Para Dilma, sentença de Moro é um 'escárnio'

Marsílea Gombata, Crisitane Agostine, Fabio Murakawa, Vandson Lima, Raphael Di Cunto e Daniel Rittner

13/07/2017

 

 

A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sergio Moro é um "escárnio". Em nota, a presidente destituída do cargo após impeachment no ano passado disse que a decisão de Moro é "uma flagrante injustiça e um absurdo jurídico que envergonham o Brasil. Lula é inocente e essa condenação fere profundamente a democracia", afirmou. Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). "Há anos, Lula, o presidente da República mais popular na história do país e um dos mais importantes estadistas do mundo no século XXI, vem sofrendo uma perseguição sem quartel".

A condenação também foi fortemente criticada pela presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), que classificou como "política" a decisão de Moro e desafiou o magistrado a mostrar provas cabais de que o petista cometeu os crimes que lhe foram imputados. Para Gleisi, o objetivo de Moro é criminalizar o ex-presidente "para impedir que ele participe do processo político do Brasil". Ela se refere à possibilidade de Lula ser impedido de disputar as eleições de 2018, caso o Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4) confirme a sentença em segunda instância.

"É uma decisão sem provas, baseada única e exclusivamente em o juiz Sergio Moro prestar contas à opinião pública, fato aliás que ele vem mantendo desde o início do julgamento", disse Gleisi. "Aliás, as únicas provas que tem são as provas de inocência do presidente Lula. É lamentável que um magistrado se preste a esse papel, de fazer política através do judiciário."

Na nota divulgada ontem, Dilma destacou que a condenação de Lula ocorre um dia depois da aprovação da reforma trabalhista no Senado, que resulta em "monumental perda" para os trabalhadores brasileiros. "O país não pode aceitar mais este passo na direção do Estado de Exceção. As garras dos golpistas tentam rasgar a história de um herói do povo brasileiro", afirmou Dilma, acrescentando que Lula será resgatado em 2018.

O senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou acreditar que a pena de prisão imposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz federal Sergio Moro será revertida na segunda instância. Paim disse crer que, caso a sentença seja confirmada em segunda instância e Lula seja preso, o ex-presidente será visto como mártir. "Se prendem, vira mártir. Se não prenderem, vira presidente", afirmou. E afirmou que quanto mais Lula sobe nas pesquisas, maior será a pressão sobre ele. Lula está em primeiro lugar em pesquisa Datafolha para ocupar a Presidência da República. Para o senador, o TRF-4 tem "uma decisão difícil ela frente". Paim comparou Lula a Nelson Mandela, que foi preso durante o regime de apartheid na África do Sul, e afirmou que haverá grande mobilização internacional contra a prisão do ex-presidente, caso ela ocorra.

O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), afirmou que a condenação não tem fundamentos jurídicos. "Não há provas de relação do Lula com o tríplex", disse. "É um julgamento político, com o objetivo de interferir na eleição e impedir que o presidente Lula seja candidato".

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez ontem no plenário do Senado uma enfática defesa do ex-presidente Lula. Atacou Moro e disse estar seguro de que a decisão será reformada. Chegou, inclusive a usar o plural para colocar-se como parte dos que buscarão a defesa de Lula. "Nunca é admissível que se condene sem prova. Muito menos quem tirou o país do mapa da fome. Ainda bem que temos certeza que, na instância seguinte, vamos reparar [a decisão]", afirmou.

Renan rompeu recentemente com o presidente Michel Temer e tem feito uma aproximação de Lula com vistas à eleição de 2018.

Em nota, o PT classificou a decisão como ilegal e um ataque à democracia e disse que Lula é alvo de perseguição política, em ação orquestrada por um "consórcio golpista" e criticou Moro por ser "imparcial" e por "prestar contas aos meios de comunicação". Na visão do PT, a sentença está baseada exclusivamente em delações premiadas negociadas ao longo de meses com criminosos confessos, e simplesmente validam as convicções contidas na acusação de procuradores do Ministério Público Federal, sem que houvesse a apresentação de provas. "Lula não está acima da lei, tampouco abaixo dela", diz a nota.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4296, 13/07/2017. Política, p. A8.