O Estado de São Paulo, n.45195 , 14/07/2017. Política, p.A7

 

Janot vê ‘eficiência’ em delação da JBS

PRESIDENTE ACUSADO / Em documento enviado à Câmara a pedido do PSOL, procurador-geral justifica imunidade penal concedida a irmãos Joesley e Wesley Batista

Por: Breno Pires

 

Breno Pires / BRASÍLIA

 

No mesmo documento em que apresentou esclarecimentos a pedido do PSOL sobre a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, o procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, defendeu a imunidade penal concedida em acordo de delação a Joesley e Wesley Batista, do Grupo J&F – controlador da JBS. Ele também alegou “alto grau de eficiência da colaboração” dos irmãos para justificar o não oferecimento de denúncia contra os empresários.

“Trata-se de um caso típico no qual a premiação legal conferida aos colaboradores deve ser graduada em grau máximo, no que se refere à pena corporal, razão pela qual foi oferecida aos colaboradores o não oferecimento da denúncia”, afirmou Janot.

Segundo o procurador-geral, as informações entregues pelos delatores, aliadas a elementos obtidos durante as apurações, “deixam claro que Joesley e Wesley não são os líderes da organização criminosa sob investigação”. O documento foi apresentado pela bancada do PSOL na Câmara ontem em meio à análise da denúncia contra Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Janot ressaltou que os delatores apontaram pagamento de vantagens indevidas para 1.893 políticos no Brasil. Além disso, eles tornaram possível, segundo o procurador-geral, a abertura de novas frentes investigativas, como o uso de mais de cem escritórios de advocacia como instrumentos de lavagem de dinheiro, envolvimento de um presidente da República e dois ex-presidentes, cinco ministros de Estado, seis senadores, 15 deputados federais, quatro governadores e um prefeito.

“A fidedignidade das informações e dos elementos de prova de corroboração permitiram, pouco tempo depois de homologado, a deflagração da Operação Patmos, que resultou na prisão de nove pessoas, o afastamento de dois parlamentares de seus mandatos”, afirmou Janot.

O procurador-geral afirmou que a premiação será confirmada no momento da sentença “desde que mantida a situação fática por ocasião da assinatura do acordo”. Janot escreveu que a premiação poderá ser “reavaliada” pelo juiz caso seja demonstrado que os delatores “violaram algum dever contido do acordo”.

 

PASSO A PASSO DA DENÚNCIA

PGR

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou criminalmente ao STF o presidente Michel Temer por corrupção passiva com base na delação dos acionistas e executivos do Grupo J&F

 

STF

O relator do inquérito, ministro Edson Fachin, decidiu encaminhar diretamente à Câmara dos Deputados a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra Temer

 

CCJ

Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) foi escolhido relator do parecer sobre a admissibilidade da denúncia. Após manifestações da defesa e do relator, o relatório foi votado ontem

 

ESTAMOS AQUI

● O parecer de Zveiter, favorável ao prosseguimento do processo, foi rejeitado por 40 votos contra 25

● Novo relator indicado pelo presidente da CCJ, o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) apresentou relatório contrário à admissibilidade da denúncia, que obteve 41 votos a favor e 24 contra

 

Plenário

Após passar pela CCJ, o relatório sobre o pedido de autorização da investigação contra o presidente é votado no plenário da Câmara. O parecer é aprovado com os votos de pelo menos 342 dos 513 deputados da Casa

 

STF

Caso os deputados deem autorização, o STF julga a denúncia. Se for aceita, o presidente é afastado por 180 dias. Se condenado, Temer deixa o poder. Se for rejeitada pela Corte, o processo é arquivado

 

 

 

 

 

‘Diário Oficial’ traz Raquel na PGR

Por: Luci Ribeiro

O governo Michel Temer publicou a nomeação de Raquel Dodge para exercer o cargo de procuradora-geral da República a partir do dia 18 de setembro, no lugar de Rodrigo Janot, na edição de ontem do Diário Oficial da União. Raquel foi nomeada ainda anteontem, mesmo dia em que passou por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e teve sua indicação aprovada tanto na comissão quanto no plenário da Casa. Ela foi aprovada por 74 votos a favor e um contra.

Depois da votação, Raquel foi recebida à noite por Temer no Palácio do Planalto. Participou também do encontro o ministro da Justiça, Torquato Jardim. /LUCI RIBEIRO