"Bancada da bala" tenta crescer no Senado

Raphael Di Cunto

21/07/2017

 

 

Estimulados pelo crescimento do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, parlamentares da bancada da bala querem aproveitar a candidatura para conquistar mais espaço no Congresso Nacional. O grupo planeja concorrer ao Senado em pelo menos sete Estados. Esses parlamentares têm funcionado como uma espécie de "coordenadores informais" da pré-campanha de Bolsonaro, organizando reuniões com eleitores e empresários em viagens pelo Brasil e se dizem impressionados com a popularidade do deputado, recebido por multidões em aeroportos e que têm lotado auditórios. O deputado Fernando Francischini (SD-PR), ex-delegado da Polícia Federal, diz que os vídeos que gravou com o presidenciável em visitas ao interior do Paraná tiveram milhões de visualizações nas redes sociais. O pré-candidato tem 4,4 milhões de seguidores no Facebook. "Meu eleitor também simpatiza com as ideias dele, só cresci nas pesquisas com essa associação", afirma. Para Francischini, as visitas mostraram que a direita está mais forte nas ruas e poderá fazer uma campanha barata. "Tem uma militância espontânea, que encheu um auditório só para ouvi-lo, sem que precisássemos alugar transporte ou pagar refeição. Ele acha que com essa mídia dá para tocar a candidatura até o segundo turno", disse o deputado, representante no Congresso da terra do juiz Sergio Moro, onde Lula é o terceiro nas pesquisas. A bancada da bala, conhecida por atuar no Congresso contra o desarmamento, pelo endurecimento de punições para criminosos, como a redução da maioridade penal, e a favor de categorias policiais e militares, é um dos principais grupos de apoio do deputado de sétimo mandato, mas que conseguiu se desvencilhar da fama de político.

Por enquanto, o grupo fala em sete candidaturas ao Senado. Cinco são de deputados federais: pastor Marco Feliciano (PSC) em São Paulo, Francischini no Paraná, delegado Waldir Oliveira (PR) em Goiás, Alberto Fraga (DEM) no Distrito Federal e delegado Éder Mauro (PSD) no Pará. Um dos filhos de Bolsonaro, o deputado estadual Flávio (PSC), concorrerá no Rio e o senador Magno Malta (PR-ES) deve disputar a reeleição. Todos com palanque para o pré-candidato. Campeões de votos em seus Estados na eleição de 2014 para a Câmara, eles tentam convencer ainda o deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB), quinto mais votado em Santa Catarina e autor de projeto de lei para revogar o Estatuto do Desarmamento, a disputar o Senado, mas o pemedebista afirma que é candidato à reeleição. O grupo só está dividido sobre acompanhar Bolsonaro em seu novo partido, ainda não definido. A maioria tende hoje a permanecer onde está. O deputado brigou com o presidente do PSC e está à procura de uma nova sigla. Ao Valor, disse que está entre o PSDC - que divulgou nota negando-, o PHS ou o Muda Brasil, novo partido que o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, tenta fundar para ser um suporte ao PR.  Aliados dizem que Bolsonaro está mais propenso a essa última alternativa, mas o desaconselham. Afirmam que Costa Neto não garantirá a legenda para concorrer e vai rifa-lo em troca de uma aliança melhor para o PR. Já um dos maiores entusiastas da filiação ao Muda Brasil é Magno Malta, que deseja concorrer a vice numa chapa com o deputado. Há expectativa de que, no novo partido, Bolsonaro atraia uma série de militares e entusiastas para candidaturas a deputado.

Enquanto Bolsonaro, que figura em segundo lugar nas pesquisas, ora empatado tecnicamente com a ex-senadora Marina Silva (Rede), ora isolado na disputa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não decide seu partido, seus "coordenadores informais" programam eventos em seus Estados para "surfar na onda" da pré-candidatura. Fraga, coronel da reservada da Polícia Militar e o mais votado em 2014, lembra que Bolsonaro lidera pesquisas de intenção de voto no DF e exibe orgulhoso uma campanha compartilhada nas redes sociais com uma chapa dos dois e o slogan "nesses podemos confiar". "É espontâneo, talvez porque sejamos muito parecidos, defendemos as mesmas ideias sobre segurança pública, temos o mesmo perfil", afirmou o presidente da bancada da bala. "Acho que a única diferença é que eu sou menos radical." O deputado do DEM diz que pretende concorrer ao Palácio do Buriti em 2018, mas políticos do Distrito Federal e integrantes da bancada afirmam que o projeto é mesmo o Senado. Já o delegado Éder Mauro (PSD-PA) cita a eleição para a Prefeitura de Belém, quando concorreu sem apoios e acabou em terceiro, para justificar que ainda não sabe se abrirá mão de uma "reeleição certa" para tentar o Senado. "Vai depender da Lava-Jato, de como ficarão os grupos políticos do Estado", disse. Mas ressalta "que o apoio do Bolsonaro é um diferencial" e prepara uma visita do aliado à festa do Círio de Nazaré, um dos maiores eventos religiosos do mundo, em outubro. "Tem grupos do interior organizando caravanas só para ver ele", disse.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4302, 21/07/2017. Política, p. A9.