China deve prometer a Temer mais investimento e acordos comerciais

Assis Moreira

11/08/2017

 

 

Embaixador Marcos Caramuru: relação bilateral tem complementaridade estratégica "em que os dois são ganhadores"

 

 

O presidente Michel Temer fará visita oficial à China no dia 1º de setembro, na qual poderão ser fechados mais negócios entre os dois grandes emergentes, num momento em que a relação ganha maior dinamismo e integração estratégica.

A expectativa é que durante a visita, que antecede a cúpula do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sejam "anunciados ou referendados" investimentos em portos e, possivelmente, em refinaria, além de vários acordos na área comercial. A compra de empresas de engenharia brasileiras por capital chinês pode crescer com a evolução das discussões bilaterais.

No rastro do encontro de Temer com o presidente Xi Jinping, em Pequim, espera-se que o governo chinês aprove a compra de cerca de 20 aviões da Embraer por companhias locais. Isso num contexto em que os próprios chineses tentam impulsionar seu primeiro jato regional no mercado. Hainan e Tanjin Airlines estão entre as companhias aéreas com negócios com a Embraer.

Também é esperado que a China anuncie a habilitação de mais frigoríficos brasileiros a exportar carnes para o mercado chinês. Atualmente há cem pedidos, mas ninguém acredita realisticamente que todos sejam liberados de uma vez.

Em Pequim, o embaixador brasileiro Marcos Caramuru considera que a relação bilateral ganhou maior grau de amadurecimento e complementaridade estratégica "em que os dois são ganhadores" e precisam do que o outro tem a oferecer.

A relação não tem querelas políticas. E isso se combina com o plano chinês de canalizar seu excesso de poupança em investimentos em várias partes do mundo para equilibrar os riscos. "Novas formas de interação entre o Brasil e a China são exploradas", diz Caramuru. "'Isso se dá em grande medida porque poucos mercados emergentes têm a dimensão, potencial e as oportunidades positivas do mercado brasileiro".

O resultado é que a gigante elétrica chinesa State Grid tem 20% de seus ativos no exterior, dos quais metade no Brasil. A China Three Gorges Corporation, estatal responsável pela construção da hidrelétrica de Três Gargantas na China, escolheu o Brasil como um país prioritário em sua estratégia de crescimento internacional. Tem 10% dos ativos no exterior, dos quais 30% no Brasil.

Bancos chineses, que antes se estabeleciam comprando patentes de bancos brasileiros ou sendo autorizados a operar pelo Banco Central, agora buscam joint ventures. O grupo chinês Fosun, que comprou uma participação na gestora Rio Bravo, busca áreas completamente novas, como hospitais, imobiliário e entretenimento.

Até a Didi Chuxing, espécie de Uber chinês e a maior do mundo em seu segmento, comprou a 99 Táxi em São Paulo, aproveitando os ativos baratos no país.

A persistente crise política brasileira aparentemente não provoca questionamentos na China. O país não mostra normalmente preocupação com assuntos internos dos parceiros. Apesar de queixas sobre a complexidade do sistema tributário, por exemplo, os chineses acham que podem operar corretamente no ambiente de negócios brasileiro.

"O que encontro nos investidores chineses é uma imensa disposição de investir no Brasil", relata o embaixador brasileiro em Pequim. "O que mais ouço aqui [na China] é detentores de capital e de serviços mais sofisticados dizendo que estão atrás de projetos no Brasil."

Caramuru destaca também a progressão da relação comercial. As exportações brasileiras para a China cresceram 33% este ano ante alta de 18% no mundo. As vendas para o mercado chinês alcançaram USS 30,7 bilhões entre janeiro e julho (24,3% do total exportado), o dobro do que o país vendeu para os EUA e o triplo do que foi para a Argentina.

Por sua vez, as importações procedentes da China aumentaram 11,5% ante alta de 7% do mundo inteiro. O Brasil comprou US$ 14,5 bilhões (17,3% do total importado no período), pouco milhões a menos do que importou dos EUA.

De um lado, o Brasil é um supridor essencial de alimentos para a China. Cerca de 50% da soja importada pelos chineses vem do Brasil, assim como 82% das importações de frango e 30% de carne bovina.

De outro lado, a constatação em Pequim é que, à medida que os investimentos no Brasil voltem a ter sinalização positiva, a capacidade da China de penetrar no mercado de bens e equipamentos no Brasil tende a ser maior do que a de outros países.

Ou seja, o fato de o Brasil ter penetrado no mercado de alimentos chinês criou vínculos sólidos. E quanto às importações brasileiras, a China aparece com mais capacidade de abastecimento e competitividade que os demais países, diz Caramuru. A visita de Temer, que tem boa relação pessoal com Xi Jinping, é vista com potencial de aumentar a confiança de investidores chineses.

Quanto a financiamentos chineses para o Brasil, o embaixador diz que "são fluidos" e estão acontecendo normalmente, ilustrando o incremento na relação bilateral.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4316, 10/08/2017. Brasil, p. A2.