Cabral reconhece caixa dois mas nega propinas

Cláudia Schüffner

11/07/2017

 

 

Um muito mais magro Sérgio Cabral depôs ontem sendo assertivo ao responder algumas das perguntas do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. O ex-governador, que está preso desde novembro e responde a 12 ações penais, negou que tenha recebido propinas como contrapartida de contratos firmados com empresas que financiaram as campanhas eleitorais em seus vários mandatos desde 1990. "Nunca houve uma contrapartida seja para empresário A, B ou C por ter me dado recursos legais ou legítimos, como o senhor colocou oficialmente, ou em caixa dois, com temas abordados enquanto governante. Nunca houve propina", disse Cabral. "Eu vejo que o Ministério Público, na acusação, se refere sempre a 5%. Nunca houve 5%. Que 5% é esse? Não é nem o caso da matéria de hoje aqui, mas que história é essa de que 5% era uma coisa que vigia no governo de Sérgio Cabral? Que maluquice é essa?", continuou.

Ele dirigia-se, nessa altura, ao procurador Eduardo El Hage, da força-tarefa da Lava-Jato no Rio e um dos autores das 12 ações penais contra ele no Rio que acompanhava a audiência. Cabral reconheceu a existência de caixa dois nas campanhas eleitorais dizendo que a prática "existe no pais há décadas", e que ele concorda que é "uma distorção". Na ênfase de negar propinas, atribuiu o resultado das eleições que disputou à sua prática legislativa. Como exemplos para mostrar "que não é só o poder econômico" que vale, mas "a realização de um trabalho", citou a lei de incentivo à cultura e ao esporte e o Estatuto do Idoso. Ontem foi a primeira vez que Cabral respondeu ao juiz em depoimento. Nos anteriores, só respondeu perguntas dos advogados.

Antes de Cabral, o agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho, que trabalhou em campanhas de Cabral desde 1994, disse ao juiz que recebeu entre R$ 9 milhões e R$ 10 milhões, além dos salários. Os valores seriam sobras de campanhas. Costa Filho narrou visitas a duas empresas, a cervejaria Itaipava e a rede varejista Prezunic, acompanhado de Carlos Miranda, um dos operadores de Cabral também denunciado na Operação Mascate. Ele também admitiu ser dono de imóveis de luxo no Rio e em Búzios, que não estão em seu nome, mas de uma empresa de Adriano Martins, dono das concessionárias Eurobarra e Américas Barra. Dois apartamentos em Miami teriam sido declarados à Receita Federal.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4294, 11/07/2017. Política, p. A10.