Título: Três perguntas para...
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2012, Ciência, p. 26

Luciano Paulino Silva, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Como os seres se adaptam à Antártida? Entre as regiões do planeta mais inóspitas à manutenção da vida, a Antártida certamente ocupa uma das primeiras posições. O ambiente é continuamente assolado por temperaturas baixas e índices de radiação ultravioleta altos. Entretanto, organismos de todos os reinos estão presentes no local. Muitos deles sofreram adaptações em suas células e moléculas para conseguir fazer a manutenção de atividades fisiológicas fundamentais à vida. Entre os organismos vivos mais bem adaptados ao ambiente antártico, os peixes se destacam pela abundância, pela diversidade e por permanecerem na região mesmo durante o rigoroso inverno. A subordem mais abundante de peixes na região é a Notothenioidei, representada por oito famílias, com 43 gêneros e 129 espécies conhecidas.

O senhor poderia descrever seus estudos sobre os nototenioides? Nossos estudos, que vêm sendo desenvolvidos na Embrapa com instituições como a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de São Paulo (USP), buscam isolar e caracterizar moléculas de peixes nototenioides antárticos, em particular moléculas com potencial atividade antimicrobiana, anticongelante e que absorvem radiação UV. Adicionalmente, queremos investigar as adaptações dos peixes antárticos no que diz respeito à atividade antioxidante, à composição de membranas e à estrutura de suas células e tecidos.

Qual a aplicabilidade dessas descobertas? Identificamos em órgãos e tecidos dos nototenioides diversas moléculas que permitem manter sua atividade biológica mesmo no frio. Esse resultado pode levar a pesquisas direcionadas ao aumento da tolerância de plantas ao frio ou a programas voltados à criopreservação (congelamento) de material genético, como amostras de sêmen, óvulos e embriões. Moléculas com atividades anticongelantes, antimicrobianas ou antioxidantes sintetizadas podem vir a ser utilizadas como aditivos na indústria alimentícia de produtos congelados.