Inserção em que PSDB reconhece erros aumenta divisão no partido

Vandson Lima

10/08/2017

 

 

O PSDB rachou ontem por conta da inserção televisiva, veiculada desde terça-feira, que promete que a sigla vai "admitir os erros" no programa partidário que vai ao ar dia 17.

Na reunião da executiva nacional, em Brasília, as diferenças ficaram expostas. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), foi muito criticado por parlamentares e outros dirigentes pela peça. Vários tucanos se disseram surpresos com o conteúdo, pois não haviam sido consultados e mostraram profunda discordância. Poucos tiveram acesso ao vídeo antes de ir ao ar.

Ao invés de recuar diante da pressão, contudo, Tasso foi ainda mais longe: conforme apurou o Valor, ele defendeu enfaticamente que o PSDB assuma que praticou caixa dois em campanhas eleitorais anteriores. "Fui governador três vezes, nunca fui processado. Agora, caixa dois fazia parte da cultura política. Foi um erro e devemos admitir. Todos fizemos", disse Tasso.

Vários integrantes da Executiva protestaram. Frases como "eu não vou admitir que errei" eram possíveis de ser ouvidas do lado de fora da reunião, tamanha a exaltação de alguns tucanos. "Essa inserção expõe as vísceras do partido. Foi feito errado, do jeito errado, no tempo errado", reclamou outro integrante sobre a peça.

Um argumento apresentado foi de que, da forma que foi feita, a peça passa a impressão de que o PSDB fará críticas a seu próprio presidente, senador Aécio Neves (MG), afastado do comando partidário após ser flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. O responsável pela elaboração do trabalho foi o publicitário Einhart Jacome, muito próximo de Tasso.

Aécio foi embora antes da discussão se avolumar. Mas também estava igualmente contrariado sobre a inserção. "É uma m..., uma loucura", reclamou a deputados e dirigentes ao chegar à sede do PSDB. Aos jornalistas, Aécio disse que não foi consultado na elaboração do vídeo. "Acho que é uma tentativa de comunicação de mostrar que além dos acertos, que nós tivemos e não foram poucos, certamente alguns equívocos o PSDB cometeu. Vamos aguardar o programa".

"Não podemos ficar cegos diante do que está acontecendo na rua. Por que todos nós, políticos, estamos sendo rejeitados nas ruas?", afirmou Tasso em entrevista após o encontro.

Para além deste embate, os tucanos definiram procedimentos para renovar o programa partidário e o calendário para renovar a direção partidária em dezembro. Uma comissão, coordenada pelo deputado Silvio Torres (SP) vai montar o calendário das convenções, municipais, estaduais e a nacional. Outro grupo vai coordenar discussões temáticas.

Sobre a reforma política, o PSDB pode apoiar a mudança no sistema eleitoral para o "distritão", em que os deputados mais votados são automaticamente eleitos, mas apenas em 2018, e somente se isto for parte de um acordo para uma transição a um sistema distrital misto nas eleições seguintes.

Em última instância, os tucanos veem o distrital misto como uma oportunidade de se construir um caminho ao parlamentarismo. "Mas não seria uma solução para esta crise, e sim algo para 2022", disse o presidente em exercício da legenda. Mas também aí há discordâncias internas. Enquanto Tasso afirmou que não acredita ser necessário um plebiscito para a implantação do parlamentarismo no futuro, outros tucanos defendem a consulta popular.

O parlamentarismo foi alvo de plebiscito em 1963 e 1993 e a população rejeitou a mudança em ambas as oportunidades.

Sobre o financiamento das campanhas eleitorais, nova divisão: parte dos integrantes do PSDB apoia a formação de um fundo com recursos públicos, estimado em R$ 3,6 bilhões na proposta que tramita no Congresso. Outros defendem a volta do financiamento com dinheiro de empresas. Neste caso, Tasso é partidário de que a questão seja alvo de uma consulta à população.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4316, 10/08/2017. Política, p. A10.