Correio braziliense, n. 19738, 11/06/2017. Política, p. 4

 

Por trás do julgamento

Antonio Temóteo

11/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Para além do plenário, o refúgio dos ministros, fatos inusitados e um forte aparato de segurança marcaram os quatro dias de sessões

As 25 horas do julgamento mais importante da história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — que absolveu o presidente Michel Temer e a ex-presidente Dilma Rousseff dos crimes de abusos de poder político e econômico durante as eleições — foram intensas, como se viu nos jornais, sites e televisão. Mas, para além do plenário, fatos, no mínimo inusitados, marcaram os quatro dias das sessões. Nos bastidores, um exército de servidores e policiais foi mobilizado para garantir os trabalhos.

Antes dos debates serem travados no plenário, a principal preocupação dos ministros era que eventuais manifestações do lado de fora do complexo pudessem atrapalhar o andamento das sessões. Para evitar transtornos, quatro mil policiais militares e seguranças foram escalados para proteger o prédio. Fortemente armados e equipados com armaduras para combates corpo a corpo, os responsáveis por garantir a tranquilidade no local cercaram o TSE. Quatro centrais de comando móvel, montadas em ônibus da Polícia Militar, foram usadas para coordenar as atividades. Cachorros treinados farejaram cadeiras.

O gigantesco aparato de segurança foi necessário apenas para acalmar um único manifestante que se amarrou a uma placa de identificação na entrada da Corte. O rapaz tinha um adesivo colado no peito que pedia eleições diretas. Após uma hora de diálogo com os policiais, ele se desamarrou e foi embora a pé. No dia mais movimentado, algumas pessoas vestidas com roupas verdes e amarelas amarraram faixas no espaço reservado para manifestações.

Arredores

Sem tumulto nos arredores do TSE durante os quatro dias de julgamento, os momentos mais agitados ocorreram no primeiro subsolo. O espaço abriga os três plenários nos quais são decididos os milhares de processos eleitorais que tramitam na Justiça, três copas, o Museu do Voto e a galeria de ex-presidentes. Em um dos plenários, os jornalistas de veículos nacionais e estrangeiros acompanhavam atentos as manifestações dos ministros por meio de um telão montado especialmente para a ocasião.

Quatro servidores do setor de tecnologia da Corte Eleitoral foram destacados para liberar senhas de acesso à internet. Além deles, 25 prestadores de serviços terceirizados de limpeza e copa se reservaram diariamente para atender as necessidades de quem estava no local. Os visitantes nada habituais consumiram 30 garrafões de 20 litros de água, 80kg de pó de café e outros 80kg de açúcar. Além disso, sanduíches e salgados eram servidos aos ministros no espaço exclusivo para os magistrados, localizado atrás da bancada onde sentam os setes juízes.

Confusões

Quem ingressava no tribunal passava por uma revista por meio de um detector de metais e uma esteira com raio-X para inspecionar bolsas e mochilas. Uma segunda revista era feita antes do ingresso no plenário principal. Somente homens trajados de terno e gravata e mulheres com roupas sociais podiam acompanhar a sessão das poltronas vermelhas destinadas a advogados e visitantes. No primeiro dia, apenas 20 jornalistas puderam assistir aos debates em uma área montada atrás das cadeiras. Nas três sessões seguintes, todos os profissionais de imprensa credenciados foram autorizados a entrar no plenário. Mas o vaivém de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos continuou intenso, já que o prédio, inaugurado em dezembro de 2011 e projetado por Oscar Niemeyer, não possui tomadas entre as poltronas.

Além da confusão protagonizada pelo filho do ministro Napoleão Nunes, que foi barrado na entrada do plenário por estar vestido inadequadamente, um único protesto velado ocorreu durante o último dia de sessão. Uma mulher não identificada que se sentou na parte mais alta do plenário levantou um cartaz com a frase “É ditadura”. Acionados, dois seguranças da corte sentaram ao lado dela e explicaram que manifestações eram proibidas no local. Após um longo diálogo, ela deixou o plenário irritada.

Caravanas

Além dos jornalistas, caravanas de estudantes de direito passaram pelo plenário durante os quatro dias de sessão. Inquietos, os jovens aproveitaram para tirar fotos dentro do plenário, na galeria de ex-presidentes . Os mais assíduos, entretanto, eram os juristas especialistas em direito eleitoral. Uma delas, que preferiu não se identificar, afirmou que é essencial para quem atua na área acompanhar os julgamentos, já que as decisões do TSE são usadas frequentemente como base para as defesas dos clientes. “A atualização de jurisprudência é constante e, por isso, temos que estar aqui”, disse ela, que acompanhou todas os dias.

Apesar de o julgamento atrair a atenção de toda a classe política, foram poucos os parlamentares ou chefes de Executivo que passaram pelo local. O único a marcar presença em todos os dias de sessão foi o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ). O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM) também acompanhou o julgamento no primeiro dia de debates. O deputado Vicente Cândido (PT-SP) passou rapidamente no plenário, conversou com o advogado de Dilma, Flávio Caetano, e saiu rapidamente sem dar entrevistas.

Sem manifestações de vulto, sem gente do lado de fora do prédio, assim que acabou o julgamento, o aparato de segurança foi desmobilizado. E todos foram para casa.

25 horas

Foi o tempo total dos quatro dias de sessão do TSE

80kg

De café foram consumidos ao longo do julgamento

30 garrafões

de 20l de água foram usados pelos presentes no complexo

4mil

policiais e seguranças foram convocados para garantir a segurança