O Estado de São Paulo, n. 45198, 17/07/2017. Política, p. A6.

 

Com denúncia, Temer recebe 82 deputados

Isadora Peron

17/07/2017

 

 

PRESIDENTE ACUSADO / Para derrubar acusação, presidente intensifica agenda e se reúne com 15% do total de integrantes da Câmara; 16 senadores vão ao Planalto

 

 

Desde que a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva contra Michel Temer chegou à Câmara dos Deputados, o presidente intensificou o corpo a corpo com parlamentares e fez do Palácio do Planalto uma extensão do Congresso. Levantamento feito pelo Estado mostra que, desde 29 de junho até ontem, 82 deputados e 16 senadores foram recebidos pelo peemedebista.

Os números representam 15% dos 513 deputados e 20% dos 81 senadores. A preferência por agendas com parlamentares fica ainda mais evidente se comparado aos encontros oficiais de um período anterior similar em número de dias. Entre o dia 1.º e 18 de junho, por exemplo, o presidente teve reunião com 31 deputados e dez senadores. Mesmo com o surgimento da crise, após a delação dos empresários da JBS vir à tona, Temer recebeu menos deputados do que nas últimas semanas.

No dia mais intenso, 4 de julho, o peemedebista chegou às 8 horas ao Planalto e deixou o gabinete presidencial somente depois das 22h30, após receber 30 deputados. Às vésperas da votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na quintafeira passada, Temer recebeu um total de 49 deputados, 27 na terça-feira e 22 na quarta-feira.

Dos 40 parlamentares que votaram a favor de Temer na CCJ, o presidente esteve com mais da metade deles: 26. Somente o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), autor do relatório contra a aceitação da denúncia, esteve quatro vezes no Planalto nesse período. Anteontem, o tucano almoçou com o presidente no Palácio do Jaburu.

A chamada tropa de choque do governo também marcou presença constante no Planalto. O líder do PMDB, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), esteve 11 vezes no palácio; os três deputados líderes do governo – Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), André Moura (PSC-SE) e Lelo Coimbra (PMDB-ES) – também lideram a lista dos mais assíduos. Completam essa relação Carlos Marun (PMDB-MS), Beto Mansur (PRB-SP) e Darcísio Perondi (PMDB-RS), que ontem esteve com o presidente no Jaburu.

O levantamento foi feito apenas com base nos encontros registrados nas agendas oficiais, mas o número pode ser maior. Esse grupo de deputados mais próximos a Temer costuma ir e vir do Planalto diversas vezes durante o dia, sem que os encontros sejam registrados. Também não foram contabilizados, por exemplo, a quantidade de deputados que foram recebidos em duas reuniões, uma com a bancada de Mato Grosso (8 deputados) e outra com a do Maranhão (18 deputados), pois a agenda de Temer não discriminava quem esteve presente.

 

‘Boa relação’. O líder do PMDB na Câmara minimizou a quantidade de deputados recebidos por Temer nas últimas semanas. “Ele sempre teve uma agenda muito aberta para os parlamentares. Mas isso é importante, os deputados sempre pedem reuniões, é importante que o presidente atenda”, afirmou Baleia Rossi.

Vice-líder do governo, Beto Mansur também disse que Temer sempre teve uma boa relação com o Congresso e vai continuar recebendo os deputados nas próximas semanas. Segundo ele, não é à toa que presidentes como Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff, que mantinham uma relação distante dos parlamentares, sofreram impeachment. “Presidente com boa relação com o Parlamento não cai”, disse.

Segundo o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), Temer mantém a capacidade de diálogo como uma característica. Ele afirmou que os deputados foram chamados para que o presidente pudesse explicar a sua versão dos fatos sobre a denúncia que pesa contra ele por corrupção passiva. O PP foi o primeiro partido a fechar questão contra o prosseguimento da investigação.

 

Questionamento. A oposição, no entanto, tem feito críticas à mobilização de Temer para tentar derrubar a denúncia. Além da agenda intensa, destacam que o governo está usando dinheiro público, com a liberação de emendas e de recursos para obras, para convencer os deputados a votar com ele.

O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) disse que vai entrar hoje com um pedido para que a Procuradoria-Geral da República investigue o caso. “Queremos impedir que Temer continue usando dinheiro público para obstruir a Justiça e permanecer impune com a ajuda do Congresso”, afirmou.

 

“Presidente com boa relação com o Parlamento não cai.”

Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo

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Governo quer facilitar remanejo de verbas de emendas parlamentares

Adriana Fernandes / Isadora Peron

17/07/2017

 

 

Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias enviado por Temer permite a bancadas fazer troca de obras

 

 

Em meio à polêmica em torno da aceleração de liberação de recursos na véspera da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, o governo decidiu facilitar a troca de obras previstas nas emendas de bancadas. Esse tipo de emenda coletiva é definido pelas bancadas e visa a atender a obras prioritárias acertadas pelos parlamentares de cada Estado.

É mais uma medida do governo para ajudar a acelerar a execução das obras de interesse dos parlamentares com recursos orçamentários. Ela dá mais liberdade a deputados e senadores para realocarem as emendas para novos gastos de maior interesse das bancadas.

A mudança foi incluída em projeto enviado por Temer que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano. Segundo apurou o Estado/Broadcast, essa foi uma demanda dos líderes dos partidos que pediram mais liberdade para as bancadas conseguirem recursos para obras mais adiantadas.

A polêmica sobre a liberação de emendas aumentou depois que deputados oposicionistas começaram a mapear a evolução dos empenhos feitos pelo governo e identificaram que houve uma aceleração nos dias que antecederam a votação do pedido de denúncia do presidente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O governo nega qualquer relação.

 

‘Prioridades’. Segundo o coordenador da bancada de Mato Grosso, deputado Professor Victório Galli (PSC), a alteração da LDO torna mais flexível a determinação de prioridades. A bancada do Estado, afirmou, tem a intenção de repassar parte das emendas de investimento em equipamentos de saúde para gastos de custeio na área.

Para o coordenador da bancada do Espírito Santo, deputado Marcus Vicente (PP), a medida é um consenso dos líderes. No caso do Espírito Santo, a bancada quer remanejar recursos da BR 259 para a BR 262 ou para a contorno do Mestre Álvaro, obra rodoviária que contorna a região metropolitana de Vitória. “É uma necessidade (a troca de obras), porque há algumas coisas que precisam ser readequadas”, disse o deputado.

O projeto que altera a LDO, encaminhado pelo governo, prevê que essa substituição de programações possa ser feita pelo Executivo, sem ter de passar pelo Legislativo. “O objetivo é tornar o processo mais simples e ágil”, disse o Ministério do Planejamento em nota.

 

Recursos

R$ 266 mi

foram repassados para deputados da base do governo Michel Temer que compõem a Comissão de Constituição e Justiça e votaram contra parecer pela admissibilidade da denúncia. Dos 40 parlamentares que rejeitaram o parecer de Sergio Zveiter (PMDB-RJ), 39 tiveram emendas empenhadas pelo governo.

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Leitura do parecer aprovado na CCJ deve ficar para dia 1º

Isadora Peron

17/07/2017

 

 

Sem conseguir votar a denúncia contra o presidente Michel Temer antes do recesso parlamentar, o governo não mobilizou os deputados para que o parecer aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) seja lido no plenário hoje.

Para que haja sessão, é necessário que 51 deputados marquem presença. Na sexta-feira passada, a leitura do relatório foi adiada porque apenas 24 parlamentares estavam na Casa. Segundo o líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), o novo cronograma do governo prevê a leitura no dia 1.º de agosto, a primeira sessão após a volta do recesso.

A leitura é uma das etapas necessárias para que a votação no plenário, marcada para o dia 2, ocorra. Somente depois de ser lido, o parecer poderá ser publicado no Diário Oficial da Câmara e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), será notificado para que possa incluir a denúncia na pauta de votação.

O governo queria ter realizado a votação antes do recesso parlamentar, mas concordou em adiá-la porque, sem a ajuda da oposição, não conseguiria colocar 342 deputados no plenário para dar início à sessão.

O número foi uma exigência de Maia, sob a alegação de que o resultado da votação poderia ser contestado no Supremo Tribunal Federal (STF) se ocorresse com um quórum menor. Para que a denúncia contra Temer tenha seguimento, é preciso o apoio de 342 deputados.

 

Gaveta. Após o revés, líderes governistas passaram a insinuar que poderiam simplesmente “engavetar” a denúncia, isto é, não votá-la, pois assim Temer continuaria na Presidência da República. Segundo deputados da base, o interesse em votar a denúncia e afastar Temer do Palácio do Planalto era da oposição e, portanto, eles que deveriam colocar os 342 parlamentares no plenário da Câmara.

Uma das vantagens de não votar a denúncia em agosto, apontam os governistas, seria aguardar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar uma nova acusação formal contra o presidente e poder votá-las em conjunto em uma mesma sessão. 

 

Quórum. São necessários 51 deputados para abrir sessão