Volume exportado reage e engorda superávit

Sergio Lamucci

09/08/2017

 

 

Os volumes exportados pelas empresas brasileiras reagiram nos últimos meses, ajudando a engordar os superávits comerciais, que caminham para fechar o ano acima de US$ 60 bilhões, de longe o nível mais elevado da história. A alta das vendas externas no acumulado do ano é puxada pelo aumento dos preços, mas as quantidades destinadas ao exterior também têm crescido - subiram quase 9% em maio e junho, na série com ajuste sazonal calculada pelo Bradesco, com base em dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Em 2016, o saldo comercial ficou em US$ 47,7 bilhões. No primeiro semestre, o valor das exportações aumentou um pouco mais de 19% em relação ao mesmo período do ano passado. Os preços tiveram alta de 17,6% e os volumes, de 1,7%. A aceleração das quantidades ocorreu mais nitidamente em maio e junho (ainda não há a abertura da Funcex para preços e volumes referentes à balança comercial de julho). A economista Andréa Bastos Damico, do Bradesco, revisou a estimativa para o saldo comercial deste ano de US$ 60,2 bilhões para US$ 64,4 bilhões, especialmente por ver um aumento mais forte das exportações - as projeções para as vendas externas pularam de US$ 212 bilhões para US$ 214,9 bilhões. As estimativas para as importações, por sua vez, caíram de US$ 151,7 bilhões para US$ 150,5 bilhões. Esses grandes superávits têm derrubado o déficit em conta corrente. Nas contas do Bradesco, o rombo nas transações de bens, serviços e rendas com o exterior deve ser de apenas US$ 7,2 bilhões neste ano, o equivalente a apenas 0,35% do PIB. Em 2016, o déficit foi de US$ 23,5 bilhões, ou 1,3% do PIB. É um sinal importante de redução da vulnerabilidade externa do país. Para ter uma ideia, o Bradesco estima que o investimento estrangeiro direto no país (IDP), voltado para atividades produtivas, deve somar US$ 75 bilhões neste ano, ou mais de dez vezes o buraco projetado para a conta corrente.

Andréa destaca a melhora dos volumes exportados nos últimos meses, atribuindo o fenômeno especialmente à atividade econômica global mais forte. A economia mundial tem crescido a um ritmo mais firme e de modo mais generalizado. A Europa tem surpreendido positivamente, mas também há boas notícias em termos de crescimento nos EUA, na China e nos emergentes de maneira geral. "Observamos uma aceleração do ritmo de crescimento das exportações globais nos últimos meses e esse vetor tem sido bastante relevante para nosso desempenho", diz ela. Os números do Bradesco mostram que a alta mais forte do volume exportado em maio e junho foi de produtos básicos e de semimanufaturados, que aumentaram 14,7% e 17,1% em relação ao nível de abril, pela ordem. As quantidades exportadas de manufaturados subiram bem menos nesse período (1,1%). Na visão de Andréa, embora "existam casos de forte crescimento das exportações por razões mais específicas, como petróleo, agrícolas e automóveis, de forma geral, o volume exportado tem reagido à melhora da atividade global". Esses casos específicos têm peso importante no aumento das quantidades exportadas. No primeiro semestre, o volume destinado ao exterior de veículos automotores, reboques e carrocerias cresceu 31,8% em relação ao mesmo período de 2016, enquanto o do setor de petróleo e gás natural subiu 44,9%. Demanda interna fraca e aumento de produção levam a uma maior canalização de bens para o exterior, avalia Andréa. O economista Rafael Bistafa, da Rosenberg Associados, vai na mesma linha, ao falar desses segmentos. Com consumo interno anêmico e uma expansão do que se produz, cria-se um excedente exportável maior. Bistafa projeta para este ano exportações de US$ 215,8 bilhões e importações de US$ 147,8 bilhões, o que, se concretizado, resultará num saldo comercial de US$ 68 bilhões. "Será o primeiro crescimento das exportações desde 2011", diz ele. Em 2016, o país exportou US$ 185,2 bilhões.

A Rosenberg projeta um déficit em conta corrente de apenas US$ 9 bilhões deste ano, ou cerca de 0,5% do PIB, ao mesmo tempo em que estima um IDP de US$ 80 bilhões em 2017. O volume de investimento estrangeiro cobre com grande folga esse rombo. "Não existe aí nenhuma preocupação de curto nem de médio prazo", avalia Bistafa, para quem um rombo em conta corrente de 2% a 3% do PIB é financiável. A valorização do câmbio não deve ter grande impacto sobre os volumes exportados, acredita Andréa. "Nos nossos modelos, o câmbio tem uma contribuição menor para a trajetória das quantidades de exportação. O que predomina é a demanda global. Isso é o mais relevante", afirma ela. O Bradesco revisou na sexta-feira a projeção para a taxa de câmbio. Para o fim deste ano, estimativa para o dólar caiu de R$ 3,20 para R$ 3,10 e, para o fim do ano que vem, de R$ 3,30 para R$ 3,20. Para o economista André Mitidieri, da Funcex, o câmbio mais valorizado, se persistir, pode dificultar um saldo comercial acima de US$ 60 bilhões. Isso ocorreria pelo efeito sobre as importações, já que um real mais forte tenderia a estimular as compras externas. Outra notícia que dá confiança à Andréa para projetar um saldo comercial robusto é a recuperação dos preços de algumas commodities em julho, depois da queda registrada no segundo trimestre. As cotações dos produtos básicos haviam subido com força nos primeiros meses do ano, mas perderam fôlego especialmente a partir de abril. A economista do Bradesco ressalta a elevação dos preços internacionais da soja (5,5%), do minério de ferro (14,7%), do açúcar (9%), do café (12,3%) e do petróleo (8,6%) no mês passado. A melhora recente dos volumes ajuda a balança, mas a alta das exportações no ano ainda se deve em grande parte ao aumento dos preços de commodities, um aspecto ressaltado por Mitidieri. No primeiro semestre, as cotações das vendas externas do setor de extração de petróleo e gás natural subiram 55,7% em relação ao mesmo período de 2016, enquanto as do segmento de extração de minerais metálicos (onde se encontra o minério de ferro) avançaram 67,5%.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4315, 09/08/2017. Brasil, p. A3.