presidente Michel Temer sabe disso”, comentou na entrevista.

“O DEM é um partido que tem uma posição ideológica clara e a gente vai continuar a nossa posição. Aqueles que queiram construir com a gente esse projeto, que é um projeto pensando o futuro do Brasil, um projeto de centro-direita, nós estamos abertos, sem querer mexer em nenhum partido da base”, completou Maia.

Anteontem, fora da agenda oficial, Temer participou de um café no apartamento funcional da líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), e mais quatro parlamentares para fazer o convite. No mesmo dia, o presidente participou de jantar na residência de Maia como demonstração de trégua. Na saída do jantar, o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) tentou minimizar o mal-estar entre Temer e Maia.

O PSB deixou o governo em maio, após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, que fundamentou a denúncia por corrupção passiva contra Temer. De 36 deputados, 16 discordaram da decisão da cúpula.

 

Articulação. Maia afirma que ‘problema não foi criado aqui’

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Ala feminina do PSB pede saída da líder do partido na Câmara

Daiene Cardoso

20/07/2017

 

 

Tereza Cristina faz parte dos ‘descontentes’ com a executiva nacional da sigla e articula migração para DEM ou PMDB

 

 

Após a deputada e líder do PSB na Câmara Tereza Cristina (MS) admitir que há uma negociação aberta de migração para o DEM ou para o PMDB, a Secretaria Nacional de Mulheres do partido pediu que a parlamentar se antecipe ao processo de expulsão e deixe a sigla.

“Exigimos que a pessoa em questão não espere o processo de expulsão por meio da representação no Conselho de Ética e que tenha a dignidade de deixar o PSB, antecipando-se assim a mais essa situação de desmoralização pública”, diz a nota assinada pela secretária nacional do PSB, Dora Pires.

O documento foi aprovado de forma unânime pelas 11 mulheres que compõem a Executiva da Secretaria e foi distribuído à direção da sigla, além das bancadas na Câmara e no Senado.

Já o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) quer que Tereza Cristina seja destituída da liderança. “Vamos cobrar um posicionamento do Carlos Siqueira (presidente da legenda). A gente não pode ficar nesse situação em que a líder conspira contra a bancada que ela lidera para poder levar para outros partidos. É de uma incoerência, falta de postura e legitimidade que extrapola os limites que a gente possa aceitar”, disse. Segundo Delgado, o estatuto do PSB permite que a direção partidária destitua um líder de bancada.

Tereza Cristina faz parte da ala governista do PSB e vota de acordo com a orientação do Planalto, desobedecendo a determinação partidária. A sigla deixou o governo em maio, após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, da JBS. Desconfortáveis no PSB, o grupo governista flerta com PMDB e DEM, o que causou atrito entre o presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

 

‘Desmoralização’. Na nota, Dora Pires diz que as manifestações públicas de Tereza Cristina sobre as negociações para migração de legenda representam a “desmoralização das mulheres socialistas e de esquerda” e pede sua saída imediata “das fileiras socialistas”.

Mais cedo, a deputada adotou um tom pacificador e disse acreditar em uma reaproximação com o partido. “Quanto às especulações sobre a filiação de deputados socialistas a esta ou àquela legenda, enfatizamos acreditar, antes de mais nada, na retomada do diálogo com a Direção Executiva do PSB.” / COLABOROU RENAN TRUFFI