Adversários procuram capitalizar condenação de ex-presidente

Cristian Klein e Marcos de Moura e Souza

13/07/2017

 

 

Adversários nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018 exaltaram ontem a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sergio Moro. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo colocado nas pesquisas para a eleição presidencial do ano que vem, disse que não está torcendo pela prisão ou inelegibilidade do ex-presidente, líder das pesquisas que foi condenado a nove anos e meio de prisão. Se for condenado em segunda instância, Lula fica impedido de concorrer.

Questionado se suas chances aumentariam ou se prefere que Lula continue no páreo, o pré-candidato de ultradireita tergiversou. "Não estou torcendo para nada. É como no campeonato brasileiro, que tem 20 times. Quem quer ser campeão não tem que estar preocupado com o time A, B ou C", disse Bolsonaro, por telefone. Sempre se referindo à condenação como se fosse "prisão", o deputado disse que a decisão de Moro "claro que mexe" com o cenário da eleição e que o Brasil precisa de uma "chuva de honestidade". "O que extraímos da prisão de Lula é que, apesar de ser de primeira instância, é um fato marcante, já que se trata de uma figura de proa do partido dito dos trabalhadores", disse.

Bolsonaro afirmou que a sentença mostra que a Lava-Jato deixa a lição de que não "dá mais pra fazer política dessa forma". "Não dá mais para lotear, comprar voto e buscar apoio no Parlamento, porque tudo isso foi feito para conseguir apoio para o governo e para enriquecimento próprio", disse.


Marina: “trabalho feito com muita competência pela equipe da Lava-Jato”

Marina Silva (Rede), potencial candidata à Presidência e ex-ministra do governo Lula, elogiou o trabalho de Moro e afirmou que o eleitorado vai buscar candidatos com novas posturas na eleição presidencial de 2018. "Em que pese a possibilidade de recurso, nós temos uma condenação em primeira instância depois de um trabalho feito com muita competência pela equipe da Lava Jato", disse Marina. Para ela, houve "um trabalho exaustivo" feito pelo Ministério Público, Polícia Federal e Moro. Em pesquisa Datafolha do fim de junho, Marina apareceu em segundo lugar na preferência do eleitorado, oscilando entre 13% e 15% das intenções de voto, assim como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Lula tinha entre 29% e 30%.

Perguntada se considera que a condenação fará de Lula um candidato mais fácil a ser batido em 2018, ela diz que o foco não deve ser este, mas o de unir e reconstruir o país. Ela disse que ainda está avaliando se será novamente candidata ao Planalto no próximo ano. "Ainda estou fazendo meu discernimento e essa discussão sobre candidatura agora é prematura ela tem que ser colocada em 2018. É o momento de pensar o Brasil". Em nota, Ciro Gomes (PDT), potencial candidato à disputa, ressaltou que "ninguém está acima da lei e imune ao alcance da Justiça", mas disse que a condenação de Lula por Moro "se deu sem que houvesse uma prova e gera perplexidade na maioria da população". "A condenação acontece ante uma grande revolta dos simpatizantes de Lula, uma estranhíssima e patológica euforia dos que o odeiam e ante uma grande perplexidade da maioria do povo que não consegue entender uma sentença sem uma prova cabal e simples, que todos possamos entender como base de uma pena justa", escreveu Ciro.

Ex-ministro de Lula, Ciro tem criticado o petista e o apontado como responsável pelo governo Michel Temer. Na nota, Ciro diz que Lula foi traído, no entanto, acrescenta: "A ele, e somente a ele, devemos a imposição de um corrupto notório na linha de sucessão do Brasil, o senhor Michel Temer. Mas não significa que ele não tenha direito ao devido processo legal." O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), comemorou a condenação do "maior cara de pau" do Brasil, como se referiu ao ex-presidente Lula em post publicado no Twitter. "A justiça foi feita", escreveu. Durante a pré-campanha na eleição para prefeito, Doria adotou um discurso duro contra o PT. Lula, "um sem vergonha", era alvo preferencial. Eleito em outubro, o tucano chegou a afirmar que visitaria o ex-presidente "em Curitiba" e que até poderia levar chocolates.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4296, 13/07/2017. Política, p. A8.