Maia e ACM Neto, trabalham para aumentar bancada do DEM na Câmara

Andrea Jubé e Cristiano Zaia

12/07/2017

 

 

A perspectiva de poder impulsionou as articulações do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para ampliar a bancada do partido na Casa. Primeiro na linha sucessória da Presidência da República, Maia e o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, trabalham para aumentar os quadros da sigla de olho no pleito de 2018 e na base de sustentação de eventual governo DEM.

Em outra frente, o ex-ministro da Defesa e deputado Aldo Rebelo (SP) pode trocar o PCdoB pelo PSB. Aldo é o nome de consenso da esquerda para compor eventual chapa com Maia na hipótese de eleição indireta.

Essa articulação avança rapidamente e tem de ser concluída até setembro, quando o Congresso deve aprovar a reforma política. O item principal da reforma é o fundo partidário, estimado em R$ 3 bilhões em recursos do Tesouro Nacional, que financiará as campanhas eleitorais em 2018. Uma das emendas em discussão prevê que 95% do fundo será repartido entre os partidos com representação na Câmara, considerando-se as maiores bancadas na data da promulgação da emenda constitucional. Para vigorar no ano que vem, a emenda tem de ser promulgada até 5 de outubro.

Atualmente o DEM tem 31 deputados, sendo 29 no exercício do mandato, e quer ultrapassar os 40. Um dos licenciados é o ministro da Educação, Mendonça Filho. Um dos principais alvos da articulação para inflar o DEM é o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e o pai dele, o senador Fernando Bezerra Coelho (PE), do grupo de dissidentes do PSB. Ambos respondem a processos no Conselho de Ética do PSB porque apoiaram as reformas do governo de Michel Temer.

No dia 19 de junho, Maia e ACM Neto visitaram Petrolina, em Pernambuco, ciceroneados pelo ministro e por Bezerra Coelho. Petrolina é reduto eleitoral dos Bezerra Coelho e tem como prefeito Miguel Coelho, irmão do senador. Os dois líderes nacionais do DEM foram convidados de honra do "São João de Petrolina", uma das principais festas populares do Nordeste. Maia voltou a Brasília no dia 20, já como presidente da República em exercício, com Temer em visita oficial à Rússia.

O flerte evoluiu e na semana passada, no dia 5 de julho, o ministro Fernando Coelho Filho convidou os 14 deputados dissidentes do PSB para um almoço em sua casa, que teve como convidado especial o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Fernando Filho foi líder do PSB antes de se tornar ministro.

Maia espera levar para o DEM os Bezerra Coelho, a líder do PSB, Teresa Cristina (MS), e pelo menos mais sete deputados do total de 14 dissidentes. Entre eles, o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que já integrou os quadros do partido.

Maia compareceu até mesmo à festa de aniversário de Teresa Cristina na liderança do PSB na última semana. Embora tenha recebido convites de outros partidos pela postura assertiva na reforma trabalhista, Teresa Cristina caminha para fechar com o DEM.

Já o ex-ministro Aldo Rebelo mantém um diálogo avançado com a cúpula do PSB. Ex-ministro dos governos petistas, ex-presidente da Câmara, Aldo é considerado um quadro expressivo no parlamento, que transita com a mesma desenvoltura na esquerda e na bancada do agronegócio, como relator do Código Florestal.

Por causa desse perfil, Aldo tornou-se o nome de consenso da esquerda para compor eventual chapa com Rodrigo Maia para a eleição indireta para a Presidência da República - na hipótese de afastamento de Michel Temer.

Aldo esteve com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e com o presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande, em maio e junho.

Um interlocutor de Aldo confirma o convite para ingressar no PSB, mas ressalta que ele ainda não tomou uma decisão. Um dos motivos da insatisfação de Aldo no PCdoB é a falta de protagonismo da sigla, que orbita em torno do PT.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4295, 12/07/2017. Política, p. A6.