Temer defende parlamentarismo em 2018 ou 2022

Ricardo Mendonça e Cristiane Agostine

09/08/2017

 

 

O presidente da República, Michel Temer (PMDB), defendeu ontem a adoção do parlamentarismo no Brasil em 2018 ou "quem sabe" em 2022. O pemedebista afirmou que seu governo já é um experimento de um "semipresidencialismo ou semiparlamentarismo". Falando a empresários em São Paulo num evento corporativo, ele defendeu ainda que o Brasil deveria adotar um modelo parlamentarista parecido com o português ou francês, em que o presidente da República seja eleito diretamente e mantenha algum protagonismo.

"Você sabe que eu tenho muita simpatia pelo parlamentarismo, não é? Eu acho que o Brasil pode caminhar para isso. Veja: de alguma maneira, nós estamos fazendo quase um pré-exercício de parlamentarismo", disse o presidente, após ser provocado a falar sobre o assunto em uma rápida entrevista coletiva.

"Vocês sabem que eu fui três vezes presidente da Câmara. O Legislativo era uma espécie de apêndice do Executivo. No meu governo, não. É parceiro do Executivo. E nós temos trabalhado juntos: o Executivo e o Legislativo. Então não é improvável que esse exemplo que nós estamos dando possa em breve converter-se num sistema semipresidencialista ou semiparlamentarista, o rótulo aí pouco importa."

Na sequência, Temer afirmou: "Agora, há de ser um sistema parlamentarista do tipo português ou do tipo francês, em que também o presidente da República pode ser eleito diretamente e tenha presença muito significativa no espectro governativo. Se pudesse, em 2018 seria ótimo. Se não houver em 2018 - o tempo é curto, né? -, quem sabe prepara-se para 2022", concluiu.

Ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do governador paulista, Geraldo Alckmin, Temer participou da abertura do 27º congresso da Fenabrave, que reúne revendedores de veículos.

Na entrevista, ele disse que não conversou sobre política com o governador, que já manifestou interesse em ser seu sucessor no Palácio dos Planalto. Embora dez dos onze deputados paulistas do PSDB - a exceção foi a deputada Bruna Furlan - tenham votado pela abertura de inquérito contra o presidente por corrupção passiva, Temer elogiou Alckmin. Disse que o tucano tem sido um "colaborador extraordinário".

No discurso que havia feito alguns minutos antes, Alckmin defendeu a aprovação das reformas da Previdência e política e falou da importância da já aprovada reforma trabalhista.

"A reforma da Previdência, o próximo desafio, é mais difícil. Vai exigir um esforço bem maior", afirmou o tucano, lembrando que o país está deixando de ter um perfil etário jovem e ficando mais "maduro". Ele defendeu a realização de alterações nas regras eleitorais como forma de "melhorar o ambiente político" no país. Se isso ocorrer, assinalou, "tudo melhora".

No discurso para os participantes do evento, Temer disse que o mote de seu governo é a confiança. Também defendeu a aprovação da reforma da Previdência, de uma reforma tributária e da reforma política. Ele ainda exaltou a renegociação de dívidas dos Estados, conduzida por seu governo meses atrás, e a renegociação de dívidas previdenciárias de municípios.

O presidente afirmou que o Estado brasileiro "não pode prosperar" se não transferir parte de suas atividades para a iniciativa privada. No fim, pediu otimismo aos presentes e agradeceu pelos aplausos recebidos que, segundo ele, "vêm do coração".

No período da tarde, Temer participou do lançamento de uma linha de crédito para produção de loteamentos urbanos no Secovi, sindicato do mercado imobiliário. Voltou a exaltar as reformas e disse que quer deixar o país em ordem para o sucessor.

"Temos pouco tempo de governo. Queremos fazer com que lá na frente se diga: este foi um governo que reformou o país. Foi um governo que arrumou os trilhos, para que quem chegar em 1º de janeiro de 2019 pegue a locomotiva e possa caminhar pelos trilhos."

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4315, 09/08/2017. Política, p. A6.