O Estado de São Paulo, n. 45200, 19/07/2017. Política, p. A4.

 

Em novo atrito Temer e Maia disputam deputados

Tânia Monteiro / Carla Araújo / Igor Gadelha

19/07/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Presidente busca atrair parlamentares dissidentes do PSB para o PMDB e, assim, barrar denúncia no plenário; manobra do Planalto deixa presidente da Câmara contrariado

 

 

O presidente Michel Temer convidou ontem dissidentes do PSB a ingressar no PMDB e criou um novo atrito com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também interessado em atrair parlamentares para o seu partido. O PSB deixou o governo em maio, após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, que fundamentou a denúncia por corrupção passiva contra o peemedebista. De 36 deputados, 16 discordaram da decisão da cúpula.

Temer assumiu pessoalmente a articulação para barrar a acusação apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mas, para tentar reverter o desgate com Maia, que tem se mostrado distante do Planalto desde que a denúncia chegou à Câmara, o presidente se reuniu com o deputado durante um jantar ontem à noite, com a presença de ministros.

Mais cedo, fora da agenda oficial, Temer participou de um café no apartamento funcional da líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), e mais quatro parlamentares para fazer o convite. O encontro foi marcado na segunda-feira por meio do deputado Danilo Forte (PSB-CE).

“Ele perguntou sobre a nossa situação no partido e falou: ‘O PMDB está aí também, conversem com o (senador Romero) Jucá (presidente do PMDB)”, disse Tereza ao Estado/Broadcast, ao relatar a conversa com Temer. O PMDB tem 62 deputados. Logo depois, ela e outros parlamentares seguiram para a residência oficial de Maia, onde trataram do mesmo assunto.

Segundo aliados do presidente da Câmara, Maia ficou contrariado ao saber que Temer havia procurado os dissidentes do PSB, mesmo tendo conhecimento das negociações de filiações para o DEM. Interlocutores de Maia disseram que ele já tinha avisado pessoalmente Temer sobre as tratativas.

Um auxiliar do Planalto reconheceu que a iniciativa do presidente foi “afoita”, mas ponderou que faz parte do perfil de Temer atender aos parlamentares para tentar unir a base. Interlocutores do peemedebista afirmaram que a ala governista do PSB sempre pediu proteção do Planalto para evitar retaliação pelo fato de parte do partido votar contra o governo. Fernando Bezerra Coelho, que faz parte da ala insatisfeita com a cúpula da legenda, continua no Ministério de Minas e Energia.

Segundo a líder do PSB, dois deputados estão “muito decididos” a mudar para o DEM: Heráclito Fortes (PI) e José Reinaldo (MA). Na negociação, disse, o principal aspecto levado em consideração é a realidade política de cada Estado. Forte também negocia ir para o DEM.

 

Trégua. Após a polêmica, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou a crise. “O PMDB não está atuando para barrar nenhuma filiação ao DEM, até porque o DEM é aliado de primeira hora. Desminto a tentativa de intriga.”

Após o desgaste que o encontro de Temer com deputados do PSB causou, os ministros Mendonça Filho (Educação), do DEM, e Antonio Imbassahy (Governo), do PSDB, tiveram reunião com o presidente e sugeriram o jantar com Maia como demonstração de trégua. Participaram do encontro na casa de Maia, além de Mendonça e Imbassahy, o ministro Bruno Araújo (Cidades), do PSDB, e o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Na saída do jantar, Imbassahy tentou minimizar o mal-estar entre Temer e Maia e negou que o presidente tenha feito o convite aos dissidentes do PSB. “Não cabe ao presidente tratar desse assunto, isso cabe aos presidentes partidários.”

 

Articulação. O presidente Michel Temer deixa residência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, após participar de jantar

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‘Presidente deveria se preocupar com o País’

 Valmar Hupsel Filho

19/07/2017

 

 

Presidente do PSB, Carlos Siqueira critica articulação de Temer em meio à votação da denúncia na Câmara

 

 

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou ontem que o presidente Michel Temer está confundindo a Presidência da República com a do PMDB ao agir diretamente para atrair parlamentares pessebistas para seu partido.

Segundo Siqueira, Temer deveria se preocupar mais em governar o País do que se dedicar a questões partidárias visando “salvar a própria pele”.

“O País está afogado em uma crise monumental que nós todos sabemos, de desemprego, recessão e de natureza ética sem precedente. E o presidente da República deveria estar envolvido na solução desses problemas em vez de se dedicar à solução de problemas partidários visando salvar a sua própria pele”, afirmou.

Nos últimos dias, Temer entrou pessoalmente na articulação política para convencer deputados dissidentes pessebistas a migrarem para o PMDB. É uma forma de impedir que eles sejam atraídos para o DEM, fortalecendo assim o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), seu eventual sucessor em caso de afastamento. Ontem, Temer esteve na casa da deputada Teresa Cristina (MS), líder do PSB na Câmara, para um café da manhã com outros quatro deputados do partido.

Para Siqueira, “surpreende” o fato de o presidente da República deixar seus afazeres para tratar de questões partidárias. “Se fosse o Romero Jucá (presidente nacional do PMDB) a gente até compreenderia”, disse. “Ele (Temer) não saiu da presidência do PMDB. Confunde a Presidência da República com a presidência do PMDB”, completou.

O presidente nacional do PSB disse que o partido já definiu seu posicionamento favorável ao afastamento de Temer e por eleições diretas. A posição, segundo ele, foi decidida por unanimidade entre as principais lideranças do partido, em 20 de maio, três dias após a divulgação dos áudios das conversas entre Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS.

Ele afirma que a bancada do PSB, formada por 36 deputados, terá “ampla maioria” a favor da denúncia na votação em plenário, no próximo dia 2 de agosto. E minimiza a existência de dissidentes no partido.