O globo, n.30713 , 08/09/2017. ARTIGOS, p.13

Razões para ser contra

NEY CARVALHO

08/09/2017

 

 

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As privatizações dos anos 1990 tiveram três falanges de opositores: ideológicas, fisiológicas e corporativas. É importante examiná-las para que seja possível identificar os inimigos atuais e mais aguerridos do necessário processo de modernização da economia brasileira.

A primeira de tais legiões, a ideológica, era comandada, à época, por personagens de peso na vida pública nacional como Miguel Arraes, Leonel Brizola, Barbosa Lima Sobrinho e até o Lula de antanho. Hoje, em tal exército figuram elementos de segundo time, pequenos senadores e deputados de esquerda, no mais das vezes enredados em inquéritos de corrupção na Lava-Jato ou similares. Atualmente, é de somenos importância. Promove um pouco de ruído, mas jamais passará disso.

A ala fisiológica está abalada pelas mesmas investigações. Mas segue perigosa, pois possui tentáculos legislativos que podem obstruir os necessários processos de privatização. São políticos habituados a indicar diretores e funcionários de estatais com vistas à obtenção de vantagens ilícitas, haja vista o que ocorreu na Petrobras nos tempos do lulopetisno.

A falange corporativa — representada pelos funcionários e diretores daquelas companhias — é, sem dúvida, o mais combativo contingente de inimigos atuais das privatizações. Seu objetivo é a preservação das benesses e vantagens desmedidas que o Estado, patrão sempre complacente, outorga a seus empregados.

Quando da autorização pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para a privatização da Cedae, houve inúmeras fanfarras em frente ao Palácio Tiradentes, sede daquela câmara. Nelas predominavam as bandeiras, e os uniformes azuis dos funcionários, da dita companhia. A grande resistência ao processo revelava-se eminentemente corporativa.

Recentemente, a Eletrobras foi colocada à frente de novas privatizações federais. Trata-se da exumação do primeiro grande dinossauro herdado do período jurássico de nossa economia denominado de Era Vargas. Foi naqueles tempos quase paleontológicos que vicejou a estatização no país, ampliada pouco adiante pelos governos militares, também originados na mesma e retrógrada filosofia positivista. Até hoje essa corrente de pensamento engessa e fossiliza o desenvolvimento do país.

Logo após o anúncio de privatização da Eletrobras a imprensa noticiava, em 22 de agosto, que os funcionários da companhia e sua associação de empregados estavam planejando uma paralisação com o apoio, desnecessário dizer, da CUT e de outra entidade, certa Confederação Nacional dos Urbanitários. O objetivo era barrar a venda da empresa.

Trata-se da prova provada que os grandes inimigos das privatizações na atualidade são, sobretudo, os funcionários das estatais. Pela simples razão que, de fato, se sentem e agem como autênticos donos das companhias. E não a coletividade, ou a pátria, segundo a cartilha nacionalista.

Só esquecem que quem paga suas mordomias escandalosas somos todos nós, contribuintes brasileiros.

 

*Ney Carvalho é escritor e historiador