Consumo mostra fôlego, mas não evita 2º tri negativo, diz Ibre

Arícia Martins

25/07/2017

 

 

Ao contrário da indústria de transformação e dos investimentos, o consumo das famílias vem mostrando dinâmica mais positiva do que o esperado, em linha com o quadro de recuperação lenta e gradual da atividade. Ainda assim, não será possível evitar a contração do PIB no 2º trimestre. A avaliação é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Na edição de julho do Boletim Macro, divulgada com exclusividade ao Valor, a equipe de conjuntura do Ibre aponta que o desempenho "razoavelmente positivo" dos indicadores de atividade em maio melhorou ligeiramente a previsão para o comportamento do PIB de março a junho. Mesmo assim, a entidade ainda prevê redução de 0,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) entre o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais. As projeções para o crescimento em 2017 e 2018 foram mantidas em 0,2% e 1,8%, respectivamente.

"O cenário de recuperação lenta e gradual da economia continua a valer, mas o ritmo de melhora não será ser suficiente para evitar contração do PIB no segundo trimestre", afirmam os economistas Silvia Matos e Julio Mereb. Pelo lado da oferta, estimam eles, a indústria deu contribuição negativa ao PIB no período, com queda de 1,4%, enquanto os serviços devem ter recuado 0,9% e o setor agropecuário cresceu 8,4%. No primeiro trimestre, porém, a alta foi maior, de 13,4%.

Segundo Mereb, a reação da indústria está ocorrendo, mas é menos sólida do que o previsto no início do ano. Depois de ter aumentado 0,8% em maio, a expectativa é que a produção industrial tenha obtido desempenho próximo da estabilidade em junho, diz o economista, percepção obtida a partir de poucos indicadores antecedentes já divulgados.

Por outro lado, os dados do varejo sugerem que o volume de vendas deve ter subido no sexto mês do ano, pondera o pesquisador. Na medição anterior, o varejo ampliado - que inclui os setores de automóveis e material de construção - caiu 0,7%.

"No comércio varejista, a despeito das oscilações e da volatilidade nos números resultante da nova amostra de empresas informantes na pesquisa do IBGE, os dados continuam a apresentar uma trajetória de gradual recuperação", avaliam Silvia e Mereb. "O varejo saiu de um fundo do poço e agora está perto de zero", acrescentou o economista.

De acordo ele, a retomada do comércio, ainda que modesta, é compatível com o processo de melhora das condições financeiras das famílias. O índice elaborado pelo Ibre que mede o quão apertado está o orçamento dos consumidores está em nível próximo da neutralidade, destaca ele, depois de ter atingido o pico de alta de 6,1% em fevereiro do ano passado, na comparação com igual mês do ano anterior.

As concessões de crédito para a pessoa física têm melhorado no período recente, o processo de desalavancagem do orçamento das famílias segue em curso e os juros continuam em queda, aponta Mereb, fatores que explicam o alívio nas condições financeiras. Para o Ibre, a continuidade da flexibilização da política monetária deve contribuir para que o indicador caminhe para terreno negativo no segundo semestre, o que significa que as condições para a tomada de crédito estarão frouxas.

"Finalmente, é provável que os recursos do FGTS liberados para saque estejam também dando um impulso positivo, porém pontual, às vendas no setor varejista", observa a equipe de conjuntura do Ibre". Mesmo assim, a entidade prevê que o consumo seguirá em rota de alta na segunda metade de 2017. Para a média do ano, a expectativa é de estabilidade da demanda das famílias (alta de 0,1%), depois dos tombos de 3,9% e 4,2% registrados em 2015 e 2016, respectivamente.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4302, 25/07/2017. Brasil, p. A3.