Busca por crédito do BNDES cai 15% no primeiro semestre

Bruno Villas Bôas e Juliana Schincariol

19/07/2017

 

 

As consultas por financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - indicador de tendência dos desembolsos da instituição - cresceram 28% no segundo trimestre deste ano, frente aos três meses anteriores, para R$ 27 bilhões. Apesar de alguma melhora relativa no período, não é possível apontar uma tendência do indicador. Nos seis primeiros meses do ano, as consultas ao banco registraram queda de 15% na comparação com o mesmo período do ano passado, afetadas especialmente por indústrias e infraestrutura, de acordo com boletim divulgado ontem. Além disso, embora as consultas tenham sido 26% maiores em junho desta ano na comparação com o mesmo mês do ano passado, em relação a maio deste ano, houve um ligeiro recuo, de 2,5%.

De acordo com o banco, os desembolsos tiveram queda de 17% no primeiro semestre, frente ao mesmo período de 2016, para R$ 33,483 bilhões. Essa redução ocorreu em praticamente todos os setores com atuação do banco: na indústria (-42%, para R$ 6,9 bilhões), na infraestrutura (-6%, para R$ 12,113 bilhões) e no segmento de comércio e serviços (-13%, para R$ 7,571 bilhões). A exceção foi a agropecuária, com alta de 3% no semestre, a R$ 6,88 bilhões.

Ao comentar o desempenho do banco, o economista Fabio Giambiagi, superintendente da área de planejamento e pesquisa do BNDES, disse que os desembolsos vão reagir "cedo ou tarde" ao melhor desempenho das consultas, ainda que não se possa esperar "uma reversão imediata".

Durante entrevista, o superintendente afirmou que as consultas cresceram 26% em junho deste ano frente ao mesmo período do ano passado, resultado que reconheceu ser um ponto fora da curva.

A cautela tem motivos. Metade das consultas de junho foi concentrada em comércio e serviços. Neste segmento, totalizaram R$ 4,525 bilhões em junho deste ano, 232,7% maiores do que as de junho do ano passado (R$ 1,360 bilhão). O banco não informou se o comportamento está espalhado pelo setor ou teve origem em poucas consultas de grandes operações. Além disso, as consultas realizadas pelas indústrias recuaram 49% nos seis primeiros meses do ano.

Giambiagi ressaltou que a economia brasileira tende a se estabilizar este ano e que elementos indicam que o pior momento da crise pode ter ficado para trás, o que poderá ser visto no futuro como o início de uma recuperação da economia brasileira.

Sobre a crise política, ele destacou que as taxas de juros retornaram nos últimos dias a níveis parecidos com os de 16 de maio, antes do acirramento da crise política causado pela divulgação da delação premiada do empresário Joesley Bastista, um dos donos da JBS, no dia 17 daquele mês.

"Estamos vivenciando uma situação que indica que, apesar dos problemas inequívocos que o país tem tido nos últimos 20 anos e em particular nos últimos meses, há grandes avanços. Eu tenho 55 anos de idade, 30 anos de acompanhamento da economia brasileira e se alguém me dissesse tempos atrás que a gente iria viver uma situação de grande tensão política com juros em queda, inflação em queda e câmbio totalmente controlado, eu não acreditaria", afirmou.

Nos seis primeiros meses deste ano, além dos desembolsos, os resultados foram ruins em outras fases da operação do banco. Os enquadramentos de empréstimos recuaram 13%, para R$ 43,48 bilhões. E as aprovações de crédito recuaram 26%, para R$ 32,17 bilhões.

Marcelo Porteiro, superintendente de operações indiretas do BNDES, disse que uma das preocupações atuais do banco é destravar operações do Cartão BNDES, linha de crédito voltado para micro, pequenas e médias. Com a crise econômica e aumento da inadimplência, instituições financeiras que fazem repasse de recursos dessa linha colocaram o pé no freio e os desembolsos do cartão recuaram 58% no primeiro semestre.

Segundo o superintendente, a proposta é melhorar a remuneração das instituições financeiras repassadoras de recursos do Cartão BNDES. Isso seria feito mudando a fatia de remuneração do BNDES (65%) e instituições financeiras (35%) na operação. Os novos percentuais, porém, ainda não foram definidos. Porteiro também quer vincular essa remuneração ao desempenho das instituições nos desembolsos e ao volume emissão do cartão.

Em outra frente, o banco busca parcerias com companhias de comércio on-line para que as micro, pequenas e médias empresas comprem insumos e serviços pela internet usando o número do Cartão BNDES.

Apesar do resultado negativo do Cartão BNDES, Porteiro destacou que houve melhora no ânimo do empresário na busca de financiamento no BNDES Finame. Em junho, essa linha cresceu 28% frente ao mês do ano anterior. No primeiro semestre, os desembolsos recuaram 1%, para R$ 8,687 bilhões. Já a linha BNDES Progeren, de capital de giro, cresceu 367% de janeiro a junho deste ano, para R$ 3,296 bilhões.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4300, 19/07/2017. Brasil, p. A4.