Título: Planalto acalma evangélicos
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2012, Política, p. 6

Governo sinaliza que não pretende mudar a legislação sobre o aborto, apazigua os ânimos da bancada religiosa e deputados prometem dar "voto de confiança" à nova ministra de Política para as Mulheres

» Encarregado pela presidente Dilma Rousseff de acalmar os ânimos da bancada e do eleitorado evangélico, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, assegurou ontem a membros da Frente Parlamentar Evangélica que o governo não adotará nenhuma iniciativa para alterar a legislação que proíbe a prática do aborto no país.

Durante a reunião, que durou cerca de três horas, a bancada questionou a nomeação da nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, defensora da liberação do aborto. "A posição que o governo tem sobre o aborto ainda é a mesma que defendeu durante a campanha eleitoral, de não alterar a legislação", reforçou o ministro, ao transmitir o recado da presidente à ala evangélica do Congresso — a frente parlamentar é composta por 76 deputados e três senadores.

Carvalho ainda pediu "perdão" pela polêmica levantada com declarações que deu na última edição do Fórum Social, em Porto Alegre (RS), no fim de janeiro, quando afirmou que o Estado deveria fazer uma disputa ideológica pela chamada nova classe média, que estaria sob hegemonia das igrejas evangélicas. "Minha fala foi traduzida de forma equivocada", disse o ministro. "O governo considera as igrejas evangélicas como parceiras muitíssimo importantes. Vamos continuar trabalhando para melhorar o diálogo com esses setores", afirmou Carvalho, ao sair da reunião.

Presidente da frente parlamentar, o deputado João Campos (PSDB-GO) agradeceu o gesto de Carvalho em ir ao Congresso explicar suas declarações. Será, contudo, o posicionamento da ministra no debate da Organização das Nações Unidas sobre o aborto no Brasil que irá balizar o comportamento da bancada em relação ao governo, afirmou o deputado. "Estamos dando um voto de confiança a ela", afirmou Campos.

As declarações de Carvalho no Fórum Social geraram reações exaltadas entre os parlamentares evangélicos. Ontem, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) pediu para o ministro assinar um documento desmentindo a fala. Não foi atendido. "Perdoar é diferente de esquecer", disse Garotinho. Na semana passada, o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES) chamou o ministro de "safado" e, no plenário, disse que Carvalho deveria "lavar a boca com álcool" ao falar dos evangélicos.