O globo, n.30718 , 13/09/2017. PAÍS, p.8

J&F sondou PGR antes da gravação

 

 

Encontro com procuradores antecedeu conversa de Temer e Joesley

 

O diretor jurídico da J&F, controladora da JBS, Francisco de Assis e Silva, encontrou-se com integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) antes de Joesley Batista, um dos donos da empresa, gravar uma conversa que teve com o presidente Michel Temer, no dia 7 de março.

Em depoimento na semana passada dentro do procedimento aberto para rever a delação dos executivos da empresa e dele próprio, Francisco revelou ter conversado no dia 2 de março com o coordenador do grupo de trabalho da Lava-Jato, Sérgio Bruno, e o chefe de gabinete da PGR, Eduardo Pelella, sobre a delação que executivos da empresa desejavam fazer. A PGR afirma que os temas foram tratados de forma “genérica” e que o encontro foi uma tentativa da empresa de sondar os integrantes do grupo de trabalho sobre o tema. Antes, a instituição sustentava que os contatos teriam começado no dia 27 de março.

No depoimento prestado no dia 7 de setembro, Francisco contou que, no dia 22 de fevereiro, fez o primeiro contato com Sérgio Bruno, por recomendação do procurador Anselmo Lopes, que comanda investigações sobre a empresa no Distrito Federal. Disse que, no dia 2 de março, foi à PGR acompanhado da advogada Fernanda Tórtima. Afirmou também ter, neste primeiro contato, apresentado uma lista de 13 itens que constariam da colaboração, incluindo questões sobre o sistema de inspeção federal, que seria alvo da Operação Carne Fraca, deflagrada 15 dias depois.

 

MARCELLO MILLER

Francisco relatou como foram os contatos com Marcello Miller. Afirmou ter entendido desde o início que Miller já tinha deixado o Ministério Público, o que ainda não havia ocorrido. Negou que o ex-procurador tenha auxiliado na elaboração de anexos e relatou que no primeiro encontro, em 9 de março, Miller e o executivo Ricardo Saud brigaram, mas que depois os dois mantiveram contato.

Em resposta, a PGR informou ao GLOBO que o primeiro contato foi por meio de mensagem de texto. “O primeiro contato do advogado com membro do GT foi por mensagem de texto por WhastApp, o que não pode ser considerado como encontro. Na ocasião, o advogado se apresenta como representante do grupo empresarial e pede para marcar reunião”, diz a PGR.

A procuradoria sustenta que o primeiro contato pessoal, no dia 2 de março, foi apenas uma sondagem: “Os advogados (...) mencionaram itens, que não são anexos, de forma genérica sobre alguns temas sem detalhar nenhum deles”, diz a nota, concluindo que somente em 27 de março houve a apresentação formal dos áudios e, com isso, inicia-se o marco temporal do ponto de vista da PGR.