Correio braziliense, n. 19737, 10/06/2017. Economia, p. 8

 

Polícia Federal e CVM vasculham sede da JBS

10/06/2017

 

 

Operação Tendão de Aquiles investiga uso de informação privilegiada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista para obter altos lucros no mercado financeiro por conta do acordo de delação premiada que firmaram com o Ministério Público

Agentes da Polícia Federal (PF) e inspetores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passaram três horas, ontem, na sede da JBS, em São Paulo, vasculhando documentos e computadores da empresa. A operação, batizada de Tendão de Aquiles, tem o objetivo de investigar o uso de informações privilegiadas pelos irmãos Joesley e Wesley Batista em negócios feitos nos mercados de ações e de câmbio nos dias que antecederam o acordo de delação premiada que firmaram com o Ministério Público Federal. Em nota, a PF informou que apreendeu documentos, telefones celulares e informações de discos rígidos de computadores nos dois endereços da JBS que foram alvo da operação .Foram cumpridos ainda três mandados de condução coercitiva autorizados pela Justiça Federal. A nova ofensiva da PF tem como base inquérito aberto pela CVM em19demaio, um dia depois da divulgação do teor da delação dos irmãos Batista, que atingiu diretamente o presidente Michel Temer. O teor das denúncias provocou forte instabilidade no mercado financeiro, com queda profunda da Bolsa de Valores de São Paulo e alta expressiva do dólar. Os irmãos Batista, no entanto, teriam se aproveitado da volatilidade para obter altos lucros da noite para o dia. No fim de abril, a FB Participações, que reúne os negócios da família, vendeu grandes lotes de ações da JBS antes que as cotações dos papéis desabassem quase 40% na bolsa. Com isso, teriam sido evitadas perdas de R$ 138 milhões, segundo fontes ligadas à investigação. Em outra operação, levada a efeito entre o fim de abril e meados de maio, a JBS comprou dólares no mercado futuro, beneficiando-se da posterior disparada da moeda norte-americana. A CVM abriu cinco processos administrativos para apurar as transações. Pivôs da crise que atingiu o governo Michel Temer, Joesley e Wesley Batista estão morando com a família em Nova York. Pelos termos desse acordo fechado com a Procuradoria Geral da República em 3 de maio, eles ficaram livres de serem presos por crime de corrupção, mas o conglomerado que comandam não escapou da mira dos órgãos de investigação do governo. Vantagens Em nota, a JBS informou que “está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos necessários”. Sobre a compra e venda de dólares e ações, a empresa reafirmou que as operações foram feitas de acordo com a lei e que “tem como política a utilização de instrumentos de proteção financeira visando, exclusivamente ,minimizar os seus riscos cambiais”. Segundo a PF, porém, “há indícios de que as operações ocorreram com o uso de informações privilegiadas, gerando vantagens indevidas no mercado de capitais num contexto em que quase todos os investidores tiveram prejuízos financeiros”. Nesse casos, a lei prevê penas de um a cinco anos de reclusão para os culpados e multa de até três vezes o valor da vantagem obtida. Na semana passada, numa decisão preventiva, a Justiça Federal em São Paulo bloqueou R$ 800 milhões de Joesley Batista. A operação Tendão de Aquiles se soma a várias ações que têm atingido a JBS. Segundo fontes do mercado financeiro, a empresa enfrenta dificuldades para renovar linhas de crédito com bancos. Na última quinta-feira, a Petrobras cancelou o fornecimento de gás natural para a termoelétrica Mário Covas, pertencente ao grupo, com base em uma cláusula anticorrupção existente no contrato. A estatal, além disso, cobra multa de R$ 70 milhões da usina. Ontem, a agência de classificação de risco Moody’s cortou a nota de crédito da JBS de Ba3 para B2, mantendo a perspectiva de novo rebaixamento. As ações da empresa na bolsa caíram 2,54%.