O globo, n.30825 , 29/12/2017. PAÍS, p.6

Preso no mensalão, Pizzolato sai da cadeia

Bela Megale

29/12/2017

 

 

Ex- diretor do Banco do Brasil não poderá ficar fora de casa depois das 22h

O ex- diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão, deixou ontem a prisão em Brasília e vai terminar de cumprir a pena em liberdade condicional. O juiz Vinicius Santos Silva, da Vara de Execuções Penais, determinou que ele se apresente à Justiça a cada dois meses para comunicar a sua ocupação. Pizzolato também está proibido de se afastar do território do Distrito Federal sem autorização judicial ou de mudar de residência sem comunicar previamente o juízo. Durante o período da liberdade condicional, o ex- diretor terá que se recolher diariamente a partir das 22h. Após a audiência, Pizzolato seguiu para o Conselho Penitenciário do Distrito Federal ( Copen), onde os termos da audiência foram homologados, e deixou o local às 17h em um carro cinza. — Vou olhar para vocês ( jornalistas e fotógrafos) e vou correndo para casa ver a minha mulher — disse Pizzolato, com um sorriso no rosto, ao ser questionado pelo GLOBO sobre o que faria em liberdade.

O ex- diretor deixou a prisão vestindo jeans, uma camisa com listras brancas e vermelhas e sandálias de couro. Durante a audiência na Vara de Execuções Penais, Pizzolato chegou a reclamar que os objetos pessoais que havia levado para o presídio ainda não tinham sido devolvidos. Condenado no mensalão a 12 anos e sete meses de prisão por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, Pizzolato estava preso desde outubro de 2015 na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), ele havia fugido para a Itália, em 2013, usando documentos do irmão morto. Portador de cidadania italiana, acabou preso em Maranello, em fevereiro de 2014, oito meses antes da sua extradição para o Brasil. Desde maio, porém, o ex- diretor só passava as noites no presídio, porque havia progredido para o regime semiaberto. Pizzolato conseguiu usufruir da liberdade condicional a partir de uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que alegou que todos os critérios para que o ex- diretor tivesse direito ao benefício foram cumpridos. Entre eles, Barroso citou os bons antecedentes, o bom comportamento durante a prisão, o fato de não ser reincidente em crime doloso e de já ter cumprido mais de um terço da pena.

PAGAMENTO DE MULTA

O ministro destacou que Pizzolato tinha reunido desde maio os requisitos para progredir de regime. No entanto, a liberdade condicional foi vinculada ao início da quitação de uma multa de R$ 2 milhões que ele ainda não tinha começado a pagar. O benefício só foi concedido por Barroso após a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional comprovar ao STF que Pizzolato estava adotando medidas para parcelar o pagamento dos R$ 2 milhões. O ex- diretor do Banco do Brasil se comprometeu a comparecer dentro de um mês à Procuradoria da Fazenda para oferecer garantias de pagamento. Caso ele não honre as parcelas, o benefício pode ser suspenso.

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Doleiros de Cabral seguem para presídio em Benfica

 

 

Operadores estavam detidos no Uruguai desde março e foram extraditados

Os doleiros Vinícius Claret Vieira Barreto, o “Juca Bala”, e Cláudio Fernando Barbosa, o “Tony”, que estavam presos no Uruguai, chegaram ao Rio na tarde de ontem e seguiram para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, presídio que abriga os detentos da Operação Lava- Jato no Rio. Eles foram extraditados a pedido das autoridades brasileiras. De acordo com o Ministério Público Federal ( MPF), os dois integravam o esquema do ex- governador Sérgio Cabral ( PMDB). Logo depois de desembarcarem no Aeroporto Internacional Tom Jobim, os dois seguiram escoltados pela Polícia Federal, para o Instituto Médico Legal ( IML), antes de serem levados à penitenciária. O retorno ao Brasil, após desistir da briga jurídica pela permanência em Montevidéu, reforça a expectativa de que Claret vá fechar um acordo de delação premiada com os procuradores da República da Operação Calicute, versão da LavaJato no Rio. A prisão dos doleiros, a pedido do MPF, ocorreu em Punta del Este, no Uruguai, em março, depois que Claret foi citado por outros dois delatores, os irmãos Renato e Marcelo Chebar. Também doleiros, eles revelaram que, quando o esquema de propina do ex- governador ficou grande demais, em 2007, tiveram de chamar Claret para assumir as operações de lavagem. Até então, os irmãos faziam operações dólar- cabo — entregavam valores em reais no Brasil para que fossem creditados recursos em dólar no exterior usando a própria clientela para movimentar a suposta propina paga a Cabral.

LIGAÇÃO COM A ODEBRECHT

Claret escondia as operações de lavagem atrás de uma rotina tranquila como vendedor de pranchas de surfe em Punta del Este. O número do celular que ele usava no Uruguai apareceu na agenda de Maria Lúcia Tavares, ex- funcionária da Odebrecht que detalhou no funcionamento do Departamento de Operações Estruturadas, o setor criado pela empreiteira para distribuição de propina.