PSDB deve fazer convenção em agosto

Fernando Taquari e Cristiane Agostine

12/07/2017

 

 

Lideranças do PSDB preparam o afastamento definitivo do senador e ex-candidato à Presidência Aécio Neves (MG) do comando do partido. Em jantar articulado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tucanos acertaram a antecipação da troca da direção partidária para agosto. Segundo o presidente interino da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), e o secretário-geral do partido, deputado Silvio Torres (SP), haverá uma convenção nacional para formalizar a mudança. A convenção irá encerrar o ciclo de Aécio à frente da sigla, cujo mandato terminaria em maio de 2018, e fortalece as pretensões do grupo político de Alckmin com vistas à sucessão presidencial.

Aécio está afastado da presidência do PSDB desde que foi divulgado que teria recebido R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da JBS. O senador Tasso Jereissati (CE) assumiu interinamente a direção do partido e é o mais cotado para continuar no cargo. Ao tirar Aécio do comando partidário, o PSDB tenta se descolar das denúncias investigadas pela Operação Lava-Jato. Ao mesmo tempo, Alckmin tira de cena um potencial adversário interno e ganha espaço para consolidar sua candidatura à Presidência da República, já que a escolha do candidato passará pela direção do partido. O governador paulista apoia a continuidade de Tasso. Em troca, espera ter reciprocidade do atual presidente do partido à sua candidatura presidencial em 2018.

A ideia de antecipar a convenção foi anunciada por Tasso ao lado de Alckmin e de outras lideranças tucanas, depois do jantar na sede do governo paulista, na segunda-feira. Aécio participou do encontro e, segundo relatos, não fez qualquer observação sobre a redução de seu mandato na presidência do PSDB. Dirigentes do partido avaliam que o senador mineiro perdeu a capacidade de conduzir os rumos da legenda e, ao mesmo tempo, se defender das acusações de corrupção. Além disso, Aécio e Tasso têm posições diferentes em relação ao governo federal. Enquanto o senador mineiro quer que o partido continue na base de apoio de Temer, o atual presidente do PSDB defende o desembarque da gestão e a entrega dos quatro ministérios comandados pelos tucanos. Para Silvio Torres, é preciso ter um discurso unificado. "Hoje temos dois presidentes do PSDB com duas posições diferentes", disse Torres, que participou da reunião.

O descontentamento de parte dos tucanos com a gestão de Aécio na presidência do partido vem desde dezembro do ano passado, quando o senador prorrogou os mandatos dos dirigentes do PSDB, em vez de chamar a eleição interna. A manobra desagradou sobretudo o grupo político de Alckmin, que almejava ter mais destaque na direção partidária. A proposta de antecipar a convenção para agosto, no entanto, ainda não é consenso no partido. Parte dos tucanos que participaram do encontro na segunda-feira afirmaram, de forma reservada, que não houve acordo sobre a antecipação do fim do mandato de Aécio e criticaram as declarações de Tasso ao argumentarem que o senador tenta manter-se no cargo sem negociar. A reunião teve caráter informal e muitos dirigentes que não participaram reclamaram por não terem sido consultados.

O encontro foi convocado para discutir a posição dos tucanos em relação ao governo Temer, mas depois de quatro horas de debates a divergência continuou. A ideia tentar era apaziguar os ânimos depois de declarações desencontradas que expuseram as divergências entre os tucanos que são favoráveis ao desembarque imediato e os que defendem a permanência da sigla na aliança governista. Assim como Aécio, o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), e os governadores tucanos, à exceção de Alckmin, teriam defendido a continuidade do partido no governo, segundo relatos. FHC, Alckmin e o líder na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), no entanto, fizeram discursos pela saída imediata. A expectativa de dirigentes tucanos é que um eventual desembarque do governo Michel Temer possa ser definido depois da troca do comando do PSDB.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4295, 12/07/2017. Política, p. A6.