FIesp usa pesquisa para indicar que investimento cai com nova taxa

Eduardo Belo

14/07/2017

 

 

 

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) abriu fogo contra a mudança da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para a Taxa de Longo Prazo (TLP). Pesquisa da entidade sugere que a mudança no juro de longo prazo do BNDES provocará redução na intenção de investimento. Das empresas entrevistadas, 66% deixariam de investir com crédito do banco nos próximos dois anos, se a mudança seguir o que está proposto na MP 777, que cria a TLP.

Em viagem ao exterior, por e-mail, o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, disse que "não é o momento apropriado para discutir a mudança da taxa de juros do BNDES". Ele argumenta que o Brasil está entre os países de mais baixas taxas de investimento do mundo. O investimento cai desde 2013 e acumula desde então 25,9% de retração, de acordo com o IBGE.

Grandes empresas, principais beneficiárias do banco, indicam maior redução da intenção de investimento. Cerca de 70% delas afirmam que vão desistir dos investimentos com financiamento do BNDES. A média de todos os setores é 65%.

Para 37% das empresas, o corte seria de 40% da intenção de investimento. Para 21% das empresas, a redução seria de 21% a 40%, enquanto 15% das companhias preveem corte de 11% a 20% no total investido.

O estudo não estima qual seria a redução total do investimento com a mudança na taxa de juro. Pelos cálculos da Fiesp com base nos dados do IBGE, de 2012 a 2016, o BNDES financiou 16,1% do investimento privado e 14% do investimento total no país.

O diretor da Fiesp comparou as taxas do BNDES com as de mercado. Segundo ele, somadas taxas e spread, a TJLP teve em 2016 custo de 11% ao ano. Se a TLP estivesse em vigor, o custo subiria para 15%. De acordo com o Banco Central, a taxa média de juros de mercado para operações com recursos livres para pessoas jurídicas no ano passado ficou em 30,3%. A inflação de 2016, pelo IPCA, ficou em 6,29%.

A pesquisa foi realizada antes da queda da TJLP para 7% ao ano. A Fiesp considerou TJLP de 7,5% e TLP de 10% ao ano, taxa estimada com base na NTN-B na época da pesquisa. Nessas condições, o estudo projeta redução nos investimentos a partir de créditos do banco de fomento. No estudo, a Fiesp afirma que a redução da TJLP de 7,5% para 7% e da projeção de TLP de 10% para 9% ao ano não invalida as conclusões, porque a redução é proporcional.

A Fiesp entrevistou 1.036 empresas, das quais 403 tentaram (com sucesso ou não) ter acesso ao crédito do BNDES. Só essas 403 foram consideradas na tabulação de respostas. O levantamento ocorreu entre 5 de abril e 29 de maio.

Para Roriz, o fato de apenas 39% das empresas pesquisadas buscarem o BNDES reflete a "falta de disposição do empresário em investir". Para ele, antes da crise o investimento industrial já era baixo por motivos estruturais, como alta taxa de juros e elevada carga tributária. "Nos últimos dois anos, o investimento teve desestímulo maior por conta da grave crise econômica." Roriz acredita que "empresas que tinham a intenção de investir podem ter desistido" ao saber "que teriam dificuldades de acesso aos recursos".

A posição da Fiesp coincidia com a opinião do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro. Na semana passada, Rabello de Castro direcionou suas baterias contra a metodologia de cálculo da TLP sob a alegação de que a nova taxa traria volatilidade às operações do banco. Voz isolada no governo, ele recuou na terça-feira, depois de ter sido contrariado em público no dia anterior pelos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento).

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4297, 14/07/2017. Brasil, p. A5.