Bolsonaro confirma saída para o PEN e diz se preocupar com o distritão

Cristian Klein

01/08/2017

 

 

Pré-candidato à Presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro vai trocar o Partido Social Cristão (PSC) pelo Partido Ecológico Nacional (PEN) mas receia que o Congresso aprove o distritão como novo sistema eleitoral. Ao Valor, Bolsonaro confirmou a mudança para o PEN, depois de conversar com muitos partidos pequenos, interessados sobretudo na possibilidade de que a candidatura presidencial puxe a votação para deputado federal e ajude a ultrapassar a cláusula de desempenho proposta na reforma política. Discute-se o patamar mínimo inicial de 1,5% dos votos à Câmara. "A cláusula de barreira a gente vence", afirma Bolsonaro. Com a aprovação do distritão, porém, a lógica é que as legendas lancem menos concorrentes a deputado federal e estadual, o que reduziria o exército de candidatos que o ex-militar Bolsonaro espera transformar em cabos eleitorais no ano que vem. "Não vai ser democrático. A tática dos partidos será lançar dois, três candidatos no máximo", diz. O parlamentar vai esperar a abertura da janela de filiação partidária de 30 dias - prevista para fevereiro e março mas que pode ser antecipada pela reforma eleitoral - para migrar para o PEN, sem o risco de perder o mandato. Antes disso, no entanto, já estará fazendo a mudança do seu grupo político, que inclui os filhos Flávio, deputado estadual, e Carlos, vereador, ambos no Rio, e Eduardo Bolsonaro, deputado federal por São Paulo. "Já estamos decidindo o nome do partido e vamos partir para as filiações", afirma.

Fundado em 2012, e interessado em abrigar a ex-senadora e ambientalista Marina Silva, então de saída do Partido Verde (PV) para concorrer à Presidência em 2014, o PEN leva no nome a marca da ecologia. Como Bolsonaro e o eleitorado dele é refratário a bandeiras defendidas para o setor, o partido já lançou enquete em seu site para o rebatismo. São quatro opções: Patriota, Pátria Amada Brasil, Republicanos e Prona - mesma denominação da legenda criada por Enéas Carneiro (1938-2007), fenômeno eleitoral que se candidatou a presidente em 1989, 1994 e 1998. "Já tem o PV. E não há compreensão por parte do eleitorado sobre a questão da ecologia", justifica o deputado, favorável ao agronegócio e crítico da demarcação de reservas indígenas. Bolsonaro diz que as conversas com o presidente do PEN, Adilson Barroso - um ex-deputado estadual em São Paulo, atualmente vereador no município paulista de Barrinha -, são feitas na confiança e não envolvem controle de diretórios estaduais ou do nacional. "É afinidade, vale o fio do bigode. Tenho gente no país todo, e interesse no Rio, São Paulo, os grandes Estados. Mas isso [controle da direção] não vai ter problema. Não vai ter bola nas costas, trairagem. O problema é se inventarem o distritão", afirma. Nesse modelo de votação, deixa de existir o quociente partidário como critério para a distribuição de vagas nas eleições proporcionais. Se adotado, os candidatos mais votados nos Estados serão os eleitos, independentemente do desempenho do partido. Com isso, as legendas perderão o incentivo de lançar muitos candidatos para aumentar seu total de votos e concentrarão os recursos em poucos nomes. O PEN tem três dos 513 deputados federais.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4309, 01/08/2017. Política, p. A8.