EDUARDO BARRETTO
CRISTIANE JUNGBLUT
13/09/2017
“O Estado Democrático de Direito existe para preservar a integridade do cidadão, para coibir a barbárie da punição sem provas e para evitar toda forma de injustiça. Nas últimas semanas, o Brasil vem assistindo exatamente o contrário. Garantias individuais estão sendo violentadas, diuturnamente, sem que haja a mínima reação. Chega-se ao ponto de se tentar condenar pessoas sem sequer ouvi-las”, disse o comunicado do Palácio do Planalto.
Além de afirmar que reputações são destruídas e que acusados não são ouvidos, Michel Temer atacou “facínoras” e “bandidos”, sem citar nomes. As declarações do presidente vêm um dia após a prisão de Joesley Batista, dono da JBS e delator que gravou Temer no Jaburu.
“Facínoras roubam do país a verdade. Bandidos constroem versões ‘por ouvir dizer’ a lhes assegurar a impunidade ou alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes”.
Mais tarde, em evento com entidades patronais e sindicalistas no Palácio do Planalto, Temer defendeu que a “realidade” é o crescimento do país no lugar da crise econômica e falou que, no Brasil, pessoas quem “derrubar” outras.
— Cada um quer derrubar o outro, cada um quer derrotar o outro, cada um quer encontrar um caminho para verificar como é que atrapalha o outro. E não conseguem — declarou Temer.
Mais de 20 pessoas discursaram no encontro, e o relatório da Polícia Federal não foi mencionado, assim como a nova denúncia criminal que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá fazer contra Temer nos próximos dias.
— Não conseguem (derrubar o outro) porque o Brasil não para. O povo brasileiro é maior do que toda e qualquer crise. O povo brasileiro é capaz de encarar problemas, muitas vezes artificialmente criados, e dizer: “Não vou no artifício. Vou na realidade”. E a realidade é o crescimento do país. A realidade é o que os senhores disseram e nós acabamos de dizer — emendou Temer.
CAFÉ DA MANHÃ DO PRESIDENTE COM LÍDERES
Na mesma linha, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) disse que gostaria de sair da “pauta” de denúncias de corrupção e discutir a retomada do emprego:
— Nossa ideia hoje era sair um pouco dessa pauta que tem sido feita no Brasil (corrupção). Nossa preocupação principal é o emprego.
— Estamos aqui para falar de economia. Nosso objetivo não é repetir esses mesmos assuntos — declarou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O grupo entregou a Temer “medidas emergenciais” para gerar empregos. Após a cerimônia, a comitiva foi almoçar no Palácio do Alvorada.
Temer convocou todos os líderes e vice-líderes dos partidos aliados para um café da manhã hoje com a meta de traçar a estratégia no Congresso diante da eventual apresentação de denúncia pela Procuradoria-Geral da República. Segundo um dos aliados, a estratégia é “liquidar” o assunto em uma semana. A expectativa entre aliados é que a segunda denúncia contra Temer seja apresentada ainda nesta semana, a última de Rodrigo Janot à frente do Ministério Público Federal.
Temer fez várias reuniões ontem. O clima resultou em um plenário esvaziado na Câmara, e o adiamento para esta quarta-feira da votação da reforma política.
Os governistas já começaram a conversar com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), sobre quem ele escolherá para ser relator da provável segunda denúncia. Aliados sugeriram que ele mesmo tomasse para si a função, mas isso não deve ocorrer. Outros querem que ele indique o deputado Paulo AbiAckel (PSDB-MG) novamente, mas Pacheco tem garantido ao PSDB que não fará isso. O tucano Paulo Abi-Ackel foi o relator nomeado para fazer o parecer contra a primeira denúncia, depois que a CCJ derrotou o parecer do deputado Sérgio Zveiter (Podemos-RJ), que era a favor ao prosseguimento da denúncia.
A estratégia do Palácio do Planalto é ter pressa e mobilizar os aliados. Isso porque há temores de que o ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, possa acabar fazendo um acordo de colaboração premiada. O irmão de Geddel, Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), não tem aparecido na Câmara desde a explosão do escândalo envolvendo os R$ 51 milhões localizados em apartamento emprestado ao ex-ministro. Lúcio é presidente da comissão da reforma política e já não estava presente na semana passada, quando a Câmara votou, em primeiro turno, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) relatada pela deputada Shéridan (PSDB-MG).