Aumento na conta de luz e imposto podem pressionar taxa de inflação no mês que vem

Thais Carrança

25/07/2017

 

 

A possível volta da bandeira vermelha nas contas de luz em agosto acrescentaria entre 0,07 e 0,08 ponto percentual na inflação prevista para o mês, calculam economistas. Em vigor desde 2015, o sistema de bandeiras tarifárias acrescenta valor adicional nas contas de energia para sinalizar ao consumidor a necessidade de acionamento de usinas mais caras.

Agosto também deve concentrar os efeitos da elevação de impostos sobre combustíveis, anunciada na semana passada, com impacto de 0,50 a 0,60 no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A atividade econômica fraca, no entanto, mantém a dinâmica da inflação favorável para o ano, apesar desses efeitos de curto prazo.

Flávio Serrano, economista-sênior do Haitong, estima que o acréscimo nas tarifas de R$ 3 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, com o acionamento do primeiro patamar da bandeira vermelha, resultaria em alta de 2,1% na energia elétrica em agosto, com efeito de 0,08 ponto percentual sobre o IPCA do mês.

O banco projeta o impacto do reajuste de tributos sobre combustíveis entre 0,50 e 0,60 ponto percentual sobre a inflação de agosto, que pode ser parcialmente compensado pela redução de preços de derivados pela Petrobras nas refinarias, como resultado da nova política de preços da estatal.

Serrano estima o IPCA de agosto em 0,50% a 0,60%, o que poderia ser elevado à faixa de 0,60% a 0,70%, caso o acionamento da bandeira vermelha se confirme - o cenário-base do Haitong é de bandeira amarela para o próximo mês. Para julho, a projeção é de IPCA de 0,15%. Para o fim de 2017, 3,8%.

"O nível de preços da energia elétrica hoje, na casa de R$ 260 a R$ 270 [por MWh], ainda está um pouco distante do nível de bandeira vermelha patamar um -R$ 422 por MWh. Mas, dada a volatilidade e o nível muito baixo dos reservatórios, é possível que haja um aumento na utilização das termelétricas e isso acabe acionando a bandeira vermelha", diz Serrano.

O economista afirma que, na mesma época do ano passado, a energia armazenada média, ponderada para todos os submercados, estava em 53%. Hoje, a energia armazenada em todo o sistema está em 43%, segundo o cálculo do Haitong. Com isso, há o risco de a bandeira tarifária fechar o ano amarela ou vermelha, com impacto para a inflação anual, já que em dezembro do ano passado a bandeira era verde - sem acréscimo nas contas de luz.

Outro "risco" para a inflação, entre os preços administrados, seria uma alta dos combustíveis pela Petrobras, que mantém preços alinhados ao mercado global. Isso pode acontecer caso o petróleo volte a subir ou ocorra piora na tensão política, resultando em depreciação do câmbio. "Esses são os dois principais riscos. Para os demais preços administrados, não esperamos grandes pressões", afirma Serrano.

O economista Daniel Silva, da Modal Asset, avalia que uma possível bandeira tarifária vermelha em agosto teria efeito de 0,07 ponto percentual na inflação, somado a impacto de 0,50 ponto do reajuste de PIS/Cofins sobre a gasolina, etanol e diesel, resultando num impacto extra de 0,57 ponto percentual no mês.

Conforme Silva, os preços administrados têm apresentado comportamento bastante positivo no ano. Contribuíram para isso a decisão das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro de não reajustar tarifas de ônibus, e a nova política de preços de combustíveis da Petrobras.

Para o segundo semestre, além do efeito do aumento de PIS/Cofins sobre a gasolina e o risco de bandeira vermelha no curtíssimo prazo, Silva avalia que há a possibilidade de a bandeira amarela continuar até o fim do ano.

Apesar disso, no acumulado do ano, a inflação deve continuar comportada em todos os grupos, ajudada pela atividade fraca, avalia Silva. Mesmo com o recente aumento de impostos, a perspectiva do mercado para o IPCA ao fim do ano deve permanecer abaixo da meta de 4,5%, prevê.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4302, 25/07/2017. Brasil, p. A3.