Correio braziliense, n. 19731, 04/06/2017. Política, p. 2

 

Loures é preso. Defesa vê pressão

Renato Souza e Alessandra Modzeleski 

04/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Ex-assessor de Temer está em cela da PF. Defesa afirma que ele não pretende fazer delação premiada. Mas presidente viaja a SP às pressas para falar com advogado

Pouco depois das 7h de ontem, chegou à Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), acusado pela Procuradoria-Geral da República de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com prisão preventiva determinada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), Loures está sozinho em uma cela de 9m2, com um beliche e uma cama. Não há janelas, tevê, pia ou chuveiro. Amanhã, Loures deverá ser transferido para a Papuda.

A prisão deixou o Planalto em alerta, já que Loures foi assessor direto do presidente Michel Temer. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, no pedido de prisão, que Loures é “homem de total confiança” e “verdadeiro longa manus” do presidente. O pedido de prisão da PGR foi feito na tarde de quinta-feira.

Temer, que havia chegado de São Paulo na madrugada de ontem, voou de volta para a capital paulista às 10h30, depois de tomar conhecimento da prisão do ex-assessor. Temer chegou pouco antes de meio-dia e foi diretamente para seu escritório pessoal, em um prédio comercial. Reuniu-se ali com o advogado, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, responsável pela defesa do presidente.

O advogado de Loures, Cezar Bittencourt, afirmou, na sexta-feira, que o objetivo da prisão é “forçar uma delação”, o que, de acordo com o defensor, seu cliente não pretende fazer. Bittencourt estava em Curitiba quando a PF prendeu Loures e pretendia vir para Brasília ontem mesmo, mas perdeu dois voos. Loures recebeu visita de outros dois advogados ontem pela manhã. A defesa pretende entrar amanhã com recurso contra a prisão.

Janot já havia pedido anteriormente a prisão de Loures, que foi negada por Fachin, relator da Lava-Jato no STF. O ministro explicou, ao se decidir pela prisão, que não pôde fazer isso antes porque Loures exercia o mandato de deputado — ganhou assento na Câmara em fevereiro, quando Osmar Serraglio (PMDB-PR) tornou-se ministro da Justiça. No domingo passado, Serraglio foi substituído por Torquato Jardim na pasta, por determinação de Temer. Foi-lhe oferecido o Ministério da Transparência, cargo ocupado antes por Jardim, mas Serraglio não aceitou. Voltou à Câmara, o que fez Loures perder o mandato. Na nova decisão, Fachin argumentou que “a prisão é imprescindível para interromper o cometimento de crimes”.

Gravações

Loures foi gravado em conversas com o empresário Joesley Batista, em que demonstram, para a PGR, tráfico de influência. Ele foi flagrado em uma das ações controladas da PF recebendo uma mala com R$ 500 mil da JBS, que seria parte de uma propina a ser paga a ele e a Temer. O presidente e Loures foram gravados pelo empresário Joesley Batista, dono da holding J&F, que acusa ambos de cobrarem propina em troca de favores no governo. Eles negam as acusações.

Temer é investigado em  um inquérito no STF. A expectativa, agora, é de que a PGR acelere a apresentação de denúncia contra o presidente para esta semana. Caso a denúncia seja aceita pelo STF, Temer se tornará réu e será afastado do cargo, o que depende, porém, de autorização da Câmara dos Deputados. São necessários 431 votos, entre os 513 deputados, para que isso ocorra. Avalia-se também, sa prisão de Loures influenciará o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, na terça-feira, retomará o julgamento da ação que pode levar à cassação da chapa Dilma Rousseff-Temer (leia nas páginas 4 e 5).

Para assessores próximos de Michel Temer, Janot tem sido irresponsável nas acusações a Temer, omitindo, nas gravações e e-mails trocados entre Loures e Batista, trechos que inocentam o presidente.