O globo, n.30719 , 14/09/2017. PAÍS, p. 10

WESLEY É PRESO MANIPULAR MERCADO 

JULIANA ARREGUY

 MARCELO LOUREIRO

14/09/2017

 

 

Presidente da J&F é acusado de operar na Bolsa e no câmbio para lucrar em meio ao processo de delação

A Polícia Federal cumpriu ontem mandado de prisão preventiva contra o sócio da holding J&F Wesley Batista, presidente executivo do grupo e irmão de Joesley Batista. Também ontem, a prisão de Joesley, antes temporária, foi convertida em preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Os agentes ainda cumpriram mandados de busca e apreensão nas casas de ambos.

Os irmãos Batista são acusados de evitar um prejuízo de R$ 138 milhões à JBS com a compra e venda de ações, além de terem lucrado US$ 100 milhões operando no câmbio com informação privilegiada. Eles previram a alta da moeda americana quando o acordo de delação de Joesley fosse divulgado, em maio, o que de fato ocorreu. O câmbio avançou 9%. As operações da dupla no mercado futuro movimentaram quase US$ 3 bi. O que os irmãos ganharam com a informação privilegiada foi quase o mesmo que a multa de US$ 110 milhões estipulada aos irmãos no processo criminal.

Em entrevista coletiva, delegados da Polícia Federal explicaram a manobra. A empresa FB, dos Batista, vendeu US$ 327 milhões em papéis da J&F antes de o acordo de delação ser divulgado. Para evitar que as ações se desvalorizassem antes do previsto, a própria JBS comprou as ações. Elas, de fato, caíram depois. Como os Batista controlam 42% do capital da JBS, eles evitaram perdas, socializando o prejuízo com os demais acionistas e também com os contribuintes brasileiros. A BNDESPar detém 21% do capital da companhia.

A operação Tendão de Aquiles, que prendeu Wesley, também apura a intensa compra de contratos de derivativos de dólares entre 28 de abril e 17 de maio por parte da JBS S/A, em desacordo com a movimentação usual da empresa. A operação gerou ganhos decorrentes da alta da moeda norteamericana após o dia 17.

 

SERVIDORES CORROMPIDOS

Os irmãos Joesley e Wesley Batista são acusados de chantagear autoridades públicas e de corromper mais de mil servidores. As informações também foram utilizadas para justificar os mandados de prisão preventiva contra os dois. O juiz cita três motivos para justificar a necessidade de manter os irmãos Batista presos por tempo indeterminado enquanto a Polícia Federal continua suas investigações. Primeiro, escreve o magistrado, há elementos concretos de que os dois executivos “teriam continuado a praticar delitos mesmo após a celebração de acordo de colaboração premiada”.

Na sequência, a PF relata que Joesley e Wesley “possuem considerável influência sobre as áreas política e econômica do país, inclusive com a prática de chantagens junto a autoridades públicas”. Por fim, ele cita a facilidade com que os executivos poderiam fugir do país, principalmente, “após possível revogação dos benefícios premiais" concedidos pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Na entrevista coletiva, o delegado Rodrigo de Campos Costa, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirmou que os irmãos Batista corromperam mais de mil servidores:

— Nós estamos diante de duas pessoas que se dizem criminosos confessos. Eles procuraram as autoridades e confessaram que corromperam centenas ou mais de mil servidores públicos e agentes políticos — afirmou o delegado.

Em nota, o advogado Pierpaolo Bottini classificou como injusta, absurda e lamentável a prisão de Wesley Batista:

“É injusta, absurda e lamentável a prisão preventiva de alguém que sempre esteve à disposição da Justiça, prestou depoimentos e apresentou todos os documentos requeridos. O Estado brasileiro usa de todos os meios para promover uma vingança contra aqueles que colaboraram com a Justiça”, disse, em nota.

 

NOTA AOS ACIONISTAS

Em comunicado direcionado a seus acionistas, a JBS informou que tomou conhecimento da detenção do seu diretorpresidente, Wesley Batista. A nota diz que “a companhia ainda não teve acesso à integra dessa decisão e manterá seus acionistas e o mercado devidamente informados acerca de tal tema.”

Joesley está detido em caráter temporário desde domingo por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, depois que o Ministério Público Federal (MPF) pediu a prisão do empresário na sexta-feira.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entendeu que Joesley e o diretor de Relações Institucionais do grupo, Ricardo Saud, omitiram informações dos investigadores em sua delação premiada, o que quebraria as cláusulas do acordo de colaboração. Em sua defesa, Joesley destacou que a conversa com Saud era “elocubração de bêbados”.

Nos áudios, entregues no último dia de prazo antes da homologação do acordo de delação, os dois conversam sobre como se aproximar de Janot, citam ministros do STF e destacam a certeza de que não seriam presos.

Joesley Batista e Saud se entregaram à PF no começo da tarde de domingo, em São Paulo. Na segunda-feira, foram transferidos para Brasília. Na ocasião, os dois entregaram os passaportes.