FMI vê transmissão convencional de política monetária no país

Sergio Lamucci

17/07/2017

 

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) entrou na discussão a respeito da eficácia dos juros altos para combater a inflação no Brasil, iniciada em janeiro com um artigo publicado no Valor pelo economista André Lara Resende. Segundo um estudo do órgão, há "fortes evidências" a favor da visão convencional sobre a transmissão da política monetária no país, sugerindo que um corte dos juros básicos leva a inflação mais alta.

Em texto debatido durante várias semanas por economistas brasileiros, Lara Resende defendeu a ideia de que as elevadas taxas no Brasil contribuem para os altos índices inflacionários, motivada especialmente por um artigo de John Cochrane, da Universidade de Stanford, questionando a visão dominante sobre a política monetária nos países desenvolvidos.

O estudo faz parte do relatório anual do FMI sobre a economia brasileira, conhecido como artigo IV, o capítulo do estatuto da instituição que prevê um raio-x uma vez por ano sobre a situação econômica dos países-membros. No texto, o Fundo discute se o compromisso em fixar um juro básico mais baixo levaria a uma inflação mais baixa, sem citar diretamente Lara Resende.

Para isso, o FMI examina dados mensais de 2003 a 2016, contendo seis variáveis - a inflação mensal cheia, a Selic, o nível de ociosidade na economia, as expectativas para os índices de preços 12 meses à frente, as variações mensais das cotações de commodities e a taxa real de câmbio efetiva (ponderada pela inflação dos principais parceiros comerciais do país).

Essa análise empírica avalia o impacto de mudanças nos juros na inflação cheia, na de preços livres, na de preços administrados, na de serviços, na de bens comercializáveis internacionalmente (expostos à concorrência externa) e também na de bens não comercializáveis. De acordo com estudo, "correlações cruzadas mostram que inflação mais alta leva a juros mais elevados, e juros mais altos levam a inflação menor, o que é consistente com a visão convencional". Pelas estimativas, também há a indicação de que um corte inesperado na Selic aumenta a inflação no curto prazo.

O FMI afirma ainda que simulações apontam que uma inflação menor e juros mais baixos podem ser atingidos pela redução da meta inflacionária. No entanto, isso pode ser custoso no curto prazo quando o Banco Central (BC) tem credibilidade limitada, observa o estudo. Na visão do Fundo, porém, esse custo pode ser mitigado pelo aperfeiçoamento da transparência e da reputação da política monetária.

O FMI afirma que a transmissão dos movimentos dos juros pode se tornar mais eficaz pela redução de distorções e melhora da alocação de recursos no setor financeiro. De acordo com o Fundo, há uma avaliação geral de que é possível aperfeiçoar a eficácia da política monetária brasileira pela mudança de várias políticas de crédito que envolvem crédito direcionado e subsídios.

"Em especial, como já proposto pelas autoridades, a diferença entre os juros subsidiados de longo prazo (a TJLP) e a Selic poderia ser reduzida para aperfeiçoar a transmissão de política monetária", afirma o FMI, numa referência ao projeto que substitui a TJLP pela Taxa de Longo Prazo (TLP), que em cinco anos deverá convergir para a NTN-B (títulos do Tesouro corrigidos pela inflação).

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4298, 17/07/2017. Brasil, p. A2.