O Estado de São Paulo, n. 45199, 18/07/2017. Política, p. A8.

 

Temer vai ao NE para apaziguar PSDB

Tânia Monteiro / Carla Araújo / Pedro Venceslau

18/07/2017

 

 

Presidente confirma presença em evento no interior de Pernambuco, ao lado do titular do Ministério das Cidades, o tucano Bruno Araújo

 

 

Apesar da pressão do chamado Centrão para ocupar ministérios do PSDB, o presidente Michel Temer decidiu “afagar” os tucanos e confirmou presença no lançamento do programa Cartão Reforma ao lado do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), em Caruaru (PE). A viagem de Temer é vista como um “simbolismo” para mostrar a boa relação com a legenda, embora a sigla tenha divergências internas.

O gesto do Planalto tem por objetivo pacificar a relação com o PSDB e garantir os votos que ainda têm do partido, mesmo com as dissidências, para barrar no plenário a denúncia de corrupção passiva contra Temer.

Em caráter reservado, um membro da Executiva do PSDB contou que Temer já procurou os quatro ministros da sigla e garantiu que eles não perderão seus cargos. Segundo essa mesma fonte ouvida pelo Estado, Temer pediu, porém, engajamento no movimento para “virar” votos na bancada.

O Planalto está otimista em relação aos tucanos dos ministérios, que dizem acreditar que poderão conseguir mais votos contrários ao prosseguimento da denúncia do que está sendo anunciado.

Da semana passada para cá, Temer se reuniu com Araújo pelo menos três vezes. O ministro tem ajudado a contornar problemas em várias alas do partido, que defendem o desembarque do governo Temer.

Só entre as legendas que fecharam questão a favor do presidente – PP, PSD, PMDB, PRB e PR – o governo tem 207 votos. Para barrar a denúncia no plenário, Temer precisa de 172 votos. Hoje a conta está entre 250 e 260 parlamentares, podendo alcançar a marca de 330.

Com o Congresso em recesso a partir de hoje, Temer quer dedicar as duas próximas semanas a anúncios de medidas positivas e continuar mantendo negociações não só com os tucanos, mas também com parlamentares do DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), primeiro na linha sucessória da Presidência da República.

Desde o início da tramitação denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer por corrupção passiva, Maia tem se afastado do Planalto.

 

Agenda positiva. Além do Cartão Reforma, que deve atender ao menos 85 mil famílias com renda menor de R$ 2.811 neste ano, Temer busca outras medidas na área econômica. Ontem, Temer chamou os ministros da Fazenda,

Henrique Meirelles, de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, para discutir o Repetro, um sistema de incentivos para a área de petróleo. Na quinta-feira, antes de embarcar para a reunião do Mercosul, em Mendoza, na Argentina, Temer pretende se encontrar com sindicalistas para avançar nas negociações em torno da medida provisória que o governo prometeu editar para realizar ajustes no texto aprovado da reforma trabalhista.

Paralelamente a isso, o presidente Temer estuda também o anúncio R$ 3 bilhões para serem distribuídos a integrantes do cadastro único que desejarem se tornar empreendedores, desde que tivessem o apoio do Sebrae. O programa se chama Progredir. Esses recursos seriam microcréditos que poderiam beneficiar mais de um milhão de famílias e eles viriam dos 2% de recursos dos depósitos compulsórios que os bancos fazem no Banco Central.

A medida já teve aprovação do BC, de acordo com o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, que conversou ontem com Temer sobre o assunto. Terra disse que o presidente pediu que sejam adotadas medidas para ajudar o Rio, não só com propostas para a área de segurança, mas programas sociais que ajudem a dar suporte e atividades à juventude.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Maia diz que é cobrado para ser leal ao presidente

Fabio Grillet

18/07/2017

 

 

Presidente da Câmara nega ‘conspiração’ para ocupar cargo de Michel Temer e diz que este não é o seu ‘papel’

 

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reforçou sua lealdade ao presidente Michel Temer e revelou que é cobrado pela mãe para não conspirar contra o peemedebista. Em entrevista ao programa Roberto D’Avila, da Globonews, ele disse que foi procurado por parlamentares e empresários para debater um eventual papel de presidente da República, mas afirmou que respondeu que não é essa sua função.

“Digo (a quem me procura) que meu papel é presidir a Câmara e de minha parte não haverá nenhum movimento que prejudique o presidente. O árbitro nem votar vota, ele preside a sessão. Eu não posso me movimentar nem numa posição nem noutra. Dentro de casa sou cobrado para ser leal, como aprendi com meu pai e minha mãe”, afirmou Maia no programa veiculado ontem à noite.

Maia é o primeiro na linha sucessória e assumirá o cargo de Temer provisoriamente por 180 dias se a Câmara admitir o processo contra o peemedebista e o STF aceitar a denúncia. A votação está prevista para 2 de agosto e são necessários 342 votos para que o processo prossiga.

“Sou cobrado todo dia pela minha mãe. Ela me mandou uma mensagem de texto e eu até assustei: ‘Você não vai conspirar, né?’ (Respondi:) ‘Você me ensinou que eu tenho de ser leal e assim eu sou’. Mostrei (a mensagem da mãe) para o presidente (Temer)”, afirmou Maia. A mãe do deputado é a chilena Mariangeles Ibarra Maia e seu pai é o ex-prefeito e vereador no Rio César Maia (DEM).

Sobre o resultado da votação para autorizar ou não a abertura do processo contra Temer, Maia disse que “os deputados é que vão julgar”. “Meu papel como presidente da Câmara é não ter posição sobre esse assunto. Além de presidir a sessão que vai decidir pela abertura ou não da denúncia, no momento seguinte ainda tenho vários (pedidos de) processos de impeachment para ser decididos.”

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Eike confirma carona a Cunha, mas nega favorecimentos

Mariana Sallowicz

18/07/2017

 

 

O empresário Eike Batista afirmou ontem à Justiça ter dado carona em um voo ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de Brasília para o Rio após pedido de um executivo de suas empresas, mas negou ter ligações com o ex-presidente da Câmara.

“Ele (Cunha) embarcou, sentou numa poltrona atrás. Posso ter o cumprimentado, mas não tenho relação nenhuma, nenhum contato telefônico, não visito a casa dele, nem ele a minha”, disse o empresário em videoconferência à 10.ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.

O fundador do Grupo X depôs como testemunha de defesa de Lúcio Funaro, no processo em que o operador e Cunha são réus. O depoimento de Eike, prestado na Justiça Federal do Rio e transmitido para o Distrito Federal, durou em torno de 15 minutos.

Eike também negou ter feito qualquer pagamento indevido para que sua empresa LLX Açú Operações Portuárias recebesse, em 2012, investimento de R$ 750 milhões do FI-FGTS, conforme indicado em delação premiada pelo ex-sócio de Funaro Alexandre Margotto.

 

Colaboração. O advogado do empresário, Fernando Martins, confirmou que o cliente tem colaborado com a Justiça, mas disse que, no momento, a informação de que Eike estaria delatando, revelada na sexta-feira pelo Estado/Broadcast, “não poderia ser prestada”.

Eike disse não conhecer Funaro e negou ter tido um encontro com ele em Nova York. “Posso ter esbarrado com ele em algum restaurante por acaso, mas não o conheço e não lembro de ter encontrado ele em Nova York.”

Na versão do delator, Funaro e Eike jantaram em Nova York. A reunião, supostamente revelada a Margotto por Funaro, teria sido intermediada por Joesley Batista, da holding J&F, que teria participado do encontro. Eike também afirmou não conhecer Margotto.