O Estado de São Paulo, n. 45193, 12/07/2017. Política, p. A11.

 

Sem perfil ‘midiático’, Raquel é sabatinada

Thiago Faria

12/07/2017

 

 

Indicada para substituir Janot na PGR passa hoje por questionamentos no Senado

 

 

A subprocuradora Raquel Dodge deve explorar hoje, em sabatina no Senado, sua diferença de estilo em relação ao atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Nas conversas, segundo relatos dos parlamentares, ela defendeu a Lava Jato e disse que vai fortalecer as investigações, mas evitar “exposições desnecessárias”. A exposição de investigados, como o vazamento de delações premiadas, é uma das principais críticas da classe política a Janot.

Raquel será sabatinada a partir das 10h na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Ao menos oito dos 27 titulares do colegiado são investigados na Lava Jato. Entre os suplentes, 13 dos 25 senadores respondem a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

A subprocuradora passou os últimos dias percorrendo gabinetes de senadores para se apresentar e mostrar que está preparada para comandar o Ministério Público Federal.

Outro ponto no discurso de Raquel que agradou à Casa é que, nos encontros, ela fez questão de repetir que “só falará nos autos”, o que, para um dos parlamentares que estiveram com ela, indicou um contraponto ao “estilo midiático de Janot”.

Raquel fez ontem um último corpo a corpo com senadores e se encontrou pela manhã com a bancada do PSD e com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Segundo disse ao Estado na semana passada, as visitas seriam uma demonstração de “respeito à instituição”. A intenção de Raquel era encontrar os 81 senadores antes da sabatina, o que não foi possível. A assessoria do senador Aécio Neves (PSDB-MG), por exemplo, informou que o encontro previsto não ocorreu.

Raquel terá 30 minutos para fazer uma apresentação na CCJ. Em seguida, cada senador terá dez minutos para fazer perguntas e ela terá o mesmo tempo para responder. Há ainda a possibilidade de réplica e tréplica. A expectativa é de que a sessão dure o dia todo.

Questionado se espera algum tipo de constrangimento pelo fato de os parlamentares sabatinarem quem vai investigá-los, Antonio Anastasia (PSDB-MG), vice-presidente da CCJ e alvo de inquérito na Lava Jato, negou. “Será uma sabatina estritamente institucional”, disse.

 

‘Preparada’. Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti disse que Raquel está preparada para responder “a qualquer tipo de pergunta”. “É uma pessoa preparadíssima. Ela tem história, estudou. Sua característica é de estar sempre tranquila e serena, mesmo diante de qualquer tipo de pressão.” Robalinho pretende acompanhar a sabatina in loco.

Raquel foi a segunda colocada na lista tríplice da ANPR. Para o presidente da associação, porém, isso não deslegitima a escolha do presidente Michel Temer. “Qualquer um dos três da lista estaria apto”, afirmou.

Caso seja aprovada na CCJ, a intenção do presidente do Senado é levar a indicação ainda hoje para o plenário. A condição, porém, é de que haja quórum mínimo de 41 senadores para que a votação ocorra. Tanto na CCJ quanto no plenário a indicação precisa de maioria simples dos presentes para ser aprovada.

 

Congresso. Raquel Dodge no Senado semana passada

 

RITO NA CASA

● Apresentação

Raquel Dodge terá 30 minutos para uma apresentação inicial. O tempo pode ser prorrogável.

 

 

● Perguntas e respostas

Cada senador inscrito tem 10 minutos para elaborar uma pergunta. Raquel tem o mesmo tempo para responder. O senador que perguntou pode fazer uma réplica de 5 minutos e a subprocuradora tem mais 5 para a tréplica.

 

 

● Votação na comissão

Esgotadas as perguntas, o presidente da CCJ abre a votação. Para que seja aprovada, a indicação precisa de maioria simples dos presentes. A comissão é formada por 27 senadores.

 

● Votação no plenário

Pós-CCJ, indicação pode ir a plenário no mesmo dia, desde que haja quórum. É necessária maioria simples (41) para aprovação.