Petista acusa juiz de se "comportar como czar"

Cristiane Agostine

19/07/2017

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, se comporta como um "czar" e disse que não há provas que justifiquem a decisão do magistrado de condená-lo a nove anos e meio, sob acusação dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em entrevista à rádio Capital, de São Paulo, Lula afirmou que é vítima do mesmo processo político do "golpe" que tirou Dilma Rousseff da Presidência e voltou a divulgar sua candidatura presidencial para 2018. O ex-presidente repetiu ontem que se sente indignado e que a condenação em primeira instância "vai se transformar em necessidade de andar mais pelo país". No próximo mês, o petista fará uma série de viagens pelo Nordeste, com início na Bahia. Lula disse que o inquérito e a acusação contra ele são "mentiras" e voltou a criticar os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, entre representantes da Polícia Federal e do Ministério Público. O ex-presidente afirmou que não vai permitir que "meia dúzia de jovens" mal-intencionados manchem sua honra. "Me sinto indignado, ofendido. O processo é uma farsa, ilegítimo", disse na entrevista.

O petista negou ser dono do apartamento tríplex no Guarujá (SP), alvo de investigações na Lava-Jato, e afirmou que se não apresentarem provas contra ele "não vale a pena acreditar na Justiça nesse país". "Moro não pode se comportar como czar. Ele não deixa a defesa falar", disse ao apresentador Eli Corrêa, da rádio Capital. "O objetivo é tentar evitar a volta do Lula. Eles deram um golpe e se eu voltar [à Presidência] o golpe não fecha". Vestido com um blusão esportivo com as cores do Brasil, Lula desconversou ao ser questionado se estava "enquadrando" o PT a defender sua candidatura presidencial e disse que quer se lançar para defender seus oito anos de mandato. "Foi o maior momento econômico", disse, referindo-se às suas duas gestões. O ex-presidente disse que ele é quem tem condições de ser candidato para "consertar" o país. "Eu tenho condições porque já provei que sou capaz de governar esse país. Não tem nenhuma explicação para o país estar na situação que está", disse. Lula não poupou sua sucessora e afilhada política de críticas e disse que não concordou com propostas de reforma defendidas por Dilma, nem com a política de desonerações do governo da ex-presidente. No entanto, o petista disse que o impeachment mostrou que "o problema não era Dilma" e afirmou que o presidente Michel Temer não tem condições de continuar governando. "O Brasil, que era o país da moda, o mais badalado, virou essa vergonha de mentiras, destruição e desemprego", afirmou. "Quando falo que tenho vontade de disputar é porque estou convencido de que posso consertar esse país".

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4300, 19/07/2017. Política, p. A8.