Ciro ataca Lula e se diz aberto a compor com o Congresso

Cristiane Agostine

18/07/2017

 

 

Cotado para disputar a Presidência da República pelo PDT, o ex-ministro Ciro Gomes procurou marcar distância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderá ser seu concorrente em 2018, e disse ontem que será candidato mesmo se o petista também se lançar. Em entrevista à rádio Interativa, de Goiás, Ciro criticou Lula por não deixar o PT formar outras lideranças dentro do partido e afirmou que o ex-presidente é o culpado pela cri-se política enfrentada pelo país. Ex-ministro de Lula, Ciro disse que sua candidatura presidencial depende apenas do PDT e não do PT e sinalizou que deverá disputar a próxima eleição. Na entrevista, concedida dias depois da condenação de Lula por corrupção passiva pelo juiz federal Sergio Moro, em primeira instância, Ciro disse que ex-presidente errou ao não permitir que outros nomes do PT se fortalecessem para disputar a Presidência. "Lula é sombra de mangueira. Não nasce nada embaixo. Está errado", disse. Ao falar sobre a possibilidade de o petista ver sua candidatura inviabilizada, caso seja condenado em segunda instância, o ex-ministro questionou: "Vamos imaginar que o TRF-4 mantenha a sentença do Moro. E aí, quem é o candidato?" Para Ciro, o ex-presidente é responsável, ainda que indiretamente, pelos atuais problemas políticos do país. "O grande responsável remotamente, e não imediatamente, é o Lula, desde que resolveu usar imprudentemente a popularidade maravilhosa, extraordinária que o povo deu a ele para brincar de Deus e nomear para presidente da República uma pessoa sem experiência, que nunca tinha disputado uma eleição", disse, citando em seguida a ex-presidente Dilma Rousseff. Ciro afirmou que Lula errou não só ao apoiar Dilma, que "tinha aversão à política", mas também ao colocar Michel Temer na linha de sucessão presidencial.

O pré-candidato ironizou o impeachment de Dilma e reforçou as críticas ao que considera como falta de habilidade política da ex-presidente petista. "Um presidente cair no primeiro ano é porque não é do ramo mesmo. Tinha acabado de se reeleger", afirmou, na entrevista. Ciro criticou também Lula por ter dado o comando de Furnas ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Todo mundo sabia que ele [Cunha] estava metendo a mão. Ele só virou presidente da Câmara porque pegou Furnas", disse. Ex-ministro do governo Lula, o pedetista afirmou que há formas de tentar driblar os problemas de um governo de coalizão. "Não sou um poeta, mocinha que chegou ontem no bar. Sou uma mocinha relativamente vivida e tal", disse ao comentar o peso que o PMDB, com a maior bancada da Câmara, tem para qualquer governo. Segundo Ciro, é preciso "moderar as promessas, negociar, compor e prestigiar os deputados". "O problema é o limite disso. Até o limite da decência, alargado para não ser moralista, está tudo certo. O que pode puder negociar na frente do povo está tudo certo", disse. O pré-candidato concedeu uma entrevista para um jornal local e na noite de ontem falou a uma plateia de jovens em encontro com estudantes da Universidade Federal de Goiás.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4299, 18/07/2017. Política, p. A7.