O globo, n.30713 , 08/09/2017. PAÍS, p. 4

PF ENCONTRA DIGITAIS DE GEDDEL TAMBÉM NAS NOTAS DE DINHEIRO

VINICIUS SASSINE

08/09/2017

 

 

Depoimentos e risco de fuga podem levar ex-ministro de novo à prisão

Novos indícios reunidos pela Polícia Federal (PF) reforçam a associação dos R$ 51 milhões achados em um apartamento em Salvador a Geddel Vieira Lima e complicam ainda mais a situação do ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer. O político baiano corre o risco de ser preso.

A PF elencou quatro fatos que deixam Geddel em situação delicada: as digitais do exministro colhidas no apartamento onde houve a busca estavam impressas no próprio dinheiro e no material que acondicionava as notas; uma segunda testemunha ouvida após a operação policial confirmou que o espaço havia sido cedido a Geddel, corroborando o que disse o dono do imóvel; uma segunda pessoa é suspeita de auxiliar o peemedebista na destinação das caixas e malas de dinheiro; e a PF identificou risco de fuga depois da revelação da história da maior apreensão de dinheiro vivo já registrada no Brasil.

A origem dos R$ 51 milhões ainda permanece misteriosa. A suspeita da PF é que parte do dinheiro se trate de propinas para viabilizar a liberação de crédito do FI-FGTS a empresas. O peemedebista foi vicepresidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013, que cuida da gestão desses recursos, indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ele também foi ministro no governo Lula.

O caso é analisado na Justiça Federal em Brasília. O ex-ministro foi preso preventivamente em 3 de julho no âmbito da Operação Cui Bono?, suspeito de atrapalhar investigações. Ele obteve o direito de cumprir prisão domiciliar, determinada pelo Tribunal Regional Federal (TRF-1) da 1ª Região. Geddel deixou o Presídio da Papuda, em Brasília, no dia 13 de julho, e segue em seu apartamento em Salvador sem tornozeleira eletrônica. O dispositivo está em falta na Bahia.

Os fatos novos, surgidos na Operação Tesouro Perdido, que apreendeu os R$ 51 milhões, podem motivar uma nova prisão de Geddel, independentemente do benefício obtido no TRF. Para isso, PF ou Ministério Público Federal (MPF) teriam que fazer o pedido à Justiça em Brasília.

 

ALUGUEL ANTERIOR

Na última quarta-feira, O GLOBO revelou que a PF já havia reunido indícios de que a relação do ex-ministro com o edifício onde foram apreendidos os R$ 51 milhões é mais antiga do que se sabia até então. Na terça-feira, a PF cumpriu o mandado de busca no apartamento de número 201 num edifício residencial em Salvador, considerado um “bunker” usado por Geddel para guardar o dinheiro. Os agentes descobriram que o ex-ministro, um dos integrantes do PMDB mais próximos de Temer, alugou há cerca de cinco anos o apartamento de número 202 do mesmo edifício e fez a transferência dos pertences para o 201, depois de o imóvel que era usado inicialmente por ele ter sido vendido.

As informações foram registradas em relatório da PF, que pediu à Justiça Federal em Brasília a expedição de mandado de busca e apreensão no apartamento, localizado na Rua Barão de Loreto, no bairro Graça. O MPF concordou, e o juiz Vallisney de Souza, da 10ª Vara Federal, autorizou a busca.

No local, os policiais encontraram oito malas e seis caixas que guardavam dinheiro vivo. Foram necessários carros-fortes, 14 horas e máquinas de contagem de dinheiro para quantificar os R$ 42 milhões e US$ 2,688 milhões encontrados no imóvel.

A PF já desconfiava que encontraria dinheiro no apartamento, como consta do relatório que embasou a decisão da busca e apreensão. Vizinhos ouvidos pelo setor de inteligência relataram ter visto Geddel levar malas ao apartamento. Os policiais também esperavam encontrar documentos relacionados aos supostos crimes investigados na Operação Cui Bono?